2008/01/05

O verdadeiro choque tecnológico

A impar de orgulho e, presume-se, de bacalhau com todos, o ministro da justiça, Alberto Costa, aproveitou o jantar anual na prisão de Linhó para anunciar a grande modernização do sistema prisional português. Finalmente (finalmente, disse ele), vamos dar início à substituição do "balde" nas celas portuguesas. Do balde de merda, queria ele dizer.

2008/01/04

Escândalo

Enquanto rumina as últimas fatias de bolo rei e se prepara já para gozar umas merecidas férias de Carnaval, o país é apanhado por uma notícia que, a ser verdadeira, constitui, quanto a mim, um escândalo das mais graves proporções.
Hoje o Público noticia em manchete que Berardo e mais uns quantos accionistas do BCP compraram acções e reforçaram a sua posição neste banco à custa de créditos concedidos pela CGD. A aprovação dessas operações de crédito foi feita por alguns dos elementos apontados para a nova administração do BCP.
Nada disto será ilegal, segundo o Público.
Mas, apesar de poder de facto não ser ilegal, se estas operações são, repito, verdadeiras (e os portugueses precisam de um esclarecimento muito claro do Governo sobre tudo isto JÁ!), elas indiciam uma situação de tal maneira grave que, parece-me, só poderá conduzir a medidas imediatas de emergência, incluíndo mesmo eventualmente eleições antecipadas.
Gostava que os defensores da intervenção do Estado no caso BCP --justificada com o argumento do peso do banco e do perigo que a sua prolongada crise representa para a nossa economia-- comentassem estes novos factos...
Ou Portugal perdeu definitivamente o tino ou vem aí um tsunami daqueles mesmo devastadores...

Uma boa notícia

O Rally Lisboa-Dakar foi cancelado. Pese a tristeza dos concorrentes e da organização portuguesa que trabalhou para a sua concretização, a anulação do evento alerta-nos para outras realidades que a política-espectáculo teima em esquecer. Agora teriam sido as ameaças terroristas que punham em perigo os concorrentes. Amanhã, serão outras as razões. Mais importante do que isso (até porque não houve vítimas), são os milhares de mortos que anualmente perecem em África por subnutrição. Uma vergonha para o continente e para a humanidade. Esse sim, é o problema que nos deve preocupar. Em vez de lamentar o falhanço de um evento ostentatório, que persiste em atravessar regiões dizimadas pela fome e pela doença, sem que nada traga de positivo às populações locais, devíamos repensar o que fazer com o dinheiro gasto no "rally". Talvez possam vender alguns carros e oferecer a receita a uma região carenciada. Aposto que dava para um ano de comida.

2008/01/02

Mensagem de Ano Novo

Os discursos de Ano Novo dos presidentes da república são, por natureza, inócuos e falhos de imaginação.
O de ontem, proferido por Cavaco Silva, não fugiu à regra. Claro que muito boa gente quis nele "ler" o que mais lhe convinha. É sempre sintomático ouvir as interpretações dos diversos líderes partidários e comentadores diversos sobre o tema. Uns vêem-no como crítico ao governo, outros como envergonhado na crítica...
O que mais me espantou, foi o presidente ter "questionado os rendimentos de altos dirigentes de empresas", para usar a definição de uma certa imprensa nacional. Fiquei na dúvida se ele (o presidente) se referia aos "rendimentos de altos dirigentes" ou aos "altos rendimentos dos dirigentes", que são coisas completamente diferentes como sabemos. Admito que se trata da segunda interpretação. Pessoalmente, não me choca nada que um dirigente (alto ou baixo) tenha um rendimento alto. Penso mesmo que a qualidade deve ser premiada. Também penso que a maioria desses dirigentes, que têm um rendimento alto, podem perfeitamente viver com metade do que ganham. Restam os rendimentos baixos (dos dirigidos altos e baixos). E é aqui que a porca torce o rabo. Porque é que os baixos rendimentos não podem ser mais altos?
Já sabemos que produzimos pouco e mal (a tal questão da "produtividade"). Mas, se a produtividade é baixa, como é que se explica que só os dirigidos ganhem pouco e os (altos) dirigentes ganhem salários altos? Ou não somos todos parte activa na tal produtividade? Portanto, das duas uma: ou produzimos pouco e alguém anda a viver acima das suas (nossas) posses; ou produzimos o suficiente e não se percebe porque é que há gente a ganhar tão mal....
Esta questão (que não é menor) faz-me sempre lembrar uma história que alguns asseguram ser verdadeira. Consta que, durante o famigerado PREC, um alto militar da Abril (não muito alto) teria visitado a Suécia, considerado um modelo e um exemplo a seguir pela nossa jovem democracia. Olaf Palme, ao tempo primeiro-ministro daquele país, quis saber quais as prioridades do MFA para Portugal: "Acabar com os ricos!", ter-lhe-ia respondido o capitão português, ao que Palme retorquiu: "Tem graça, aqui na Suécia, nós preferimos acabar com os pobres".
Ora aqui está uma boa mensagem para Cavaco usar em 2009.

2007/12/31

Para o ano há mais...

E pronto, terminou o ano. Ou quase. Dos objectivos traçados, poucos ou nenhuns foram (pelo governo) cumpridos. Salve-se o controlo do "déficit", conseguido à custa do aumento do IVA e dos impostos pagos pelos portugueses. Nas restantes áreas, os resultados são desanimadores: temos a terceira maior percentagem de desempregados da UE (8,2%); continuamos a crescer abaixo da média europeia (1,8%); o nosso rendimento per capita é o 19º da Europa a 27 (tendo já sido ultrapassados pelos novos membros, a Eslovénia, a República Checa e Malta); o nosso salário mínimo é o 11º dos 20 países onde este foi instituido; temos a maior disparidade de leques salariais (1 para 7); fomos o único país que desceu no "ranking" do PNUD e encontramo-nos agora em 29º lugar entre os 30 países mais desenvolvidos.
O analfabetismo estrutural é de 8% (a maior taxa da Europa) enquanto o analfabetismo funcional ultrapassa os 40%. Dos nossos empresários, só 25% têm mais do que o 9º ano. De acordo com o sistema de avaliação PISA, temos os piores resultados a matemática e ciências exactas em geral. A emigração voltou a aumentar (sinal de maior pobreza) e muitos dos imigrantes recém-chegados, partiram para Espanha ou regressaram aos seus países, por falta de trabalho em Portugal.
Nas grandes áreas, onde supostamente devia haver reformas, como a educação, a saúde, a justiça e a administração, reina a confusão deliberada e a incompetência. A ano e meio de eleições, não se prevêm grandes modificações e muito menos reformas estruturais, pelo que as perspectivas só poderão ser sombrias.
Como chegámos aqui? Dizem-nos que o mal é da (fraca) produtividade e que esta é determinada pela (in)capacidade em gerir valor acrescentado. Somos pouco competitivos e por isso a riqueza que gerimos não dá para distribuir melhor. Por isso é que o nosso salário mínimo é de 426 euros, enquanto no Luxemburgo é de 1570... Cá me queria parecer, isto está é mal distribuido. Calculem só: enquanto 10% dos portugueses detém 80% da riqueza nacional, dois milhões (20%) vivem no limiar da pobreza (com menos de 500 euros por mês) e mais de 200.000 abaixo desse limiar (os que são ajudados pelo Banco Alimentar). Uma chatisse, esta coisa das estatísticas...
Só resta desejar que 2008 seja melhor do que aquele que finda. Boas entradas!