2012/10/05

De pernas para o ar



Eduardo Galeano escreveu um livro chamado "De Pernas para o Ar". O livro relata um mundo onde o vício é virtude e a virtude é algo a abater. Exemplos que podiam ilustrar adequadamente este livro de Galeano abundam em Portugal. Este aconteceu ainda hoje de manhã.
A imagem de Natacha Cardoso é brutal. Alguns dizem que é o retrato do País. Não é, é o retrato de Cavaco Silva. "Muitos portugueses vêem-se em situações de grande dificuldade. Situações que os seus pais nunca conheceram e que eles próprios nunca julgaram que viriam a atravessar," disse Cavaco no discurso do 5 de Outubro que decorreu hoje em cerimónia clandestina. O discurso é impróprio de um Presidente da República.
De um Presidente da República esperar-se-ia uma posição activa, preventiva, crítica, viril, contundente. Cavaco é passivo, reactivo, acrítico, piegas e balofo. Cavaco é o primeiro responsável por este estado de coisas, mas dele se esperaria agora —esperaríamos nós todos, os Portugueses de quem ele é Presidente— contributo decisivo e eficaz para não deixar arrastar este processo de apodrecimento que ele iniciou, de que se queixa, mas que teima em manter activo.
Já estamos há muito habituados à falta de sentido de Estado e de verdadeira dimensão política dos agentes políticos portugueses, ao rasteirismo da sua postura, ao oportunismo ou à falta de estamina da sua actuação. Mas, também nessa medida, é preciso dizer basta!
"Nestas alturas, há o risco de nos deixarmos abater pelo desânimo e pelo pessimismo. De sermos assaltados por sentimentos de medo e de frustração. De incerteza quanto ao nosso futuro e quanto ao futuro dos nossos filhos," acrescentou distraído o presidente, pouco depois de, ao som do Hino Nacional, ter erguido a bandeira de Portugal ao contrário. Um presidente de pernas para o ar.

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