2023/02/06

"Pope in Rio"

A história é conhecida e conta-se em poucas palavras:

Em 2018, no Panamá, o nosso país candidatou-se a organizar as próximas "Jornadas da Juventude" em Lisboa, previstas para 2022.

Para surpresa de muitos (os que não sabem como estas coisas se fazem), Portugal ganhou a nomeação. Todos nos lembramos das reacções de júbilo do Presidente da República, presente nas jornadas latino-americanas, após o anúncio do nome de Portugal.

Seguiram-se as manifestações nacionalistas do costume: vinha cá o Papa, com ele viriam mais de 1 milhão de peregrinos, Lisboa seria o "centro" do Mundo durante uma semana e, o evento, traria dinheiro, muito dinheiro, como é habitual nestas coisas...

Começaram a ser programadas as diversas fases do evento. Primeiro, a escolha do lugar: esta recaiu sobre um espaço devoluto, ocupado por contentores, na zona fronteiriça entre Lisboa e Loures. Os presidentes de ambas as autarquias, ao tempo Fernando Medina (PS) e Bernardino Soares (PCP), não escondiam a sua satisfação: o primeiro por poder terminar a obra de requalificação da zona Oriental de Lisboa, iniciada com a Expo'98; o segundo, porque Loures, deixaria de ter contentores na Bobadela, que ocupavam aquele espaço desde a Expo. Foram feitas as fotos da praxe com o presidente da república, tendo por cenário um "outdoor" onde se anunciava o evento e voltaram todos para casa, contentes, já que faltavam 4 anos para as Jornadas e havia tempo...

Entretanto, pelo meio, surgiu a Pandemia Covid, que viria alterar a fase de planeamento. A Igreja, "compreensiva" como sempre, percebeu as dificuldades e concedeu um ano-extra de preparação. Aparentemente, estava tudo em ordem e deixou de falar-se nas "jornadas", excepção feita às reportagens televisivas que iam mostrando a Bobadela, "limpa" de contentores. 

Eis senão quando, a sete meses do evento, uma notícia do "Observador", veio revelar a maqueta idealizada para o palco-altar onde o Papa celebrará a missa principal. Mais do que o modelo proposto, foi o seu preço (5 milhões de euros + IVA) que escandalizou toda a gente. A coisa chegou aos telejornais e pior ficou quando o responsável pela coordenação do evento (o ex-vereador José Sá Fernandes), mostrou uma maqueta mais pequena, por ele aprovada, que custava metade do preço (!?).

A partir daqui, a história é conhecida. Há duas semanas que não falamos de outra coisa. Não fora a guerra da Ucrânia ou terramoto na Turquia, o assunto "palco" seria certamente "manchete" por muitos dias. Pediram-se explicações à igreja, ao presidente da república, às câmaras implicadas no processo, à construtora Mota Engil (responsável pela maqueta) e, inclusive, foi "convidado" um empresário de festivais (Álvaro Covões) para coordenar o evento. Só faltou mesmo, convidar a Medina (brasileira) organizadora do "Rock in Rio" em Lisboa...

Como é habitual nestas coisas, começou o "passa-culpas" (num país onde a culpa é de todos, a culpa não é de ninguém, não é verdade?). Nisso, somos especialistas. Carlos Moedas, qual "Presidente da Junta", já veio anunciar que, a partir de agora, será ele o responsável pelo evento. Entretanto, recomeçaram as reuniões, para reestruturar o projecto, com o fim de reduzir custos. De acordo com as últimas notícias, a Mota-Engil irá apresentar um plano mais barato, que dispensa a capela para o Papa rezar (notícia do jornal "Sol")

Esta história de (falta de) planeamento, lembra-me sempre uma anedota que se contava sobre o Inferno dos ingleses e dos portugueses. Os primeiros, encontraram-se com os portugueses e contaram-lhe o sofrimento em que viviam: "sofremos queimaduras terríveis, mergulham-nos em vinagre e atiram-nos com merda o dia inteiro. Como é o inferno português, já que vocês parecem sempre felizes?". Ao que o português respondeu: "É exactamente igual ao vosso, só que há dias em que não há fósforos, dias em que falta o vinagre e dias em que não há merda. Por isso, suportamos melhor o Inferno".  

Faz sentido: haverá Papa, mas não haverá capela.  

2 comentários:

Carlos Alberto Augusto disse...

SIga a dança! Haja alegria! Tristezas não pagam dívidas! Etc., etc., etc..

Carlos Alberto Augusto disse...

O título é um achado!!!!