2010/02/04

Os portugueses vêem-se gregos

Pelos vistos, não são apenas as "cassandras da desgraça" a apontarem o descalabro das contas públicas portuguesas. Depois das famigeradas agências de "rating", dos relatórios do FMI, da OCDE e da Eurostat, vem agora o comissário Almunia dar a má notícia: Portugal terá de aplicar a receita da consolidação orçamental da Grécia e com juros agravados, pois a situação do nosso país já só é comparável à dos PIIGS (gosto desta denominação) as economias mais débeis da zona Euro. A Grécia está mal, mas nós temos de pagar mais juros.
Nada que nos deva surpreender. Depois de dez anos de continuado "crescimento negativo", durante os quais a divergência de Portugal em relação à média europeia só aumentou, restava-nos sempre a Grécia como consolação. Com os gregos nunca nos sentíamos sós. Eles são, assim, uma espécie de irmãos na desgraça. Sempre em último nos "rankings" do progresso. A excepção, foi mesmo aquela final de 2004...

2010/02/02

Uma história mal contada

A notícia da alegada "censura" a Mário Crespo (MC) que há mais de 24horas faz parte do anedotário nacional, carece da confirmação que só poderia ser dada pelas testemunhas do ocorrido (admitindo que alguma coisa de grave ocorreu).
Ainda que não seja propriamente uma surpresa vermos um primeiro-ministro pressionar directores de TV para "calar" jornalistas incómodos, não me parece muito lógico que essa pressão tenha de ser feita num lugar público e em voz alta para que toda a gente ouvisse. A mesma pressão podia ter sido feita através do telefone ou no recato de um gabinete.
Admitindo que tudo o que Mário Crespo escreveu é verdade, ele devia saber que o contraditório era fundamental para ajuizar das suas acusações. Ora um artigo (ainda que de opinião) fundamentado em rumores, dificilmente passa o crivo de um jornalismo respeitável. Se o director do JN estava à espera de um argumento para censurar as suas crónicas, bastava-lhe este.
Por outro lado, de todas as personalidades presentes no dito almoço, MC não cita o nome do director do canal da TV abordado por Sócrates. Ficam, assim, algumas questões por responder:
Porque é que MC não revelou o nome da quarta pessoa presente (director da TV) nesse almoço?
Porque é que o director do JN não procurou indagar junto dos acusados a veracidade das acusações, exercendo o próprio jornal o seu contraditório?
Porque é que o governo, através de Jorge Lacão (um dos presentes no almoço) desvalorizou a questão afirmando que o governo não comentava calhandrices?
Verdade ou não, o afastamento de comentadores e jornalistas indesejáveis, começa a tornar-se uma tradição em Portugal: Marcelo e Moura Guedes na TVI, Marcelo na RTP e, agora, Mário Crespo no JN. Quem se seguirá?...