2015/09/30

Dez dias noutra cidade (2)

A par das inúmeras actividades e eventos que a cidade de Amsterdão oferece ao visitante, o "Open Monumentendag" (Dia do Monumento Aberto), constitui uma oportunidade única para visitar, gratuitamente, edifícios classificados que não fazem parte do circuito turístico da cidade. São edifícios ou complexos privados e públicos que, durante o segundo fim-de-semana de Setembro, são abertos à população e, onde, amáveis voluntários, devidamente identificados com uma t-shirt preta, fazem permanências diárias, prestam informações, vendem livros e postais e servem cafés e bolachas a quem o desejar...
Este ano, a municipalidade "abriu" 22 desses monumentos, que podiam ser visitados durante os dois dias do evento, sendo que nalguns casos era necessário marcação prévia, devido a afluência esperada do público.
Na impossibilidade de visitar todos, devido à distância a percorrer, optámos pelos mais próximos de casa, situados na zona Centro-Este da cidade.
Iniciámos a nossa visita pelas instalações da Marineterrein (Terreno da Marinha) um complexo construído em 1656 pelo Almirantado de Amsterdão. Da construção inicial, apenas restam o muro exterior, o edifício do porto e o portão original. Durante 250 anos, foram ali construídos os barcos da marinha de guerra holandesa. Em 1915, devido à falta de espaço, os navios passaram a ser construídos em Den Helder, no norte do país. Hoje, a maior parte das casernas que povoam o espaço, são utilizadas por serviços administrativos da marinha e, no jardim, ainda podem ser vistas diversas peças navais a lembrar os gloriosos tempos da armada neerlandesa.
Seguiu-se o Arcam, um edifício futurista, construído em 1986, onde funciona um centro de informação sobre a cidade e a sua arquitectura. Quatro andares, repletos de maquetas, desenhos e projectos sobre o aproveitamento lacustre de uma cidade construída sobre a água. De realçar a excelente biblioteca e loja, para além da zona creativa, onde as crianças podiam dar largas à sua imaginação através de construções na areia...
As "Foeliepanden" (os prédios Foelie) são uma série de prédios antigos, situados no antigo bairro judeu da cidade, onde existia uma grande e animada comunidade de comerciantes. Com a deportação e morte da maioria dos seus habitantes durante a 2ª guerra, o bairro perdeu os seus habitantes originais e os prédios foram abandonados. Dos que restam, a "Stadsherstel" (Recuperação Citadina) iniciou a restauração de alguns prédios, que podem ser agora visitados na sua traça original.
Seguiu-se o edifício "Burcht van Berlage" (Castelo de Berlage), definitivamente o ponto alto destas visitas. Um imponente e sólido edifício, da autoria do famoso arquitecto H. P. Berlage, onde desde 1900 funciona o mais antigo sindicato holandês (lapidadores de diamantes). Uma obra magnífica, de paredes forradas a tijolo branco e amarelo e decoradas ao estilo Arte Nouveau. O páteo interior, iluminado por candeeiros de ferro forjado, é rodeado por íngremes escadarias que conduzem a salas revestidas a madeira negra, onde se destacam pinturas e cartazes alusivos ao movimento sindical no século XX. Através do telhado envidraçado e dos inúmeros vitrais que decoram o edifício, podem ainda ser apreciados os pormenores da construção onde tudo, desde o mobiliário aos puxadores de portas, tem a mão de Berlage. Um verdadeiro "castelo", a que não falta uma torre, construída num dos ângulos do edifício, ainda que não acessível ao público.
Porque estávamos perto, não perdemos a oportunidade de visitar a esplanada do Zoo, aberta ao público, onde celebrámos a "pausa cultural" com uma não menos apetecível tarte de maçã adequada ao ambiente.
O dia não terminaria sem uma visita ao Hall da antiga Remise de Eléctricos de Amsterdão, situada na zona Oeste da cidade. Um espaço, anteriormente utilizado como terminal e oficina de carros eléctricos, que há dois anos foi totalmente recuperado e onde hoje funcionam lojas, restaurantes, bares, salas de cinema de arte e um hotel.  Um projecto arrojado e bem integrado numa zona depauperada da cidade, ainda que sujeito a pressões imobiliárias inerentes a este tipo de construções.
Depois de um dia preenchido por emoções, só podíamos ambicionar o descanso. Esperava-nos uma cerveja branca de malte, acompanhada por uma magnífica sandes de salmão do Alasca, única forma de recuperar do cansaço...      

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