2016/04/30

Taxi Uber Alles

Então, para onde vamos?
- Para a Rua de S. Bento, mesmo lá no fim, ao pé do Parlamento...
Oh diabo, isso não vai dar...
- Pois, hoje está difícil... estava a ver que não conseguia táxi.
Não sei se conseguiremos lá entrar, mas vamos até ao largo do Rato e depois logo se vê...
- Até ao Rato, já é bom. Depois, desço o resto da rua de S. Bento a pé...
Isto, hoje, não há táxis para ninguém...
- Pois, já percebi, mas, afinal, explique-me lá o que é isso da Uber, pois nunca andei num carro dessa empresa.
 A Uber, é uma empresa ilegal, que não cumpre a lei e paga impostos na Holanda...
- Não cumpre a lei? Mas, isso é possível?
Claro... os carros não andam identificados, o senhor não pode mandar parar um na rua, mas se tiver uma aplicação no seu telemóvel, pode chamar um carro deles pelo telefone... eles mandam-lhe um carro particular, com chauffeur, mas sem taxímetro...
- Sem taxímetro? E como é que eu sei quanto devo pagar?
O preço é calculado em função da distância. Eles calculam o preço para si e comunicam quanto tem de pagar. Tem de fornecer o número do seu cartão de crédito e, depois, o valor da corrida, é-lhe retirado da conta bancária...
- Estou a ver... e passam facturas?
Só se o senhor quiser... mas, as facturas são electrónicas, em nome da sede da empresa, que é na América...
- Sim, já tinha percebido que era uma empresa americana, mas penso que, na Europa, a sede é na Holanda, certo?
Não, não, a empresa é americana e os impostos são pagos na Holanda...
- Então, qual a diferença entre um táxi normal e um táxi Uber?
A Uber diz que eles não são táxis normalizados, mas uma plataforma de serviços. Prestam serviços, entre os quais o transporte de passageiros.
- Para todos os efeitos, são vossos concorrentes...
Pois são, mas o problema não é a concorrência, é a diferença perante a lei.
- Então?
Para já, os carros deles são carros de "leasing" e não pagam os mesmo impostos de circulação. Depois, não estão identificados, os chauffeurs não pagam alvará e licença de táxi como nós, não têm taxímetro e não têm seguro de passageiros. Se têm um acidente, as companhias de seguro não pagam aos passageiros...
- Se é assim, isso é uma concorrência desleal...
Pois é, por isso é que os meus colegas estão em greve. Contra a discriminação de que somos alvo...
- Mas, eu oiço as pessoas dizerem que são bem tratadas pelos chauffeurs da Uber e que os carros deles são maiores, mais modernos e mais limpos...
Isso tudo, pode ser verdade, mas a lei é diferente... Aquilo é uma multinacional que não está sujeita às mesmas leis do mercado... Ora, isso é que está mal. Eles que cumpram a lei e que paguem os impostos em Portugal, como nós.
- Estou a perceber... então é quase como os "tuk-tuks", sem lei nem roque...
O senhor não me fale dos "tuk-tuks"... isso é uma praga... fazem o preço que querem, levam um preço por cabeça e as pessoas que querem no carro...se eu levar mais de 4 pessoas ou uma criança ao colo, sou logo multado... se fôr um carro da Uber ou um "tuk-tuk", pode levar 4 ou 5 pessoas, pedem 10euros por cabeça, para irem da Praça da Figueira ao Castelo e, quando chegam lá cima, são 50 euros no total. Se forem de táxi, são 5 euros pelo mesmo percurso.
- Mas, isso é uma "bagunça", completa. E, ninguém controla essas práticas?
Isso queremos nós. Mas, há dois anos que andamos nisto e nada se resolve...
- Mas, eu ouvi esta tarde, o presidente da Assembleia da República dizer que os recebeu e prometeu resolver a situação. Até criaram uma comissão para estudar o assunto... 
Está a ver? Mais uma Comissão para estudar o assunto. Para quê? Toda a gente sabe que, quando criam uma comissão é para adiar a solução. Não vão resolver nada, como é costume...
- Já estamos no Rato, veja lá se pode avançar...
Vamos até à Rua da Imprensa e depois tenho de deixá-lo lá. Já vi que está tudo barrado pela polícia.
- Bom, ficamos aqui, então. Obrigado pelas informações.

5 comentários:

Carlos A. Augusto disse...

Vamos todos fazer greve e marcha lenta às empresas portuguesas que pagam os impostos na Holanda...? 'Bora?!

Rui Mota disse...

Marcha lenta, não diria, mas deixar de comprar produtos no Pingo Doce ou no Continente, não seria má ideia...

Rui Mota disse...

Já agora, o artigo "O passado e o falso futuro nos táxis" nos "Ladrões de Bicicletas", é bastante claro sobre esta polémica: ou estabelecem-se regras iguais para todos (a lei é para cumprir);ou liberaliza-se o mercado e, no limite, uma qualquer multinacional pode tomar conta do mercado.É uma opção.

Carlos A. Augusto disse...

O artigo referido do Ladrões de Bicicletas está no noticiário do Twiter, já agora.

cardeira disse...

É preciso tirar das ruas os milhares de taxis impróprios para circular. É preciso obrigar os taxistas a facturarem todas as viagens. É preciso retirar o alvará aos taxistas que insultam os clientes.
Entretanto a Uber, as Uber, tomarão naturalmente conta do mercado que os governos terão que regulamentar adequadamente. Parte dos actuais taxistas irão paulatinamente passar-se para as Uber. Outra parte vai para o desemprego "tecnológico". E uma outra vai agredir os taxistas da Uber, furar os pneus, etc.
No meio tempo, a meia dúzia de donos dos milhares de alvarás vai continuar a encher os bolsos à custa dos milhares de taxistas que não têm táxi.