2016/05/02

Sem família

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A "crise dos refugiados" tem um lado que terá escapado à atenção de muitas pessoas. Escapou à minha certamente.
Há um grupo, em particular, que chega à Europa em número surpreendentemente elevado, constituído por crianças que viajam sem família. Pare por um momento e pense: crianças, sozinhas.
O assunto não é de hoje, mas parece-me importante trazê-lo aqui porque, se o número inicial de refugiados já era assustador e a percentagem de crianças era elevada, passados cinco anos, esse número continua, segundo informação recente, a crescer de forma dramática. Também o número de crianças sozinhas aumenta, naturalmente.
Um relatório da UNICEF fala no caso especial da Síria. Serão, desde o início da crise, 2,4 milhões de crianças refugiadas. À Alemanha teriam chegado, no ano passado, mais de mil crianças sem familiares. No final do ano passado teriam chegado já cerca de 17 000. À Suécia chegavam semanalmente cerca de 700 crianças desacompanhadas, por semana. Muitas destas crianças são vítimas dos traficantes, são conduzidas para a prostituição, todas deixaram a escola, todas são vítimas da desestruturação das suas famílias. Muito poucas terão um futuro "normal".
Imagine o leitor que decidia emigrar. Imagine que o fazia para procurar melhores condições económicas. Imagine a carga emocional que esse simples facto — em si, e, apesar de tudo, ditado por um motivo positivo — traria para a sua família.
Imagine agora que o fazia por viver num cenário de guerra. Imagine que o fazia levando consigo os seus filhos. Imagine que a guerra o separava da sua família. Imagine agora os seus filhos a fugirem sozinhos para um destino desconhecido. Talvez à sua procura. Apenas com a garantia de que não ver ter, jamais, um futuro "normal".
Mais um problema a somar ao das crianças sem documentos, nascidas de pais refugiados, consideradas, portanto, apátridas.
Se calhar, a imagem que acompanha este post (cujo autor não consegui identificar e a quem peço antecipadamente desculpa pelo eventual uso abusivo da imagem) parecer-lhe-á oportunista, porventura lamecha, quiçá mesmo demagógica.
Números da Unicef, apenas referentes ao ano passado, indicavam que entre os requerentes de asilo nas Europa, 214 000 eram crianças. Um em cada quatro não tinha família.
O Homem quer chegar a Alfa Centauro em menos de 50 anos. Para já, no ano de 2016, é assim. Sem fim à vista...

3 comentários:

Rui Mota disse...

Enquanto não houver uma política comum nos países de acolho e uma estratégia comum dos aliados, no cenário de guerra, nada feito. O drama vai continuar, perante a indiferença (e interesses) da política e a impotência dos envolvidos nas operações de resgate. Um drama sem fim à vista, com desfecho imprevisível (ver, a este respeito, a entrevista do 1º ministro húngaro este fim-de-semana, onde diz que quer fechar a Europa a estrangeiros...).

Unknown disse...

É uma tragédia sem fim à vista. Vamos à Lua, vamos a Marte, mas ainda não inventámos um meio de melhorar o coração da humanidade.

Carlos A. Augusto disse...

Talvez resida aí, no chegar primeiro ao coração da humanidade, a solução para conseguirmos viajar facilmente pelo cosmos...