2009/01/10

Já tinhamos percebido...

De acordo com o mais recente relatório económico da OCDE, as "finanças portuguesas têm dificuldade em fazer projecções económicas correctas". Já tinhamos percebido.

2009/01/07

O problema de Gaza visto por Fernando Nobre

Grito e choro por Gaza e por Israel Fernando Nobre (do Blog Contra a Indiferença)

Há momentos em que a nossa consciência nos impede, perante acontecimentos trágicos, de ficarmos silenciosos porque ao não reagirmos estamos a ser cúmplices dos mesmos por concordância, omissão ou cobardia.
O que está a acontecer entre Gaza e Israel é um desses momentos. É intolerável, é inaceitável e é execrável a chacina que o governo de Israel e as suas poderosíssimas forças armadas estão a executar em Gaza a pretexto do lançamento de roquetes por parte dos resistentes (“terroristas”) do movimento Hamas.

Importa neste preciso momento refrescar algumas mentes ignorantes ou, muito pior, cínicas e destorcidas:
- Os jovens palestinianos, que são semitas ao mesmo título que os judeus esfaraditas (e não os askenazes que descendem dos kazares, povo do Cáucaso), que desesperados e humilhados actuam e reagem hoje em Gaza são os netos daqueles que fugiram espavoridos, do que é hoje Israel, quando o então movimento “terrorista” Irgoun, liderado pelo seu chefe Menahem Beguin, futuro primeiro ministro e prémio Nobel da Paz, chacinou à arma branca durante uma noite inteira todos os habitantes da aldeia palestiniana de Deir Hiassin: cerca de trezentas pessoas. Esse acto de verdadeiro terror, praticado fria e conscientemente, não pode ser apagado dos Arquivos Históricos da Humanidade (da mesma maneira que não podem ser apagados dos mesmos Arquivos os actos genocidários perpetrados pelos nazis no Gueto de Varsóvia e nos campos de extermínio), horrorizou o próprio Ben Gourion mas foi o acto hediondo que provocou a fuga em massa de dezenas e dezenas de milhares de palestinianos para Gaza e a Cisjordânia possibilitando, entre outros factores, a constituição do Estado de Israel..

- Alguns, ou muitos, desses massacrados de hoje descendem de judeus e cristãos que se islamisaram há séculos durante a ocupação milenar islâmica da Palestina. Não foram eles os responsáveis pelos massacres históricos e repetitivos dos judeus na Europa, que conheceram o seu apogeu com os nazis: fomos nós os europeus que o fizemos ou permitimos, por concordância, omissão ou cobardia! Mas são eles que há 60 anos pagam os nossos erros e nós, a concordante, omissa e cobarde Europa e os seus fracos dirigentes assobiam para o ar e fingem que não têm nada a ver com essa tragédia, desenvolvendo até à náusea os mesmos discursos de sempre, de culpabilização exclusiva dos palestinianos e do Hamas “terrorista” que foi eleito democraticamente mas de imediato ostracizado por essa Europa sem princípios e anacéfala, porque sem memória, que tinha exigido as eleições democrática para depois as rejeitar por os resultados não lhe convirem. Mas que democracia é essa, defendida e apregoada por nós europeus?

- Foi o governo de Israel que, ao mergulhar no desespero e no ódio milhões de palestinianos (privados de água, luz, alimentos, trabalho, segurança, dignidade e esperança ), os pôs do lado do Hamas, movimento que ele incentivou, para não dizer criou, com o intuito de enfraquecer na altura o movimento FATAH de Yasser Arafat. Como inúmeras vezes na História, o feitiço virou-se contra o feiticeiro, como também aconteceu recentemente no Afeganistão.

- Estamos a assistir a um combate de David (os palestinianos com os seus roquetes, armas ligeiras e fundas com pedras...) contra Golias (os israelitas com os seus mísseis teleguiados, aviões, tanques e se necessário...a arma atómica!).

- Estranha guerra esta em que o “agressor”, os palestinianos, têm 100 vezes mais baixas em mortos e feridos do que os “agredidos”. Nunca antes visto nos anais militares!

- Hoje Gaza, com metade a um terço da superfície do Algarve e um milhão e meio de habitantes, é uma enorme prisão. Honra seja feita aos “heróis” que bombardeiam com meios ultra-sofisticados uma prisão praticamente desarmada (onde estão os aviões e tanques palestinianos?) e sem fuga possível, à semelhança do que faziam os nazis com os judeus fechados no Gueto de Varsóvia!

- Como pode um povo que tanto sofreu, o judeu do qual temos todos pelo menos uma gota de sangue (eu tenho um antepassado Jeremias!), estar a fazer o mesmo a um outro povo semita seu irmão? O governo israelita, por conveniências políticas diversas (eleições em breve...), é hoje de facto o governo mais anti-semita à superfície da terra!

- Onde andam o Sr. Blair, o fantasma do Quarteto Mudo, o Comissário das Nações Unidas para o Diálogo Inter-religioso e os Prémios Nobel da Paz, nomeadamente Elie Wiesel e Shimon Perez? Gostaria de os ouvir! Ergam as vozes por favor! Porque ou é agora ou nunca!

- Honra aos milhares de israelitas que se manifestam na rua em Israel para que se ponha um fim ao massacre. Não estão só a dignificar o seu povo, mas estão a permitir que se mantenha uma janela aberta para o diálogo, imprescindível de retomar como único caminho capaz de construir o entendimento e levar à Paz!

- Honra aos milhares de jovens israelitas que preferem ir para as prisões do que servir num exército de ocupação e opressão. São eles, como os referidos no ponto anterior, que notabilizam a sabedoria e o humanismo do povo judeu e demonstram mais uma vez a coragem dos judeus zelotas de Massada e os resistentes judeus do Gueto de Varsóvia!
Vergonha para todos aqueles que, entre nós, se calam por cobardia ou por omissão. Acuso-os de não assistência a um povo em perigo! Não tenham medo: os espíritos livres são eternos!

É chegado o tempo dos Seres Humanos de Boa Vontade de Israel e da Palestina fazerem calar os seus falcões, se sentarem à mesa e, com equidade, encontrarem uma solução. Ela existe! Mais tarde ou mais cedo terá que ser implementada ou vamos todos direito ao Caos: já estivemos bem mais longe do período das Trevas e do Apocalipse.
É chegado o tempo de dizer BASTA! Este é o meu grito por Gaza e por Israel (conheço ambos): quero, exijo vê-los viver como irmãos que são.

2009/01/06

Crescimento Negativo

De acordo com o governador do Banco de Portugal, o insuspeito Constâncio, Portugal entrou oficialmente em recessão.
Ou seja, a economia portuguesa deixou de crescer há dois trimestres consecutivos o que, tecnicamente, equivale a uma situação de recessão. Nas palavras de Constâncio, a economia portuguesa teve uma "contracção" de 8%.
Ainda de acordo com os dados do Banco de Portugal, o crescimento da economia portuguesa atinge apenas 0,3%, comparativamente aos 1,4% verificados em Outubro. Em jargão económico estamos, por isso, a assistir a um "crescimento negativo".
Crescimento negativo? Ou cresce ou decresce. Se não cresce, diminui. Certo? Alguém que me explique o que é isto do "crescimento negativo" porque, para "língua de pau", já basta a do primeiro-ministro.

A Oeste nada de novo

O primeiro-ministro deu mais uma entrevista na televisão.
As perguntas foram as esperadas: aquelas que os portugueses mais fazem.
As respostas, as esperadas: aquelas que o primeiro-ministro vem dando há anos a esta parte.
Ou seja: a vida dos portugueses não melhorou nos quatro anos que este governo leva, mas Sócrates diz que não há alternativa, pois a crise é estrutural (leia-se internacional).
Uma coisa, no entanto, ele admitiu: Portugal vai mesmo entrar em recessão (já estávamos à espera), o que só piorará a situação actual (menos crescimento, menos exportações, mais desemprego, mais pobreza e, lá mais para a frente, talvez mesmo deflação).
Outra coisa ele deixou no ar: Sócrates vai candidatar-se a mais um mandato, mas não explicou como vai governar caso não obtenha a maioria absoluta: em minoria, em coligação (com quem?) ou desistir (como Guterres e Barroso no passado).
Esta é, provavelmente, a questão mais interessante e que os portugueses gostariam de saber. Também para saberem se vale, ou não, a pena votar nele. Mas, ainda não foi desta...

2009/01/04

Um gueto sem saida

Menos de vinte e quatro horas depois do início da operação israelita em território de Gaza, começam a surgir as reacções previsíveis em conflitos semelhantes na região. De um lado, os defensores de Israel, que justificam todo e qualquer ataque contra os palestinianos (independentemente das razões e consequências que estas acções punitivas possam ter) com o argumento que os provocadores são sempre o Hamas; do outro, os apoiantes da causa palestina que (independentemente, das barbaridades cometidas pelos fundamentalistas islâmicos) vêem em tudo quanto de mal lhes acontece, a mão israelita.
Confesso que tenho cada vez mais dificuldade em tomar partido por qualquer das posições, já que sei (sabemos todos) que há bons e maus argumentos de ambos os lados e nenhum dos opositores tem a razão única neste conflito.
Alguns princípios começam, no entanto, a ser aceites pela maioria dos analistas e que me parecem pertinentes:
Israel, para o bem e para o mal, é um estado criado e reconhecido há 60 anos e tem, por isso, direito à existência em tanto que país independente. Os palestinianos, têm direito a um estado igualmente independente que, de resto, foi reconhecido em 1947. Ou seja, ambos os povos têm direito ao seu país, sendo que o maior problema do lado dos sucessivos representantes palestinianos tem sido o reconhecimento do estado israelita em tanto que tal (e daí os ataques sucessivos dos países árabes em 1948, 1967 e 1973); e, do lado israelita, a recusa em entregar os territórios ocupados nas sucessivas guerras, continuando com a construção de colonatos na Cijordânia e obrigando os palestinianos a viverem em verdadeiros guetos dentro dos seus próprios territórios. É esta intransigência, de ambos os campos, que vem justificando a chegada ao poder das forças mais extremistas no campo israelita e no campo palestiniano: a do Likud e dos movimentos judeus de extrema-direita em Israel e a do Hamas e dos fundamentalistas islâmicos em Gaza. Sempre que o Hamas ataca Israel, as forças fundamentalistas judaicas fortalecem-se e ganham argumentos para a guerra; sempre que Israel ataca e destrói cidades palestinianas, o Hamas ganha em popularidade. Não será diferente desta vez e os "falcões" dos dois movimentos terão com que se entreter nos próximos dias (os analistas da guerra já dizem que poderão ser semanas). Dias, ou semanas, o balanço será sempre negativo. O número de vitimas civis em ambos os campos será sempre demasiado; a devastação física de cidades e infraestruturas vitais para o bom funcionamento da sociedade (hospitais, por exemplo) nunca será compensada e, no fim, o ódio permanecerá mais vivo que nunca. Para recomeçar tudo outra vez, daqui a uns anos...
O plano defendido por Edward Said e, posteriormente, recuperado por Amos Oz (uma federação/dois estados, ou dois países/fronteiras comuns) esteve prestes a concretizar-se, mas a morte prematura de alguns dos seus defensores (Sadat e Rabin) às mãos de fanáticos fundamentalistas islamistas e judeus, atrasou o processo histórico em curso.
Uma coisa é certa: não parece que a guerra (esta guerra) vá resolver a situação; como, de resto, as guerras anteriores não resolveram. A solução terá sempre de ser política. Infelizmente, não descortinamos em nenhum dos governos, palestinos ou israelitas actuais, figuras com capacidade para tal.
Há quem ponha a esperança no próximo presidente americano. A avaliar pelas suas declarações sobre o conflito não parece que dali venha algo de construtivo...