Disputam-se hoje as eleições americanas, já consideradas as mais disputadas e, para alguns, as mais importantes da história dos Estados Unidos.
Não sabemos se assim é, mas uma coisa é certa: um dos concorrentes (Donald Trump) já afirmou não acreditar no resultado eleitoral (!?), enquanto um dos seus principais apoiantes (Stephen Bannon), afirmou que a primeira coisa que Trump deve fazer, é declarar vitória, antes de saber os resultados (!?). Sobre democracia, na primeira democracia do Mundo, estamos conversados.
Nada que surpreenda, num país onde, para além de todas as conquistas e feitos dos últimos oitenta anos (e foram muitas!), o seu lado mais "negro" foi sempre uma constante, dentro e fora das fronteiras. Um política, baseada na doutrina do "pau e da cenoura", onde os aliados são avaliados em função da vassalagem ao modelo liberal (leia-se "mercado livre"), que permite o negócio puro e duro, independentemente de princípios ou ideologias. Há quem lhe chame "Real Politik". Quem a pratica, recebe a recompensa (a cenoura); quem não concorda, é penalizado (com o pau). Uns "democratas", os americanos...
Sobre Bannon, sabemos que é um apoiante do movimento Alt Right e que foi assessor de Trump na Casa Branca, donde sairia após os acidentes racistas de 12 de Agosto de 2017 em Charlotteville (Virgínia), causados pelos movimentos "KKK", "Supremacia Branca" e "Golden Boys", conhecidos pelas suas teorias racistas e de "substituição". O caso provou grande polémica a nível internacional, após o que Bannon se refugiou na Europa, tendo sido acolhido pelo governo italiano de Salvini. onde se dedicou a organizar e a financiar uma internacional europeia de extrema-direita (neo-fascista), com vista a influenciar as eleições europeias de 2019. Este período, está amplamente documentado no filme "The Brink", da realizadora Allison Klayman (2019) exibido no Festival DOCs de Lisboa, em 2020. Pode ser visionado no Youtube, contra o pagamento da módica quantia de $5. Muito educativo. É este mesmo Bannon, entretanto condenado e preso por fraude e peculato, durante a campanha das eleições intercalares americanas de 2018 que, libertado a semana passada, quer declarar à priori a "vitória" de Trump. Para quem tinha dúvidas...
Não quer isto dizer que não existam democratas e defensores acérrimos de uma democracia que, justamente, se orgulha dos princípios que defendem a sua Constituição. Existem e representam cerca de metade dos votantes. Para o bem e para o mal, estes votos estão corporizados na candidata do partido democrata, a liberal Kamala Harris, ainda que esta definição seja, para um europeu, algo diferente daquela que defendem os americanos. Difícil? Talvez não. Afinal, Harris, a democrata, defende a pena de morte, a lei das armas que lhe permite ter um revólver em casa (para o caso de ser assaltada...), que afirma defender a solução de dois estados para o problema da Palestina, enquanto aprova o envio de armas para Israel e não tem uma palavra de solidariedade para com o povo palestiniano. Sobre a NATO e a guerra comercial com a Europa e a China, não se lhe conhece uma ideia ou visão consistente. Uma liberal, vá...
Para um europeu como eu (que não pode votar nas eleições americanas), a decisão pertence aos cidadãos americanos. Já as consequências desta votação, terão impacto em todo o Mundo, pelo menos no chamado "Mundo Ocidental". Só amanhã, saberemos. Enquanto esperamos, faço minhas as palavras de Noam Chomsky: "ainda que os europeus pensem que há dois partidos na América, Republicanos e Liberais, isso não é verdade. Só há um partido: o partido do Capital".
Mais claro, era impossível.