2025/05/20

Reflexões pós-eleitorais (2)

ANTRAM :: Autoestrada A14 cortada

Os resultados eleitorais de domingo continuam a dominar a discussão pública. 

Não chega apontar o dedo aos fascistas, passe a redundância. 

A esquerda (seja o que isso for) tem de fazer uma introspecção séria sobre os modelos que defende, se quer sair do atoleiro em que está metida. A responsabilidade é geral, mas há uns mais culpados que outros, como o PS (que governou Portugal 21 dos últimos 30 anos). 

É o que acontece aos partidos da chamada "3º via" que, de tantas concessões à direita, acabaram engolidos por esta: Blair, Schorder, Hollande, Guterres, Pasok grego, PSI italiano, PvDA holandês. Tornaram-se irreconhecíveis, definharam e estão à beira da extinção.  

Porque tudo se tornou mais parecido e os principais problemas das pessoas continuam por resolver (3 em cada 5 portugueses não conseguem pagar as suas contas) os mais desesperados (e iletrados) votam no populismo fascista. É dos livros e está a acontecer um pouco por toda a Europa. 

Se, como se prevê, o próximo secretário-geral do PS, vier a ser José Luís Carneiro, a aproximação ao centro-direita continuará e, com esta, a continuação do "bloco central de interesses". Ou seja, a oposição do PS tenderá a desaparecer e será entregue ao Chega que, com os votos da emigração, será o 2º partido mais votado. 

É isto que querem?

Uns tristes, estes políticos pequeninos, sem qualquer visão de estado ou sequer a coragem de Sanchez (PSOE) que ousou condenar a política genocida de Israel e reconhecer o estado palestiniano. 

Se alguma coisa, os resultados eleitorais mostraram, é a falta de visão geral, onde os eleitores votaram num primeiro-ministro sem ética e num partido liderado por um populista facho. 

Têm o que escolheram.

2025/05/19

Resultados Eleitorais: E agora?

Como era expectável, a direita foi de novo a grande vencedora destas eleições, agora de forma ainda mais significativa. 

Terminou um ciclo governativo, dominado pelo PS durante oito anos, que os socialistas (por erros próprios e por intervenções externas) acabariam por perder. 

Mas não foi só o PS que perdeu (ainda que aumentando a sua votação). Toda a esquerda, à excepção do LIVRE, perdeu e, desta vez, de forma significativa. Uma catástrofe.  

Já à direita, apesar da vitória da AD, o grande vencedor da noite seria o CHEGA, que capitalizou a insatisfação de largos extratos da população, nomeadamente dos jovens, estes mais deslumbrados com a linguagem populista do candidato. Quanto à IL, manteve-se dentro das percentagens previstas, dessa forma contribuindo para o reforço do bloco de direita, que continua maioritário na AR.

Perante os resultados de ontem, começaram a "rolar cabeças" à esquerda, a primeira das quais foi a do secretário-geral do PS, o grande derrotado de noite. Seguir-se-ão outras (Mariana Mortágua?) agora que o BE ficou reduzido à sua expressão mais ínfima (1 deputado) e onde se percebe que são necessárias caras e soluções novas. 

Resta a contagem de votos da emigração (4 deputados) que poderá não alterar significativamente a composição governamental, mas poderá alterar a composição da Assembleia de República, onde 2/3 dos votos são suficientes para alterar a própria constituição. 

Entretanto, hoje, o PR iniciará as habituais audições com os partidos, com vista à nomeação do próximo governo, uma tarefa que não se afigura fácil.  Desde logo, porque a AD não tem uma maioria para governar e, depois, porque uma aliança à direita (CHEGA) não parece viável a acreditar no "não é não" de Montenegro. Com a IL, essa aliança poderia acontecer, mas Rui Rocha recusou liminarmente ir para um governo minoritário. 

Restam, aparentemente, duas soluções para governar: o prolongamento de um governo da AD minoritário, sujeito a moções de rejeição que, a médio termo, conduziria ao derrube do governo e novas eleições, que ninguém deseja; um governo da AD (apoiado tacticamente pelo PS), de forma a assegurar uma legislatura completa e uma maior estabilidade. No entanto e para que esta segunda hipótese se concretize, é necessário o PS eleger um novo secretário-geral mais reformista (José Luís Carneiro?)  que possa fazer a "ponte" com a AD.  Já o Chega, não entrando nesta equação, poderá ser a "chave" do futuro governo, na medida em que o número de deputados (58), é suficiente para apoiar ou derrubar o governo. Conhecendo Ventura, um "cata-vento" sem princípios, é de esperar tudo e o seu contrário. 

Uma última palavra sobre a abstenção (36%) que parece não ter afectado a votação na direita, como era esperado. Já na emigração, o caos seria total, seja por impossibilidade de votar nos consulados, seja por entrega tardia dos boletins de voto por correspondência (Londres). Mais de 60 000 portugueses foram impedidos de votar na capital inglesa! Como é possível tal "bagunça"? Dolo ou incompetência? 

Finalmente: falou-se pouco ou nada da política externa de Portugal durante a campanha. Um silêncio ensurdecedor. Não será por isso que os problemas desaparecerão. O crescimento económico já diminuiu no primeiro trimestre, a inflação continua acima dos 2%, a dívida pública aumentou e vêm aí mais despesas. A maior despesa será no sector da defesa, com um aumento previsto de 2% para 5%, caso a proposta de Mark Rutte seja aprovada na próxima cimeira da NATO em Junho. A confirmar-se tal percentagem, isso representará para Portugal algo como 15 000 milhões de euros/ano para despesas militares. Porque o dinheiro não nasce das árvores, esta verba terá de sair de algum lado: ou de um empréstimo europeu (que terá sempre de ser pago) ou do dinheiro dos contribuintes (através de impostos). Em qualquer dos casos, não é preciso ser vidente para saber onde serão feitos os próximos "cortes" orçamentais: obviamente no "estado social" (saúde, educação, habitação), que tenderão a ser privatizados, como desejam todos os neoliberais da nossa praça. 

Prognóstico (necessariamente pessimista): a vida para a maior parte dos portugueses vai piorar, mas as escolhas foram dos votantes. Agora, é tarde para mudar.