2025/05/17

Reflexões Necessárias



Pedem-nos para reflectir, antes de depositar o voto na urna.

É assim, de todas as vezes que há eleições em Portugal, ainda que nem todos os países observem este ritual. Penso, aliás, que a esmagadora maioria dos eleitores portugueses sabe perfeitamente em quem não votará. 

Confesso que nunca necessitei de um dia de intervalo para saber em quem não voto. Já nos partidos em quem poderei votar, é cada vez mais difícil. Dito de outro modo - posso não saber em quem vou votar desta vez, mas, uma coisa eu sei: em que não votarei.

Dizem-nos as últimas sondagens que o nível de abstenção andará pelos 15%. É possível. Sendo assim, qualquer dos grandes partidos (AD ou PS) poderá, teoricamente, ganhar as eleições, uma vez que a diferença estimada, entre ambos, é de 8 pontos percentuais.

Porque um deles, voltará a ganhar amanhã, será esse o indigitado pelo presidente da república a formar governo. A grande questão é saber se teremos de novo um governo minoritário ou uma maioria parlamentar, constituída por mais de um partido, pois disso dependerá a duração da legislatura.   

Caso vença de novo a AD, como a maioria das sondagens prevê, dificilmente terá maioria absoluta. Nesse caso, necessitará sempre do apoio de um partido à direita (IL) ou à esquerda (PS), para poder governar por mais quatro anos. 

Fora desta equação parece estar o CHEGA que (a acreditar no primeiro-ministro em funções) será alvo de um "cerco sanitário", por razões ideológicas. Isto não significa que o partido fascista não tenha influência na governação, uma vez que poderá apoiar uma maioria parlamentar para chumbar o orçamento.

Todas estas contas estão a ser feitas pelos partidos e pelo presidente da república, que veio apelar ao "bom senso" (ele que ajudou a derrubar dois governos!) e avisar para a impossibilidade de convocar eleições nos próximos três meses, a partir dos quais a constituição impede o presidente em exercício de convocar um novo acto eleitoral. 

Felizmente, que estive ausente durante a chamada "campanha de rua" (vulgo arruadas), que pouco ou nada acrescentaram ao panorama conhecido, salvo os habituais "banhos de multidão", que os "caudillos" nacionais tanto apreciam. Um modelo ultrapassado, onde a repetição das promessas e dos  "clichés" apregoados pelos  mesmos actores de há um ano, poderá revelar-se fatal. Deste cansaço eleitoral (3 eleições legislativas em 4 anos) se falou e continuará a falar nos próximos tempos, mas nada parece afastar os decisores políticos da única coisa que parecem saber fazer: promessas que raramente cumprem.

Pior do que o modelo, foi a falta de ideias para o país já que ninguém parece ter uma estratégia para 10 ou 15 anos. Como resolver o problema da saúde, que se arrasta há décadas? Como resolver o problema da habitação, para o qual ninguém parece ter um plano? Como resolver os problemas da educação, que os aumentos salariais dos professores apenas adiaram? Como resolver o problema da imigração, que veio para ficar e foi um tema central nos debates? Onde ir buscar o dinheiro, pedido pela UE e pela NATO, para reforçar a defesa e a indústria de armamento? Porque é que um tema como o de Gaza e a política de genocídio levada a cabo por Israel, esteve sistematicamente ausente nos comícios, entretanto realizados? Como nos posicionamos em temas internacionais fundamentais, como a política tarifária dos EUA, a dependência de fontes de energia ou as alterações climáticas? 

Nada disto foi aprofundado na campanha que, na prática, durou três meses (desde que o governo caiu devido à moção de confiança) e onde os principais temas foram o caso "Spinumviva" de Montenegro e os "refluxos gástricos" de Ventura. Junte-se a estes "items", a luta pelo título do campeonato nacional de futebol e temos, "grosso modo", uma ideia do que realmente preocupa a generalidade dos portugueses. 

Sendo assim, pouco ou nada há a esperar de muito diferente na noite de domingo. Ganhe quem ganhar estas eleições, as políticas de fundo continuarão adiadas e, por conseguinte, os problemas manter-se-ão. Com a ilusão de que alguma coisa está a acontecer. Depois, não se queixem...