2024/07/26

A insustentável leveza da hipocrisia


Há tempos, corria por aí um abaixo assinado reclamando a exclusão de Israel dos Jogos Olímpicos. Não sei qual foi o número final de assinaturas, mas na altura que o assinei eram já muitas dezenas de milhar. Este abaixo assinado era apenas uma das muitas manifestações visando a exclusão de Israel dos JO.

Confesso que nunca mais me lembrei do assunto. Mas hoje a curiosidade levou-me a tentar confirmar o que se passa no domínio das exclusões. Israel foi autorizado a participar, depois de ter liquidado (tenho a certeza que de forma pouco desportiva) centenas de atletas palestinianos.

Quando fui confirmar a lista de países participantes (já que pela transmissão da televisão essa informação não pareceu clara) veio nova surpresa: a Rússia e a Bielorússia foram banidas dos JO2024. A alternativa engendrada pelo COI foi a de convidar atletas dos dois países, a título individual, com o estatuto de Individual Neutral Athletes, com bandeira e hino próprios. Isto depois de passarem uma série de complicadíssimos testes. De apenas 60 atletas convidados, uns meros 15 aceitaram o vexame. Habitualmente, as delegações destes países incluem centenas de atletas, entre eles alguns dos mais valorosos nas respectivas modalidades. 

A delegação israelita inclui o atleta Peter Paltchik, "que assinava bombas lançadas contra os palestinianos com a frase “de mim, com prazer”". Hoje lá estava uma delegação israelita e uma delegação palestiniana, a passar na bizarra cerimónia de abertura no Sena. Russos e ucranianos não poderão competir em paz e em espírito desportivo.

Que ganhem os melhores.

Assim vai o mundo...


2024/07/25

O carniceiro de Telavive

Se dúvidas houvesse sobre para que lado pende o poder americano, seja qual for, na questão da Palestina, basta ver o acolhimento dado ao Netanyahu no congresso americano, ontem e o desvelo com que foi saudado. Dir-se-ia que uma vasta maioria aplaudiu o facínora de pé.

Bastante significativo o desplante dele ao criticar os pouquíssimos congressistas que tiveram a coragem de se manifestar contra o carniceiro de Telavive, exibindo pequenos cartazes com o título que afinal lhe assenta melhor: war criminal. Sabe-se também que 70% dos israelitas o quer fora do poder e muitos acham que esta visita ficou aquém das expectativas, no que respeita à situação dos sequestrados.

E para quem tenha ilusões sobre a próxima eleição dos gringos e ao que a Kamala vem, saibam os mais incautos que não deixa de ser particularmente significativo que ela se tenha apressado a manifestar ontem contra manifestantes que tiveram coragem de chamar a Netanyahu o que ele é: um criminoso de guerra. Hoje, para completar o ramalhete, houve encontro entre ela e o nazi israelita (também com Biden e Trump). Diz ela que não ficará em silêncio perante o que se passa em Gaza. O que raio quererá isto dizer? Vai-se juntar aos manifestantes pró-Palestina a quem hoje ralhou? 

Por cá, faz dó ver alguns portugueses a vibrar com a nova candidata, como se se tratasse de política local e a Kamala fosse a nova Wonder Woman.

Basta!