2025/01/25

Imigrantes: "bodes-expiatórios" de más políticas

Emigrantes portugueses já a bordo de navio, dirigindo-se para o Brasil... |  Download Scientific Diagram

Os recentes acontecimentos no Martim Moniz relançaram o debate sobre a imigração. Não há cara nem careto, que não se pronuncie sobre o tema, ainda que as opiniões expressas pouco ajudem à clarificação do problema, que data de longe e continua sem ser solucionado.  

Que a direita conservadora e tradicional faça suas as bandeiras da extrema-direita, já é grave e acontece um pouco por toda a Europa. Que os sociais-democratas (vulgo socialistas) entrem neste jogo perigoso, é deplorável. O relativismo começa a tomar conta destas mentes paternalistas, de tal forma que, às tantas, já nem se percebe bem o que defendem. Afinal, a Lei existe, para quê?   

Obviamente que os partidos do poder (PS, PSD, CDS) sempre ignoraram um problema latente há décadas e que nunca foi resolvido: o acolhimento de imigrantes e a sua integração na sociedade portuguesa. Esta situação é (parcialmente) explicável pelo facto de sermos tradicionalmente um país de emigrantes e só há pouco tempo sermos (também) um país de imigrantes. Ou seja, não há um histórico recente de acolhimento e integração de imigrantes pobres, pela simples razão de Portugal ser um país pobre e pouca gente querer imigrar para cá. As pessoas pobres emigram para países ricos.

De resto, muitos destes recentes imigrantes são asiáticos (oriundos de ex-colónias britânicas) e, até há pouco tempo, utilizavam Portugal como "escala" para o Reino Unido. Isto quando os britânicos faziam parte da União Europeia. Com o Brexit, esse estatuto privilegiado terminou e muitos deles ficaram por aqui. 

É verdade que existe um "boom" de imigração, o que dificulta a sua integração, mas pouco foi feito para minorar o problema. Na origem, está a crónica má organização dos portugueses (somos bons a criar, péssimos a gerir) e nesta, como em outras áreas, o caos é gritante (veja-se a saúde, a educação ou a habitação, para citar três exemplos). Dito de outro modo: se os governos (todos, sem excepção) não conseguem resolver os principais problemas nacionais, como esperar que resolvam os problemas dos imigrantes pobres? Neste campo, e após oito anos de governação, o PS não tem desculpa, pelo que a auto-crítica de Pedro Nuno Santos (relativa aos anos de Costa), faz algum sentido. Algum, porque PNS esteve lá todo aquele tempo e é, no mínimo, cúmplice da "bagunça" instalada no SEF.  

Mas, não chega, claro. Há que demarcar-se da direita-extrema. Nesse sentido, a sua entrevista ao "Expresso", não ajuda a clarificar as ideias. Já chega de tantas cautelas. Assuma-se, pois não vai ter muito tempo para isso. O tempo urge e os imigrantes não podem (nem devem) ser moeda de troca.

foto - Emigrantes portugueses já a bordo de navio, dirigindo-se para o Brasil (início do século XX). Carla Mary S. Oliveira

2025/01/21

Trump ou o regresso do Fascismo

Agora que Trump foi empossado e disse ao que vinha, anda meio-Mundo a vociferar contra o programa (i)liberal, que alguns comentadores, "bem-comportados", teimam em apelidar de "populista". Na realidade, não há nada de novo aqui, dadas as intenções manifestadas pelo mesmo presidente americano, na campanha de 2016. 

Ou seja, liberalizar ao máximo a economia, na esperança de que o "mercado" regularize a lei da oferta e da procura (para que todos possam ganhar com isso...), diminuir os impostos, aumentar as taxas de importação e regressar a um modelo de industrialização, abandonado no século XX, que permitiu à China tornar-se a segunda potência económica mundial e o principal competidor comercial dos EUA. De preferência "sem guerras", já que Trump, um homem de negócios, prefere o lucro ao sangue, bastando vender armas às ditaduras mais abjectas do planeta, para que a América seja grande de novo (!?).  Dado que não tem escrúpulos, nunca se interrogará sobre a natureza dos regimes com quem faz negócios, segundo o conhecido provérbio "olha para o que digo, não olhes para o que faço". Um biltre.

Uma vez que o poder imperial americano assenta na força económica e militar, pensa que bastará ameaçar o Canadá, o Panamá ou a Groenlândia, para que estes países se curvem e aceitem as propostas ridículas que fez, pois sabe que, numa negociação, pode sempre obter vantagens. Resta acrescentar, que tais declarações, não só foram completamente recusadas pelos países visados, como ainda existem leis e tribunais  internacionais, onde estas questões são, normalmente, derimidas. Mas, que importância tem isto, para um narcisista patológico, cujo ego é maior que o país que dirige?

Ao mesmo tempo, arranjam-se bodes expiatórios internamente, para sossegar os apoiantes em caso de fracasso, como os imigrantes ilegais, as mulheres, os muçulmanos ou os asiáticos que, ao que consta, "comem cães e gatos, em Springfield". Um tarado, não diria melhor. É esta egocêntrica figura, vencedor das eleições norte-americanas, que irá governar metade do Mundo nos próximos quatro anos. Mas, não está sozinho desta vez. Com ele, os oligarcas mais poderosos do país que, de tão ricos, já têm direito a um lugar na Casa Branca. Lá estavam também alguns (poucos) convidados europeus, como a reciclada fascista Meloni e o envergonhado Ventura. De fora, ficou o palhaço Bolsonaro, a quem confiscaram o passaporte. Pior, era impossível. 

Estamos, pois, a assistir ao regresso do fascismo, agora apoiado por corporações e oligarcas das novas tecnologias (Bezos, Musk, Zuckerberg), já que as "botas cardadas" caíram em desuso. No fundo, o fascismo não é mais do que uma das faces do capitalismo. Quando o lucro do capital não chega (nunca chega!) começa-se por destruir as conquistas sociais dos trabalhadores ou emprega-se a força (a violência é uma das componentes do fascismo) para obter dividendos. 

Ditadores, sempre existiram. O que parece não existir é uma "esquerda" digna desse nome que, de há décadas a esta parte, se demitiu do seu papel transformador, para passar a gerir o chamado "capitalismo de rosto humano" (a chamada "3ª via" de Blair, Schoder, Hollande, Zapatero, Kok, Sócrates...), com os resultados conhecidos. Quando o neoliberalismo actual (iniciado com Reagan e Thatcher) deixou de precisar destes "socialistas de salão", descartou-os ou, na melhor das hipóteses, comprou-os com sinecuras que garantem uma reforma dourada. Veja-se a triste figura que Costa anda a fazer na Europa, ao lado da prussiana que dirige a UE.

Sim, Musk fez ontem a saudação nazi, reproduzida em todas as pantalhas do planeta. Como já tinha elogiado Hitler, interferido na política alemã (ao apoiar o partido neo-nazi do AfD) e criticado a política actual do governo britânico. O mesmo fez Steve Bannon, que fez a saudação nazi ao receber o filho de Bolsonaro e que também faz, frequentemente, Ventura, ainda que de modo mais "envergonhado"... São todos populistas. Mas, também são fascistas e já sabemos como estas coisas acabam: primeiro levam os imigrantes, depois os sindicalistas, mais tarde os comunistas e, quando já não há quem nos defenda...