Yi-Fu Tuan é um autor americano de origem chinesa que admiro desde há muito. Aqui há algum tempo escrevi uma curta nota no meu blog pessoal sobre este geógrafo, verdadeiramente, sui generis e sobre os seus ensinamentos. Tuan mantém um secção no seu site intitulada Dear Colleague Letters, leitura que recomendo vivamente a todos.
Pois, na última Letter, Tuan conta-nos o episódio que ocorreu em Chicago de um fulano que apanhou um táxi do aeroporto de Midway para casa. A corrida perfazia 28.25 dólares e ele estendeu-lhe 40 dólares que incluiam 11.75 dólares de gorjeta, dizendo-lhe "$11". O motorista terá entendido que ele queria os 11 dólares de troco, devolveu-lhe essa quantia e ele, cansado e sonolento, recebeu-a distraidamente. Só no dia seguinte percebeu que lhe tinha dado apenas 75 cêntimos de gorjeta, o que o terá deixado especialmente incomodado porque o motorista lhe tinha dado uma enorme ajuda com a quantidade de bagagem que ele tinha.
Não se lembrava do nome do motorista, nem sequer do nome da companhia de táxis. Mas, lembrava-se do número do táxi. E, assim, facilmente localizou o motorista em questão. E porque é que ele se lembrava do nome do táxi? Porque tempos antes tinha-se esquecido da carteira num outro táxi. O motorista desse táxi localizou-o, telefonou-lhe e devolveu-lhe a carteira, recomendando-lhe que tomasse sempre nota do número do táxi em que viajava porque dessa forma seria mais fácil localizá-lo se houvesse algum problema. Tuan pergunta "o que se passa aqui? Um motorista de táxi que oferece conselhos valiosos. Um passageiro que se preocupa a ponto de desviar o seu caminho para dar uma gorjeta que considera justa..."
Aqui há bastantes anos, lembro-me que fiquei sem gasolina na autoestrada Cascais-Lisboa. Deixei o carro parado e comecei a andar a pé em direcção a uma bomba de gasolina, com a minha mulher e o meu filho (que teria 2-3 anos na altura) e viajavam comigo. Alguns metros à nossa frente parou uma carrinha. O motorista, saiu e perguntou-me se precisava de ajuda. Disse-lhe o que tinha acontecido, que ia levar a minha mulher ao trabalho e o filho à escola e que tinha ficado sem gasolina. Pois esta criatura desviando caminho e dando uma longa volta por Lisboa, levou a minha mulher ao emprego, o meu filho à escola, foi comigo a uma bomba de gasolina e voltou ao local onde o meu carro tinha ficado. Enquanto eu lhe agradecia ainda estupefacto, ele dizia-me com uma enorme simplicidade que aquilo não era nada, que tínhamos de ser uns para os outros. A lição, acreditem, ficou marcada para sempre.
Não haverá certamente outro ponto de contacto entre Chicago e Lisboa senão aquele está contido na pergunta final que Tuan faz na sua última Letter: "Quanta bondade humana será necessária a uma qualquer sociedade para, não só, sobreviver, mas também florescer?"
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