Que o homem é um "gangster" já toda a gente sabia. Bastava ler a sua biografia e o modo como enriqueceu. Um "chico-esperto", na gíria local. Acontece, que os "chico-espertos" só chegam a determinadas posições, ajudados por outros, normalmente mais influentes ainda. Chama-se a isto patrocinato e consiste na troca de favores destinados a manter o poder recíproco, segundo a velha fórmula "faço-te uma oferta que não podes recusar" (D. Corleone). A partir daí, é sempre a subir...
Até que um dia se descobre a "tramóia" e é o cabo dos trabalhos. Foi o que aconteceu agora. Dadas as imparidades existentes na maioria dos bancos portugueses (quatro dos quais foram à falência, provocando um "rombo" de 20.000 milhões na economia portuguesa!), alguém se lembrou de publicar a lista de devedores da Caixa Geral de Depósitos, da qual fazia parte, em lugar de destaque, o "comendador" Joe Berardo. Como tudo isto aconteceu, é fácil de perceber: o homem (Joe para os amigos) pedia dinheiro emprestado aos bancos, com o qual comprava acções dos mesmo bancos, as quais serviam de caução para novos empréstimos, e assim por diante. Ou seja, o dinheiro nunca faltava, as dívidas aumentavam e o "comendador", levava uma vida de "lord". Mais, devido ao respeito que lhe tinham, agraciaram-no com uma "comenda" (porquê?) e até lhe cederam um espaço (museu Berardo) no CCB, onde está exposta a sua colecção de arte (avaliada em 800 milhões de euros) em regime de "comodato". Para além disso, o estado português comprometeu-se a doar 500 milhões de euros/ano, durante dez anos, à Fundação Berardo, para que esta pudesse renovar a sua colecção. É o que se chama um negócio leonino.
Agora que o homem foi confrontado com o arresto dos seus bens por dívidas aos bancos, viemos a saber (pelo próprio) que ele - pessoalmente - não deve nada a ninguém (!?). Isto, porque quem deve é a Fundação Berardo e outros organismos que, entretanto, foram sendo criados, em nome dos quais ele comprava as acções e pedia os empréstimos. O estado pode processar a Fundação e fazer um arresto dos bens desta, menos os quadros, que não podem ser considerados bens da Fundação, dado estarem emprestados ao estado...
E agora? Mesmo que Joe seja preso (o que duvido), temos de perceber que a sua ascensão e aceitação pelo "jet set" nacional, só foi possível dadas as relações de subserviência e bajulação que os "pares" lhe prestaram. Políticos e banqueiros. Os mesmos que, depois de terem "acreditado" no "comendador", exigem agora o seu dinheiro de volta. Se não o recuperarem, ninguém irá preso por má gestão. Pelo contrário, continuarão alegremente a prevaricar e a enriquecer, agora através de uma taxa, cobrada aos depositantes, pelo uso do Multibanco. A máfia lusitana, em todo o seu esplendor.
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