Retomo a ideia que tentei desenvolver no texto que intitulei Recobro Ortográfico... Algumas vozes amigas contestam (infelizmente não consegui que o fizessem sob a forma de um comentário que seria bem mais útil) a ideia de que estaremos, sem nos darmos disso conta, a assistir ao nascimento de mais um crioulo com esta introdução tosca de anglicismos no nosso discurso quotidiano. O português, alertam estas vozes, é, ele próprio, um "crioulo" resultante do latim e da "globalização" moderna resultará um inevitável processo da "barbarização" do inglês, como da "globalização" romana nasceu um latim bárbaro.
Não questiono o efeito dos mecanismos que envolvem os processos de globalização, de ontem e de hoje, e não duvido dos perigos que rodeiam o português no contexto de um tal processo. O que contesto aqui é a ideia de inevitabilidade. Como se estivéssemos já condenados a uma extinção inexorável. Ora, justamente a "evitabilidade" desta extinção anunciada é que vem tornar claro a importância da língua. Falar português neste mundo global é a afirmação, não só, de uma realidade linguística única, mas também da possibilidade de nos reinventarmos como povo. Esse é o desafio, que ultrapassa qualquer projecto de cariz nacionalista bacoco. Assistir sem luta ao processo de degenerescência da Língua Portuguesa é, pois, mais do que um simples problema do domínio da linguística, a admissão clara de uma tendência suicida.
Vamos ver quem tem a última palavra...
1 comentário:
Ok, Carlos, vamos então assentar ideias, em jeito de público desabafo para alimentar uma discussão que possa contribuir para nos retirar a todos do ghetto da apatia em que nos querem colocar:
«É preciso não esquecer que o português advém do latim
bárbaro, sendo um resultado da colonização romana, e parece-me
inevitável que com a globalização iremos acabar todos a falar "inglês
bárbaro", pelo que o português é já uma "língua em vias de extinção"
(pode demorar ainda algum tempo, é certo, mas...) e com estas
políticas cada vez haverá menos portugueses a viver em Portugal... Sem
esperança no futuro próximo quem é que quer e pode ter filhos? (Poderá
não tardar que as vagas de imigrantes, à semelhança do que sucedeu com
os albaneses no Kosovo, levem a que qualquer dia reclamem uma parcela
do território). É por isso que se o governo quisesse ser consequente
com a sua colocação ao serviço do poder económico, deveria também
defender a extinção do português por decreto (o que talvez só não faça
porque, por enquanto, é uma medida "politicamente incorrecta"). E,
devo confessar que sou mais favorável a esta medida do que ao famoso
"acordo luso-brasileiro". Mas, também devo admitir que o governo foi nesta
matéria coerente com a política global que tem seguido: colocou-se ao
lado do mais forte (neste caso, o Brasil).»
Um abraço
Marco Clino
P.S. (não confundir com o ex-Partido Socialista, que apesar de ainda conservar o nome mudou de natureza nos últimos anos): Para avaliar a política de um governo, devemos medir os resultados económicos em termos de rendimento per capita e não há dúvida que os ricos ficaram sobejamente mais ricos e os pobres e a classe média cada vez mais depauperados.
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