imagem retirada daqui
Os poderes nacionais já ultrapassaram a fase de nos querer convencer de que é preciso um novo aeroporto em Portugal e de que ficaremos inevitavelmente afastados da "Europa" sem estas duas faraónicas obras. Quando falo em poderes englobo todos: Governo, oposições, comunicação social, parceiros socio-económicos.
Ambas estas obras são consideradas dados adquiridos e o que se discute são a localização e o traçado.
No entanto vale a pena lembrar que a Ota e o TGV são obras que inegavelmente vêm ao arrepio do afirmado esforço de contenção de despesas públicas (como se soube recentemente este esforço tem sido mais efectivo no campo das despesas de investimento do que nas de consumo corrente, as quais continuaram a crescer).
Então porquê todo este afã em levar para diante estes projectos?
A coisa prende-se com o modelo de desenvolvimento que queremos para o nosso país. Até agora o sector da construção civil é uma espécie de barómetro do que cá se passa: quando o sector está em crise, o país está em crise; quando está próspero o país está na maior e as pessoas optimistas. A gente habituou-se a viver assim...
No entanto é um sector que, do ponto de vista do produto que fabrica (casas, prédios, pontes, estradas) não é, em grande parte, reprodutivo: as casas servem para habitar e não são factores de produção. São-no indirectamente as vias de comunicação; directamente só as instalações fabris.
Como se sabe a construção civil vive actualmente uma época de crise, em que o parque habitacional já é excessivo para as necessidades, o que acarretou descidas significativas das margens, até agora tantas vezes especulativas.
O Governo teria agora a grande hipótese de separar águas: deixava o tão incensado mercado funcionar, não deitava a mão ao sector, as empresas não lucrativas morreriam por si; o que necessariamente implicaria a deslocação de pessoas e capitais para outros sectores. Safar-se-iam as empresas que se projectaram no mercado externo e fazem, com os seus técnicos e a sua tecnologia, obras noutros países, e as que se adaptassem ao mercado menos atractivo (dá mais trabalho, exige maior especialização e sensibilidade e não produz lucros tão elevados), mas agora tão urgente, do restauro das centenas de milhar de habitações degradadas (tantas delas património que urge não deixar morrer) e a precisar de intervenção.
Está-se mesmo a ver isto acontecer em Portugal!
O problema até nem reside tanto no grave abalo social que isto acarretaria: centenas de falências, milhares de desempregados a onerar ainda mais o parco pecúlio da Segurança Social.
E os autarcas e cliques respectivas? E os partidos políticos que compõem os orçamentos com os sacos azuis?
Vamos devagarinho nisso da escolha de um modelo de desenvolvimento mais exigente em termos de qualificação das pessoas e da tecnologia.
Por agora, venham as Otas, que ainda é tempo de otários.
Ambas estas obras são consideradas dados adquiridos e o que se discute são a localização e o traçado.
No entanto vale a pena lembrar que a Ota e o TGV são obras que inegavelmente vêm ao arrepio do afirmado esforço de contenção de despesas públicas (como se soube recentemente este esforço tem sido mais efectivo no campo das despesas de investimento do que nas de consumo corrente, as quais continuaram a crescer).
Então porquê todo este afã em levar para diante estes projectos?
A coisa prende-se com o modelo de desenvolvimento que queremos para o nosso país. Até agora o sector da construção civil é uma espécie de barómetro do que cá se passa: quando o sector está em crise, o país está em crise; quando está próspero o país está na maior e as pessoas optimistas. A gente habituou-se a viver assim...
No entanto é um sector que, do ponto de vista do produto que fabrica (casas, prédios, pontes, estradas) não é, em grande parte, reprodutivo: as casas servem para habitar e não são factores de produção. São-no indirectamente as vias de comunicação; directamente só as instalações fabris.
Como se sabe a construção civil vive actualmente uma época de crise, em que o parque habitacional já é excessivo para as necessidades, o que acarretou descidas significativas das margens, até agora tantas vezes especulativas.
O Governo teria agora a grande hipótese de separar águas: deixava o tão incensado mercado funcionar, não deitava a mão ao sector, as empresas não lucrativas morreriam por si; o que necessariamente implicaria a deslocação de pessoas e capitais para outros sectores. Safar-se-iam as empresas que se projectaram no mercado externo e fazem, com os seus técnicos e a sua tecnologia, obras noutros países, e as que se adaptassem ao mercado menos atractivo (dá mais trabalho, exige maior especialização e sensibilidade e não produz lucros tão elevados), mas agora tão urgente, do restauro das centenas de milhar de habitações degradadas (tantas delas património que urge não deixar morrer) e a precisar de intervenção.
Está-se mesmo a ver isto acontecer em Portugal!
O problema até nem reside tanto no grave abalo social que isto acarretaria: centenas de falências, milhares de desempregados a onerar ainda mais o parco pecúlio da Segurança Social.
E os autarcas e cliques respectivas? E os partidos políticos que compõem os orçamentos com os sacos azuis?
Vamos devagarinho nisso da escolha de um modelo de desenvolvimento mais exigente em termos de qualificação das pessoas e da tecnologia.
Por agora, venham as Otas, que ainda é tempo de otários.
9 comentários:
O investimento em obras faraónicas, num país como Portugal, onde existem dos índices mais baixos de desenvolvimento europeu (na educação, na formação, na qualificação, no rendimento per capita, na saúde, na justiça, etc.) só pode ser explicado pela necessidade que o poder (leia-se partidos políticos) tem em fazer obra para encher o olho (do pacóvio). Mas há outros factores. Desses, o mais importante, é o de alimentar as clientelas políticas (empreiteiros, construtores, especuladores imobiliários, bancos) que, a troco de favores, fazem favores aos partidos. São eles que pagam as campanhas dos partidos políticos (nomeadamente dos partidos do centro) que governam o país há 30 anos...
Dito de outra forma: o mal não é construirem outro aeroporto ou um TGV; o mal é os sucessivos governos não apostarem na maior riqueza de um país, que são as pessoas. Porque é que não gastam dinheiro na formação e qualificação dos portugueses? Ou na saúde, ou na justiça? Essa é a questão. Uma pergunta retórica, como sabemos.
Ou porque não gastam abertamente na cultura!
Não é só o futebol que merece formação, exportação de talentos.
Mas, diz hoje o Reverte no DN "cultura é saber que o avião cai e não gritar quando acontece." Nós aqui andamos a gritar mesmo antes do avião levantar vôo...
A questão da escolha do modelo de desenvolvimento passa por optar entre um país de desqualificados a viver acima das suas possibilidades e, como os dois comentários anteriores bem expressam, a aposta "na maior riqueza de um país, que são as pessoas". Desde os governos de Cavaco que se coloca com urgência esta questão. Que o Cavaco e todos os outros a seguir tanto menosprezaram, apesar das profissões de fé e dos credos na educação e na formação. O busilis está em que os resultados deste tipo de políticas só se vêem uma década depois; nenhum líder está para fazer isto com medo de perder as eleições seguintes.
O drama é que os momentos-chave para resolver este tipo de problemas não abundam; a Irlanda teve o seu, com a entrada em força dos fundos comunitários e aproveitou-o. Nós, com Cavaco no poder, aproveitámos para distribuir dinheiro por instituições, professores, departamentos e funcionários estatais e mesmo formandos. Houve poucos formados; em compensação houve muitos que se aboletaram com as prebendas. E, dum modo geral, ficámos tão ignorantes como antes.
Mas outro momento de ouro se apresenta agora, em que toda a malta sente que as coisas têm de mudar. Dificilmente haverá melhor altura.
Pois é, mas a educação dum povo começa em tenra idade. Enquanto os educadores forem vistos como aqueles que "guardam o rebanho" de criancinhas e os pais (tal como o Estado)se demitirem, cada vez mais, de os educar, não há disciplina que prevaleça para que no futuro vivamos num país em que a "Chica-esperteza" não impera
Isto é como a maior Árvore de Natal da Europa. Não passamos de um país de Cinhas Jardins, onde o verniz é mais importante que as próprias unhas :/
PS: Desculpem-me a ousadia mas acho que que, uma vez que este blog já tem "comments moderation", o "word verification" é de todo dispensável. É que, para um dislexica como eu, isto é chato como o raio ;)
O "word verification" é um procedimento do Blogger. Não podemos fazer nada para o suprimir. É útil porque, se não forem usados processos como o "word verification" circulam por aí uns programinhas marotos que aproveitam para meter mensagens pouco apropriadas nos blogs honestos, como é o caso do Face Oculta... :-)
Que isto não tolha, no entanto, o ímpeto dos nossos leitores para comentar!
Mas afinal estamos a falar de quê?
Do novo aeroporto? dos lobis da construção civil? do modelo de desenvolvimento para o país?
Preferia recentrar a discussão no aeroporto e no modelo de desenvolvimento implícito.
Não tenho dúvidas de que precisamos de reavaliar a sua funcionalidade.
Parece óbvio que um aeroporto concebido em 1942 esteja obsoleto, sobretudo se lhe associamos valências tão diversificadas como o transporte de passageiros, de mercadorias e de militares.
Claro que temos que mudar. Ser mais competitivos e mais eficazes, é o modelo de desenvolvimento.
A questão da construção civil, aqui é secundária, vamos é saber qual o projecto económico associado ao(s) novo(s) aeroporto(s). Ota ou noutro sítio (o que eu preferiria)
Abandonemos no Restelo o síndroma de rejeição à novidade.
Vamos exigir que se invista com racionalidade. Vamos exercer o nosso direito de cidadadania, é essa a luta que me interessa.
Quero saber qual a melhor opção, já que estou a pagar...
Carlos A. Augusto,
Mas uma vez que vocês já têm "Comment moderation", acho que esta supressão do "word verification" poderia agilizar o trabalho dos comentadores ;)
PS: É só uma sugestão pois na vossa casa quem mandai sois vós :)
Peço desculpa mas quando digo que não conseguimos suprimir a tal história do "word verification" é porque não conseguimos mesmo alterar o "word verification"! Está metido no software, não há possibilidade de o modificar. A única hipótese seria mudar do Blogger para um outro qualquer desses serviços que dão a possibilidade de criar blogs, coisa que não creio que vá acontecer.
O "Comment moderation" é uma função que nós podemos ligar ou desligar e serve unicamente para evitar alguma coisa que ... mmm... fira os nossos ouvidos. Em particular publicidade.
O "word verification" é um mecanismo do próprio Blogger que não se pode desligar e se destina a evitar que os blogs todos (não só o nosso!) sejam vítimas desses programas que colocam automaticamente "comentarios" (leia-se virus, spyware, etc) nos seus servidores.
Ou seja, uma coisa não substitui a outra.
Espero que tenha agora ficado mais claro.
Foi a primeira fase da formação ó Rui!! ;-)
Enviar um comentário