2007/04/12

No rescaldo de Sócrates

Creio que foi o próprio Primeiro Ministro a referir (não sei se com ironia...), que a questão da sua sua licenciatura é um não-problema. Concordo com ele neste ponto. Este exercício a que nos obrigaram chegou a ser penoso. Pergunto eu: alguém está disposto a investigar ou a deixar-se investigar pela forma como obteve os seus diplomas? Algum desses jarrões que decoram a política portuguesa estará de facto disposto a expor perante os olhos de todos os Portugueses a forma como obteve os seus graus académicos? A confessar todas as passagens administrativas e os "canudos" vendidos no Rossio...?
Houvesse neste País a cultura do rigor, da honestidade e do primado do mérito e, de facto, nada disto teria sido notícia. Mas, alguém quer acabar de facto com o pântano? Não será a desonestidade o desporto nacional?
Só há um culpado nisto tudo: são os Portugueses, a sua generalizada estreiteza de vistas e a sua mesquinhez.
Se não fosse o culto da "cunha", se não fosse o culto doentio das aparências, dos "doutores", "engenheiros" e "arquitectos", deste gene de corrupção que parece fazer parte do DNA dos portugueses, nada disto seria notícia. Há muito que as instituições estariam acima de qualquer suspeita, há muito que o processo que conduz ao desempenho de cargos públicos seria enxuto e transparente, há muito que estaria instituido o culto do mérito, da solidariedade e da partilha.
Assim, como estamos, como tudo está preso por arames, à mínima brisa, ao mínimo problema estalam "crises" que, se não fosse o seu carácter profundamente trágico, só dariam para rir.
Desconfio profundamente das "crises" à Portuguesa. Pelo modo como vão as coisas, tudo indicia que por trás da denúncia de uma potencial falcatrua, estará certamente uma falcatrua em potência.
Neste momento, batemos no fundo. Chegados a um ponto em que a vida de todos nós acaba por ficar presa pela cadeira de "Inglês Técnico" do Primeiro Ministro, o melhor seria escolher, uma de duas: ou fazermos como as baleias e suicidarmo-nos colectivamente, ou procedermos a uma liquidação total e mudarmos de ramo...

4 comentários:

Anónimo disse...

Muito bem!!! concordo com tudo

Rui Mota disse...

Claro. Também estou de acordo. Trata-se, no fundo, de uma questão de ética. Já agora, "republicana", que é aquela que os "socialistas" gostam mais...

Raul Henriques disse...

É isso, de facto. No caso de Bill Clinton eu estou-me a marimbar para as quecas que ele deu ou não na assistente; só lhe levo a mal o facto de ter mentido com quantos dentes tinha na boca, porque isso revela uma falta de carácter que um Presidente de todos nós (digo bem, de todos nós) não pode ter.
No caso de Sócrates é pior, porque é condenável não só o facto em si (tudo leva a crer que o canudo lhe saíu na "farinha amparo" dos poderosos), como, se tudo foi como parece (4 cadeiras pelo mesmo professor, sem se conhecerem colegas nem horários de aulas; inglês "leccionado" pelo "reitor", pautas não assinadas, notas publicadas ao domingo, etc., etc.) a eventual mentira sobre o mesmo.
Mas não tenhamos ilusões: só uma minoria muito restrita se preocupa com a ética das coisas. O grosso dos eleitores dirá quanto ao Clinton "ah, garanhão!" (até aqui sou capaz de os acompanhar) e quanto ao Sócrates "ganda espertalhão, lá se conseguiu safar!", com pena de não poderem fazer o mesmo. Neste país de chicos-espertos temos o Primeiro que merecemos.

Carlos A. Augusto disse...

Fico satisfeito com o editorial do DN de hoje (07-04-16) que reconhece não ter a imprensa procedido da maneira mais correcta neste caso Sócrates...