2007/04/08

Os orfãos do Iraque

Uma reportagem do Telejornal da RTP 1 de hoje (domingo de Páscoa) mostra a situação lancinante dos orfãos do Iraque. São milhares, cinco mil só em Bagdad, têm perfeita consciência da sua situação e choram. Choram e alguns cantam para consolar os seus companheiros de infortúnio. É uma situação, verdadeiramente, dramática, que me fez chorar (não tenho qualquer rebuço em o confessar), a mim também, enquanto ia vendo as imagens.
Aqui está uma faceta da tragédia do Iraque que não ocupa, infelizmente, lugar habitual nos alinhamentos dos telejornais. Chamem-me ingénuo, mas creio que se passassem estas imagens todos os dias, em vez das imagens dos Rumsfelds, Bushs ou Condoleezzas, dos atentados, dos soldados americanos e ingleses e dos seus dramas, ou (já que estamos em época pascal...) as imagens recorrentes daqueles patetas filipinos que, anualmente, decidem crucificar-se, estou certo que este sofrimento muito terreno, terrivelmente real e infinitamente injusto dos orfãos iraquianos encontrava uma solução em três tempos.
O jornalista diz que os milhares e milhares de crianças que não encontram abrigo nos orfanatos existentes (na sua maioria superlotados e sem meios) se dedicam ao roubo, à mendicidade, ou, remata ele, são alvo fácil dos movimentos radicais...
"Roubo... mendicidade... Alvo fácil dos movimentos radicais!"
E de uma assentada, claro, a culpa de tudo isto, está bom de ver, passa a ser dos "movimentos radicais"... Consciente ou inconscientemente, o jornalista rematou com uma conclusão totalmente deturpadora o assunto que decidiu reportar.
Já agora, como nota acessória, gostava de ouvir as vozes dos movimentos "Pela vida", que votaram "Não" no recente referendo sobre a IVG, erguerem-se com veemência contra tudo isto.

2 comentários:

Rui Mota disse...

Também vi a reportagem. Impressionante, de facto. Palavras, para quê? São imagens que valem um programa de "sixty minutes" sobre esta estúpida ocupação.

Anónimo disse...

Não vi e, se por um lado, ainda bem, porque sou impressionavel; por outro, concordo que deveriamos todos ver esse tipo de reportagens. Só quando as coisas nos entram pelos olhos a dentro é que começamos a tomar alguma atitude.