2007/06/04

Novo aeroporto

Confesso que esta questão do novo aeroporto já me cheira mal. O nível e os timings da discussão são suficientes para deixar qualquer pessoa em estado de desespero. Extrair quaisquer conclusões sobre tudo o que se vai ouvindo, parece-me tarefa absolutamente vã.
Não há ninguém que se safe em todo este processo.
Uns porque nos querem atirar poeira para os olhos fazendo-nos crer que participam nesta discussão por motivos altruístas, por estarem preocupados com o País, com a ecologia, etc e tal. Como se numa obra desta envergadura eu acreditasse que os interesses financeiros em confronto não são os únicos a ditar lei. Só haveria uma única maneira de eu acreditar que esta discussão é minimamente séria: se todos estes figurões que se pronunciam sobre tudo isto fossem obrigados a assinar uma declaração de interesses, como as que os políticos em funções são obrigados a fazer.
Outros porque levaram a discussão para um nível que me faz lembrar as conversas de café à segunda feira, depois de um fim de semana de bola. Se a reflexão sobre o novo aeroporto se situa apenas no plano em que todos, imprensa, governantes, oposição, técnicos e as diversas organizações da sociedade civil teimam em se manter, sou levado a acreditar que tudo isto não passa de uma gigantesca acção de promoção do filme "Conversas da Treta." Deixo à vossa imaginação a tarefa de adivinhar quem é o Toni e quem é o Zézé...
Por mim, cada vez que se "descobre" mais um argumento a favor ou contra o novo aeroporto, contra ou a favor desta ou daquela localização, cada vez que ouço estas figuras patéticas a debitar, com ar convicto, mais uma alarvidade qualquer sobre este assunto, mais fico persuadido que este país só tem mesmo uma daquelas saídas que propus aqui há uns tempos, que volto aqui a recordar de forma cada vez mais convicta: ou fazemos como as baleias e suicidamo-nos colectivamente, ou procedemos a uma liquidação total e mudamos de ramo...

7 comentários:

Carlos A. Augusto disse...

Só um pequeno acrescento/desabafo mais, em jeito de comentário. Este modelo de discussão pública de temas sobre os quais não temos quaisquer controlo efectivo, como é o caso destes debates televisivos tipo Prós e Contras é lamentável. É apenas mais uma fonte a acrescentar ao ruído geral que sobre tudo isto foi gerado e um simulacro de democracia participativa!
Um participante (que gritava a toda hora os seus argumentos como se lhe estivessem a extrair um dente sem anestesia!!) dizia no final que, aquilo sim, tinha sido democracia em acção! Já não é aliás a primeira vez que vemos este personagem assim... É mentira!! Estes "debates" não servem para nada!!
Como se alguma vez o "Prós e Contras" possa servir para alguma coisa e existam mecanismos efectivos de acção. Como se fosse possível governar através de debates televisivos...
Não sei se a Endemol não será a entidade que em Portugal organiza estes debates...
Uma palavra única positiva para a posição de Augusto Mateus por ter apontado os vícios daquela discussão e deixado pistas para o enquadramento correcto de uma verdadeira reflexão sobre o projecto do novo aeroporto.

Anónimo disse...

Sobre os "Prós e Contras" já tudo foi dito. A começar pela irritante apresentadora (moderadora?) que troca os "V"s pelo "B"s...
A discussão sobre a OTA não foi excepção.
O Augusto Mateus, mesmo sendo o "melhor" do painel, não escondeu as suas preferências (está no seu direito) mascaradas de jargão economês (o crescimento sustentável de uma região em crescimento por módulos, inserida numa realidade mais vasta que é a Europa das regiões, etc...). Já quase no fim, deixou escapar a frase assassina: "devemos agarrar as novas oportunidades". Devo lembrar que este é o nome da campanha do governo para reciclar os analfabetos funcionais. Mas, não devemos admirar-nos. Mateus é pago pelos autarcas, que o aplaudiram ontem, para apresentar um estudo sobre as potencialidades de um desenvolvimento sustentável da região Oeste, inserida numa perspectiva de integração mais vasta na Europa das regiões, etc. e tal...
Moral da estória: gato escondido com rabo de fora...

Carlos A. Augusto disse...

É verdade Rui, tudo o que dizes é certo. Mas, apesar das preferencias óbvias foi até agora a única pessoa que ouvi a defender de uma forma aceitavel a sua dama. A "margem sul" não tem uma pessoa à altura para defender o seu ponto de vista. E isto em matéria de defesa, por que em matéria de ataque o panorama é ainda mais lamentável.
O nível desta "discussão" em torno do novo aeroporto faz lembrar o "sketches" do Borat. Tudo isto é tão patético que chega a incomodar-me fisicamente.

Raul Henriques disse...

Não vi o programa, mas estou absolutamente convencido (os indícios são mais que muitos) de que na questão do novo aeroporto tudo se resume a uma luta de lobis. O reacender da opção "margem sul" corresponde à movimentação de quem pode beneficiar com isso, a começar pelos "técnicos" que querem facturar por novos estudos. Com aproveitamentos pela parte dos partidos políticos; o PSD, à falta de ser capaz de fazer oposição, passou a opor-se àquilo que dantes defendia.

Raul Henriques disse...

Resta-me acrescentar que, à falta de informação credível e indiscutível, continuo sem saber qual é a melhor opção; ou sequer se é preciso um novo aeroporto. No fim de contas, se calhar o Sócrates é que tem razão: tratando-se de Portugal, se não houver alguém que avance com uma solução, vamos ficar a fazer estudos a vida toda.
Eu cá, por pragmatismo, acharia bom que se situasse a discussão em torno do que é que se vai fazer depois com a Portela; à cautela acho bem que continue activa.

Anónimo disse...

Uma coisa é certa: que eu me lembre, nunca se discutiu tanto uma obra pública como esta. E isso em si não tem de ser mau. Desde que as decisões finais sejam as de maior consenso. Ora, consenso é o que parece haver menos, neste momento. Portanto, seis meses ou mais de discussões, não devem ser argumento para não fazê-las. A construção de novos aeroportos noutras cidades europeias foi, quase sempre, sujeita a discussões e, bem pior, a verdadeiras lutas campais (Franfkurt, Munich, Milão, etc...). Muito ordeira é a população portuguesa, que deixa a discussão nas mãos dos "comissários políticos", disfarçados de técnicos. Em países de maior consciência cívica e onde a cidadania não é um conceito vazio, a sociedade civil já há muito estaria mobilizada. Infelizmente não é isto que se passa em Portugal. Em quase todas as áreas, de resto...

Carlos A. Augusto disse...

Pois é verdade, mas nesses países a discussão ter-se-á situado certamente a nível superior a este a que temos vindo a assistir. Não estou a referir-me ao Zé da Esquina! Estou a falar dos deputados, dos técnicos, dos presidentes de câmara, da oposição (ah! a oposição...), etc, etc, etc. É tudo, como disse no meu post, verdadeiramente patético!! Por muito que custe aos detractores da solução da Ota e aos inimigos do novo aeroporto, quem tem mantido a discussão ao nível a que ela se deve situar é o governo! Nem o presidente da república que se manisfestou já a reboque dos acontecimentos e deitando ainda mais gasolina para a fogueira. Ou então a gente não entendeu o que ele queria dizer...
Quando falo no governo não estou a dizer que concordo com ele, ou com os seus argumentos. Estou a falar no plano meramente institucional e na questão do nível a que o debate se deve situar.
A tentação para a demagogia, para o acessório, para a asneira, para tentar deitar poeira para os olhos, etc, etc, tem sido muita!
Hoje um deputado manifestava-se na AR indignado contra o ministro Mário Lino e dizia que ele tinha ido insultar a inteligência dos deputados. Mas, olhe senhor deputado, os senhores insultam a inteligência dos cidadãos. E olhe que isso é fatal...!