2025/05/29

O Voto dos Emigrantes (a ignorância é tramada)


Já são conhecidos os resultados eleitorais dos círculos da emigração. 

Como era previsível, ganharam os partidos de "direita": 2 deputados da AD no círculo das Américas/Resto do Mundo e 2 deputados do Chega no círculo da Europa. O PS deixou de ter deputados pela Emigração.   

O voto tradicional da emigração sempre foi (mais ou menos) conservador. Na Europa, mais PS; nas Américas/Resto do Mundo, mais PSD. Com o regresso dos emigrantes da primeira geração, as gerações posteriores (2ª e 3ª gerações) não alteraram substancialmente a sua tendência de voto.

Só depois do surgimento do Chega (2019), o voto "emigrante" se alterou. O partido mais penalizado foi o PS, seguindo a tendência de Portugal. 

Duvido que a geração emigrante pós-Troika (2011-2015) vote mais. Pelo contrário, a maioria não pensará sequer voltar a Portugal, nos tempos mais próximos. Porquê, então votar Chega? 

Provavelmente, terá a ver com um certo mimetismo, derivado da situação encontrada nos países onde vivem e trabalham: não querem ser identificados com as comunidades muçulmanas e outras comunidades marginalizadas nessas sociedades. Conheço alguns assim, em ambos os lados do Atlântico. Saíram de Portugal com "uma mão à frente e outra atrás" (alguns, eram exilados do regime fascista de Salazar e Caetano) e julgam-se privilegiados em relação a outros migrantes.

Ou seja, obtiveram um estatuto social diferente (a antiguidade é um "posto") e consideram-se especiais porque mais "integrados" nessas sociedades, procurando comportar-se como as populações de países onde o voto anti-imigração é elevado (França, Suíça, Luxemburgo, Alemanha, Países-Baixos...). 

Outra questão, terá a ver com a má organização dos serviços consulares e/ou deficiente distribuição dos votos por correspondência, já que muitos cadernos eleitorais no estrangeiro não estão actualizados e grande parte dos boletins de voto não chegaram aos destinatários em tempo útil. É o caso do Reino Unido, onde cerca de 60.000 portugueses poderão ter sido impossibilitados de votar (!?). Como se explicam tais números? Um reflexo do Brexit e das medidas nacionalistas do Reino Unido, ou da incompetência dos serviços? 

Depois, há outra variável que não pode ser menosprezada: a ignorância generalizada. Se, em Portugal, 42% da população ainda é analfabeta funcional (in "Observador" d.d. 18/12/24), porque é que na emigração havia de ser diferente? 

Ou seja: o aumento de votação do Chega, nas comunidades emigradas da Europa, não terá a ver com as condições sócio-económicas dos emigrados (que, à partida, serão melhores do que em Portugal) mas com o desconhecimento e ignorância, existentes nessas comunidades, em relação à realidade portuguesa. Sempre foi assim. A ignorância, é tramada.     



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