2007/06/04

Os jovens e a surdez

A perda de audição é um problema que, a mim, me aflige particularmente. Tenho-a estudado e tento manter-me informado sobre as reflexões que sobre esta matéria se vão fazendo. Na década de 60 um estudo feito sobre o problema da perda de audição devida ao envelhecimento (a chamada presbiacúsia) deitou abaixo uma série de ideias feitas que até então eram aceites e que ainda hoje as pessoas dão como verdadeiras. O otologista americano Samuel Rosen conduziu um estudo comparativo entre o povo Mabaan do Sudão e habitantes de Nova Iorque e concluiu que a audição de um jovem nova-iorquino de vinte anos equivalia a um velho Mabaan de setenta. O estudo é bastante complexo e envolve a análise de um leque vasto de variáveis e não vou aqui, naturalmente, entrar em grandes detalhes. Mas, a conclusão era esta. A razão: os jovens nova-iorquinos estavam sujeitos a níveis de ruído ambiente elevadíssimos.
Estamos perante uma doença da civilização, a que normalmente se não presta nenhuma atenção. Só damos pelo problema quando perdermos a audição e se corta um elo absolutamente crucial que nos liga ao ambiente que nos rodeia. A presbiacúsia não é uma fatalidade como muita gente crê e na atitude passiva e negligente, talvez mesmo criminosa, de muita gente mais velha vejo as raízes de um mal que vai afectar as gerações futuras.
Hoje os jornais referem declarações do otorrinolaringologista António Nobre Leitão. Diz ele que "ultimamente tem-se verificado, especialmente nos jovens e jovens-adultos portugueses, um forte aumento de traumatismos sonoros, provocados pela exposição prolongada a níveis elevados de sons, que é irreversível e pode levar à surdez." Na origem de tudo isto estará a exposição prolongada aos intensos níveis sonoros das discotecas, dos festivais e dos aparelhos de reprodução de música portáteis.
A surdez profissional é já, salvo erro, a primeira doença profissional em Portugal. Se juntarmos a isto a mais que previsível perda de audição precoce de uma parte significativa dos nossos jovens podemos facilmente adivinhar um futuro sombrio. Surdos que nem portas... Triste fim.

2 comentários:

Anónimo disse...

E mesmo os que não são surdos, não sabem ouvir...

Carlos A. Augusto disse...

É o começo, é o começo...