Paul Krugman, o Nobel da economia, diz que a recessão que vivemos não é como as outras e que as medidas que têm estado a ser implementadas pelos governos e investidores são desadequadas. De facto, ou é do meu ouvido, ou aquilo que mais se ouve hoje para os lados do poder, é um enorme coro de assobios para o lado. A crise existe e manifesta-se diariamente, assumindo as formas mais variadas e violentas. Afecta tudo e todos, mas o que observamos no meio do drama social real que vivemos é um empenho de plástico para disfarçar a indiferença. No fundo, os velhos hábitos, as velhas taxonomias sociais, a arrogância e o exercício pecaminoso da hipocrisia continuam a prevalecer. E as crises, sabemo-lo bem, até dão jeito.
O que é que originará então a diferença notada agora por Krueger nesta recessão?
No Brave New World, a personagem Lenina lembra-se de ter um dia acordado subitamente e de ter dado conta do murmúrio constante que condicionava todo os seus sonos. Recordava a voz suave que repetia incessantemente "Todos trabalham para todos os outros! Não sobrevivemos sem os outros! Até os Épsilons são úteis! Não sobreviveríamos sem os Épsilons!" E o tom calmante dessa voz conduzia-a de novo ao sono.
"Suponho que os Épsilons não se sentem verdadeiramente mal por serem Épsilons?" perguntava então Lenina a Henry. "Claro que não!" retorquia Henry. "Como seria isso possível? Eles não sabem o que é ser outra coisa."
A diferença talvez resida no facto de agora, depois de ter tido que pagar os desmandos dos Alfas e dos Betas e de ter perdido o seu emprego, agora até o Épsilon mais Épsilon sabe.
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