2025/05/04

Taxi Driver (40)

Então, é para onde? 

- Para a Buraca, sff.

Vamos lá ver se conseguimos. Isto, hoje, está um caos. Não se pode passar em lado nenhum. Na Avenida da Liberdade estava tudo impedido. Não percebo esta gente: andam sempre a queixar-se que não têm dinheiro e vêm de carro para a cidade...

-  Se calhar é bom sinal...

Sei lá...Não querem é fazer nada! Esta gente nova, só pensa em duas coisas: no carro e no computador. Passam o dia sentados e não têm outros interesses. Não sabem fazer nada. 

- Também pode ter a ver com os pais. Foram educados no conforto e não sabem fazer outra coisa...

Eu dizia-lhes...pois olhe, eu já trabalho desde os 13 anos. Sempre trabalhei...

- Sim, mas há 50 anos atrás, a maioria das pessoas também começava a trabalhar mais cedo. O meu pai começou aos 14 anos. 

Parvo fui eu. Hoje estou bem, mas podia estar muito melhor. Quando fiz 13 anos, disse à minha mãe que não queria estudar mais. Nem me respondeu, pegou em mim e foi pedir trabalho a um restaurante, onde eu comecei a lavar pratos. Depois, ao fim de uns tempos, passei a ajudar na copa e, mais tarde, comecei a servir à mesa. Estive lá uns anos, sempre a aprender e os patrões pagaram-me os estudos. De empregado de mesa, passei a subchefe de sala e, finalmente, a chefe de sala. Nessa altura, já percebia umas coisas do assunto e convidaram-me para ir dirigir o restaurante "O jardim do marisco", ali ao pé de Santa Apolónia, onde hoje existe o Terminal dos Cruzeiros, lembra-se? 

- Vagamente, pelo menos de nome...

Pois, hoje, já não existe. Foi desmantelado, para construirem o Terminal. Estive lá 22 anos. Um dia, o patrão veio falar connosco e disse-nos que podíamos escolher: ou procurar um emprego, ou receber uma indemnização, porque ele também tinha recebido uma e ninguém ficaria "descalço". Eu já tinha mais de 50 anos e percebi logo que tinha poucas hipóteses de arranjar emprego no "ramo". Pedi a indemnização, que foi o que me safou a mim e à minha mulher que, entretanto, contraiu um cancro e teve de ser operada três vezes. O meu filho terminou o secundário e continuava a viver lá em casa. Eu falei com ele, pois já se estava a habituar e disse-lhe que ele já tinha idade para trabalhar ou estudar, que eu fazia o sacrifício. Ele resolveu emigrar e esteve na Bélgica uns anos. 

- Bom, pelo menos, saiu de casa. E o que é que ele foi fazer?

Fez de tudo. O senhor já sabe como é. Na emigração, a gente faz o que aparece...

- Por acaso, até sei. Também estive emigrado muitos anos.

O meu filho, agora, está cá outra vez. Juntou-se com um amigo e montaram uma empresa de barcos turísticos. Reparam barcos e levam os turistas a passear. Parece que se safam. Comprou uma casa que já pagou (eu fui fiador) e não me deve nada.

- Ora vê, um empreendedor, o seu filho!

O gajo é esperto. Sai ao pai. Se ele quiser continuar os estudos, estou disposto a pagar. O problema é a habitação. Estive a fazer as contas e, no mínimo, necessito de 700 euros só para as propinas. Se ele for para fora de Lisboa, ainda falta a casa e a alimentação. Não posso pagar tudo. Já pensei, vou matriculá-lo em Lisboa. Vem dormir e comer a casa, sempre sai mais barato. 

- Parece-me uma boa solução. O problema da habitação é que não há casas para ninguém. Nem para os estudantes, nem para as famílias, que não podem alugar casas a estes preços. Comprar, então...

Não há casas para ninguém, não! Se tirarem os ciganos e os mafiosos do rendimento mínimo, das casas onde não pagam renda, sobram muitas casas vazias. 

- Mas, as casas de que está a falar, são casas em bairros sociais, para pessoas sem rendimentos. A verdade é que não há casas suficientes, mesmo para quem quer pagar. Um problema nacional.

Sem rendimentos, o tanas! Recebem mais do que eu. Veja aqui (mostra-me o telemóvel com uma notícia sobre a morte do Manu em Braga). Sabe quanto é que este "manfio", um brasileiro do PCC condenado por homícidio, recebia? 950euros da Segurança Social! Qual era a profissão dele? O crime!  E sabe porque é que os empreiteiros não querem construir casas baratas? Porque não ganham dinheiro com as casas sociais, porque ninguém paga a renda! A culpa é dessas "manas" do Bloco, que andam a dizer às pessoas para ocupar casas. Ali na Ajuda, perto da minha casa, até a antiga Pousada da Juventude foi ocupada pelos ciganos. Não pagam nada e não saem de lá. 

- Se não saem de lá, é porque as autoridades não querem. O estado não consegue resolver este problema, por isso "fecha os olhos" e deixa-os lá ficar. Tem tudo a ver com a falta de dinheiro e falta de organização. 

Mas, então diga lá? Acha bem ocupar as casas e não pagar renda? 

- Não acho bem, mas as pessoas têm de viver nalgum lado. Se as casas estão vazias, porque é que não as alugam? Provavelmente, querem especular com elas. Há cerca de um milhão de casas vazias, em Portugal...

Mas, isto qualquer dia acaba. Em Barcelona, já existe uma organização para expulsar as pessoas das casas. Não saem a bem, saem a mal. Qualquer dia vêm para cá...

- Bem, parece que já chegámos. Pode parar por aqui. Boa tarde.

Boa tarde e desculpe lá a conversa...

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