O recente discurso do presidente da república, para o qual os portugueses foram convocados em "prime-time", revelou-se uma desilusão para a maioria, mas algo de substancial para a oposição. Engraçadas mesmo, são as opiniões de algumas figuras do "establishment" político que, da esquerda à direita, foram unânimes em realçar o cunho jurídico-constitucional da intervenção de Cavaco. Enquanto para uns (Lobo-Xavier na "Quadratura do Círculo") o presidente fez bem, pois esta é uma matéria que os portugueses não entendem(?!); para outros (Mário Soares no "Diário de Notícias") o presidente fez mal, porque os portugueses não perceberam e estão mais preocupados com coisas comezinhas como o desemprego, o custo de vida e a corrupção...
Já anteriormente, o "engenheiro" Sócrates tinha faltado à sua promessa eleitoral e resolvido desistir do referendo sobre o tratado de Lisboa. O argumento, na altura usado, foi o texto ser demasiado complexo para a compreensão do português comum. Porque só os especialistas o podiam compreender, bastava o Parlamento aprová-lo.
Independentemente da importância da intervenção de Cavaco, que está no seu direito constitucional de intervir sobre matérias que considere relevantes, uma coisa parece comum a esta classe política portuguesa: um profundo desprezo pelos cidadãos portugueses, meros figurantes de um sistema que perpetua as "castas" políticas no poder. Com elites destas, será que alguém ainda acredita nos políticos que nos governam?
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