Agora que Portugal passou a ser um país de imigrantes, não faltam estudos e sondagens sobre a matéria.
Esta semana, a Fundação Manuel dos Santos, publicou os resultados de uma amostragem da opinião dos portugueses sobre os imigrantes. Há quem lhe chame "percepção". Uma percepção da realidade.
Dados significativos da amostragem, feita pela Fundação:
67% dos entrevistados pensam que há mais criminalidade devido aos imigrantes. Não é verdade. É precisamente o contrário: os imigrantes são vítimas de criminalidade.
52% dos entrevistados pensam que os imigrantes recebem mais benefícios do que riqueza gerada. Não é verdade. Os imigrantes contribuem com 1800 milhões de euros/ano para o equilíbrio da Segurança Social. Num país envelhecido, como Portugal, são igualmente importantes para o equilíbrio demográfico.
43% dos entrevistados pensam que a percentagem de imigrantes em Portugal é de 20%. Não é verdade. A percentagem de imigrantes em Portugal é de 10% (a média europeia é de 15%).
68% dos entrevistados pensam que os imigrantes podem ajudar a economia, em sectores como o turismo, a agricultura e em serviços diversos (hospitais, lares, limpezas, transportes, etc.).
77% dos entrevistados pensam que os imigrantes têm direito a reunificação familiar.
De acordo com Bruno Pereira, presidente do sindicato nacional da polícia, os resultados da amostragem, são contraditórios e mostram uma falsa percepção da realidade. De facto, não houve um aumento significativo da criminalidade em Portugal, o 7% país mais seguros do Mundo. A percentagem de reclusos, de origem estrangeira, é muito inferior à dos nacionais presos. Um dos mais famosos presos, é português e trabalhava para o PCC (Primeiro Comando da Capital), um cartel de droga brasileiro.
Mais dados: com uma baixa taxa de desemprego (6%), o país vê-se obrigado a contratar mão-de-obra estrangeira. De acordo com o Turismo de Portugal, o sector precisa de 180.000 imigrantes/ano para responder à procura actual. O próprio governo reconhece o problema e anunciou a abertura de cursos para imigrantes, nas áreas da restauração e do alojamento, que incluem ordenado e um mês de estágio após o curso. Algo é algo.
Outra "percepção" muito popular é a de haver estrangeiros (ilegais) que se aproveitam das facilidades do SNS para serem tratados em Portugal. Qualquer cidadão em Portugal, pode ser tratado no SNS, desde que legal, utilize um cartão europeu de saúde ou esteja abrangidos por protocolos especiais (ex: cidadãos dos PALOP, Brasil, etc...). A percentagem de imigrantes ilegais, tratados em estabelecimentos de saúde portugueses, foi apenas de 1.6%, no passado ano. Outra inverdade, portanto.
Apesar destes factos indesmentíveis, o governo - certamente para agradar à extrema-direita - desencadeou uma série de operações policiais, com o fim de estabelecer um "clima de segurança" entre as populações. Depois dos atribulados incidentes em Outubro, que resultaram na morte de um cabo-verdiano na Cova da Moura, as forças da ordem, não tem tido mãos a medir. Todos os meses, os portugueses podem assistir em directo a operações (vulgo "rusgas") em zonas da cidade consideradas problemáticas. Uma das preferidas, é a do Martim Moniz, centro multicultural por excelência onde, desde há décadas, coexistem diversas nacionalidades e estabelecimentos africanos, asiáticos e europeus. Não sabemos se aquela zona é mais violenta do que outras, mas segundo a "percepção" dos residentes, a criminalidade estará a aumentar. Por isso, a "percepção" de insegurança" é maior (Moedas dixit). Mas, então, não havia criminalidade em Lisboa, antes da chegada de imigrantes? E entre os portugueses, nascidos criados no país, não existem criminosos?
Ontem, a cena repetiu-se. Um cordão policial, armado até aos dentes, isolou a Rua do Bem Formoso, artéria central da Mouraria onde se encontram estabelecimentos estrangeiros. Durante mais de duas horas, deteve e inspeccionou todos os transeuntes, obrigando-os a permanecer de mãos levantadas com a cara virada para a parede! Nota picante: só foram interrogados estrangeiros, a maior parte deles asiáticos. Uma cena digna do ghetto de Varsóvia. Não é a primeira vez e, de acordo com o primeiro-ministro, outras "razzias" se seguirão. Segundo ele, estas operações são importantes para restituir um sentimento de segurança aos residentes da zona. Balanço desta "espectacular" operação policial: duas pessoas detidas, uma arma branca e artigos de contrafação no valor de alguns milhares de euros.
Lembramos que, há um mês atrás, na mesma zona, foram detidas mais de 100 pessoas, numa operação semelhante. Resultado: foi encontrado um imigrante ilegal! Perante tão magros resultados, resta saber se a "percepção" sobre a criminalidade em Portugal, é real ou fabricada. Para a extrema-direita, racista e xenófoba, para quem os imigrantes são o principal "bode expiatório" de todos os males da sociedade, nada como uma boa "razzia" para assustar e habituar a população a um estado policial. Que o Chega apoie um estado autoritário, não deve surpreender. Que o governo faça suas as bandeiras da extrema-direita, é mais preocupante. Sendo assim, o Chega não precisa de governar para que os seus métodos vinguem. Estamos avisados. Resta-nos a esperança que os portugueses, vacinados por 48 anos de ditadura, não se deixem intimidar. A minha percepção é que, amanhã, já pode ser tarde.
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