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2025/03/06

Abanar a cauda...


Ainda nem uma semana passou sobre o polémico episódio da Sala Oval (em que Trump e Vance, "humilharam" Zelensky) e já as peças do dominó estratégico ocidental começaram a cair. As coisas nem sempre são o que parecem e, aparentemente, a realidade começa a impôr-se no continente europeu. 

Entretanto, Zelensky (que acaba de entregar o ouro ao bandido) está a prazo, mas toda a gente diz querer defendê-lo, mesmo quando a Ucrânia já perdeu a guerra. 

Percebe-se: é cada vez mais difícil à "troika" europeia (Van der Leyen, Costa e Kallas) defender o indefensável, depois de três anos de juras de fidelidade à "causa ocidental", sem que tenham conseguido progressos na frente de combate. Tudo isto era expectável, a partir do momento em que Biden anunciou, logo nos primeiros dias do conflito, que os EUA não queriam uma guerra com a Rússia, mas "apenas enfraquecê-la". Ou seja, sem um envolvimento dos "aliados" no terreno, a Ucrânia teria poucas possibilidades de suster a ofensiva russa. Está à vista.

E agora? Sem exército, com a economia dos seus principais membros (Alemanha, França e Itália) em crise e sem possibilidades de reconverter o modelo económico actual numa economia de guerra a curto prazo, os líderes da UE vieram pedir 800 mil milhões de euros aos cidadãos para comprar armas aos americanos! Grande negócio. 

Ou seja: Trump impôs a sua vontade a Zelensky e à Europa (que não conta para nada, a não ser para fazer negócios) enquanto assegura a exploração dos minerais ucranianos. Do outro lado, Putin ficará com o Donbass e com a Crimeia, ganhando o território ocupado. 

E a Europa? À Europa, resta obedecer e abanar a cauda...

2022/07/06

Nojos

O futuro está traçado. A aliança EUA-NATO-UE, o corolário hodierno da famosa Doutrina Monroe, vai partir os dentes neste conflito na Ucrânia, vai sofrer uma humilhante derrota e o mundo vai passar a viver sob uma outra ordem. É apenas uma questão de tempo. O que aí vem é, por enquanto, uma incógnita, que se tornará porvetura mais clara quando for lida nos compêndios de história do século XXII. 

Os mostradores das bombas de gasolina que pulsam e rodam de forma cada vez mais vertiginosa, assim marcando a negro o dia a dia dos automobilistas, não reflectem, nem de perto nem de longe, o trambolhão que o "Ocidente" (cf. esta interessante análise de Carlos Matos Gomes sobre este conceito) vai dar, à conta desta miserável aventura em que nos meteram. Mas esses mesmos mostradores das bombas, ao rodarem cada vez mais depressa, para da pistola da bomba sair cada vez menos combustível, constituem uma espécie de metáfora, se se quiser ver para além dos números, do entalanço em que estamos metidos e não podem deixar de nos fazer pensar no que aí vem. Todos deveriam refectir, com seriedade e serenidade, sobre o futuro. 

Uma coisa que, para já, se me afigura certa é que os povos não parecem estar preparados para a reviravolta que se avizinha. A Europa, em particular, revelou-se, em todo este processo, incrivelmente vulnerável. E Portugal, então, pelo filme a que vamos assistindo, está em riscos de se tornar um protectorado de uma multinacional qualquer ou um gigantesco Airbnb.

Bruxelas não é Washington

Há tarefas que, no imediato e se não nos quisermos resignar a uma postura passiva perante tudo o que se passa, parecem urgentes. A mais importante, a que deveria ser dada atenção imediata, é a da continuação desta União Europeia. Uma organização dirigida por zombies que usurparam os direitos democráticos dos europeus e se instalaram ilegalmente nesta coisa inenarrável a que chamam Comissão. É urgente responsabilizá-los pelas consequências que esta decisão de se juntarem à cobóiada vão ter na vida de todos nós, numa atitude de subserviência absolutamente escandalosa. Repare-se que nem na própria América se engole todo este cenário criado em torno do conflito da Ucrânia.

Segundo o Ron Paul Institute, 71% dos americanos não desejam que Biden se candidate a um segundo mandato. Segundo outra fonte, a percentagem de americanos que não querem que Biden se candidate a esse segundo mandato é extraordinariamente alta, quando comparada com os presidentes anteriores, ainda em primeiro mandato. Os americanos já estão a sentir na pele o fiasco absoluto desta política terrorista das sanções, ditada pelos cowboys da Casa Branca. Mas os americanos não parecem dispostos a tal sacrifício. Quem os poderá criticar...?

Biden tenta, em fuga para a frente, culpar Putin, junto da opinião pública americana, pela escalada da inflação, mas, como conclui ainda a análise do Ron Paul Institute, há um grande problema: "os americanos não acreditam nele. De acordo com uma pesquisa da Rasmussen no início deste mês, apenas 11% dos americanos acreditam na afirmação de Biden de que o presidente russo Vladimir Putin é o culpado pelos altos preços." 

Os americanos também não querem, segundo parece, uma recandidatura de Trump. Mas é bom lembrar que a actual política de Washington é exactamente igual à que foi seguida pelo presidente golpista. Vale a pena recordar o que dizia o seu anterior Secretário de Estado, Mike Pompeo e comparar com o que está a ser feito agora. E vale a pena perceber quais são exactamente as personagens que têm transitado de administração em administração, desde há longos anos, para levar a cabo o mesmo programa de desastre universal. Se não acredita, veja os nomes.

De Bruxelas, nem bom vento nem bom casamento

Bruxelas não é, de facto, Washington. O seguidismo dos dirigentes europeus ao discurso americano é incompreensível. Os americanos demonstram um compreensível sentido de conveniência que falta totalmente a Bruxelas. E a Doutrina Monroe justifica a postura americana. Mas o que ganha a Europa em continuar a papaguear o discurso  da invasão vinda das estepes que só pararia no Cabo da Roca, apimentada agora com uma ameaça amarela, quando na própria América esta narrativa parece já não estar a pegar? Numa demonstração da validade da expressão "ser mais papista que o papa," por estas bandas vamos assistindo ao espectáculo desgraçado que a Presidente da Comissão Europeia, prostrada de joelhos, dá todos os dias. Uma actuação nojenta, que nos faz (pelo menos a mim faz!) corar de vergonha. A todos nós que acreditámos no projecto europeu e andámos a embarcar, ingénua mas zelosamente, nesta trapaça absurda, neste travesti de eleições, a que chamam eleições europeias. Sobre o que nós e os nossos compadres europeus pensamos de tudo isto, o que vai na alma do europeu, nestes dias de ansiedade e de incerteza sobre o futuro, pouco se sabe. Dos americanos sabemos, ainda assim, que não estão a achar grande graça ao que se está a passar, e a festa nem sequer está a ser no quintal deles. O que justifica a posição da Europa perante este conflito?

Ainda faltará algum tempo para percebermos o que dirão os europeus sobre tudo isto. Mas quando, finalmente, acordarem para a realidade que têm e vão ter pela frente, vai ser tarde.

E Portugal?   

Se o que vai na mente dos europeus é uma incógnita, cá pelo burgo não sabemos o que pensam verdadeiramente os portugueses sobre este conflito, para além da conversa de café. Sabemos menos ainda sobre o que pensam sobre a actuação do Governo, nesta sua desfilada à rédea solta.

Falando de governo, permitam-me que exprima aqui, sobre esta matéria, um ponto de vista pessoal, num tom um pouco mais veemente, diria mesmo, escandalizado. A posição portuguesa em todo este caso mete nojo. O comportamento do Governo nesta matéria e, em particular, o do Primeiro Ministro António Costa, é um nojo. Politicamente, está arrrumado. O tirocínio para substituir a Ursula menor de nada lhe vai valer porque deixou de ter a iniciativa, anda totalmente a reboque dos acontecimentos, sem dar o mínimo sinal de uma visão própria, sem um pensamento estratégico, digno de nota e sem um comprtamento que indicie ter a força necessária para mudar o rumo da Europa.  O "estadista" foi a banhos. Não foi para isto que votei nele. A credibilidade política, interna e externa, perdeu-a Costa num aperto de mão em Kiev. E veja-se, por exemplo, aqui, o tipo de santinhos a quem Costa foi apertar a mão, em nome de todos nós.

Comprometida, sem possibilidade de um entendimento, está também uma solução para Portugal, à esquerda. A Ucrânia constitui um tiro no porta-aviões da esquerda portuguesa, sem possibilidade de reparação do rombo. Como se diria, em inglês, Costa é um has been. Tanto que prometia o mocinho, tanta ponte, tanto diálogo para tudo ter acabado assim. É uma pena. À direita o panorama, é certo, não é melhor, o que significa que Portugal é de quem o apanhar.

Nota profundamente negativa, pois, para a actuação do governo, que faz o favor de representar o papel de manequim na montra do imperialismo. Não foram mandatados para isso! Repito: não foram mandatados para isso. 

Não estamos perante uma emergência nacional, não corremos riscos de segurança interna, temos problemas estruturais (lembram-se dos famosos problemas estruturais?!), estruturalmente adiados, temos milhões para ajudar à festa da guerra, mas os tais problemas estruturais ficaram para as calendas. Corremos agora, isso sim, o risco de sermos apanhados pelo fogo cruzado. Nada justifica que os portugueses tenham sido colocados em perigo desta forma. A culpa é do governo. Se já na América poucos compram a ideia de uma opção entre o sacrifício em resposta a uma hipotética ameaça, que corre lá longe, ou uma vida decente, por cá temos de perguntar e exigir uma justificação séria a este governo sobre esta decisão de converter Portugal em potencial barraquinha de tiro ao alvo e os sacrifícios e os riscos que esta opção representa. Para quê?! O que raio passou na mente perversa destes irresponsáveis para transformar Portugal, de repente, em feira popular? O PS criou a ilusão que tem tudo controlado e não percebeu que está em risco de se afrancesar. Não percebe, por exemplo, que entrou naquela fase em que os seus princípios resvalam para a "quimera" e para a "ambiguidade," como referia Thibaut Rioufrey a propósito do PS francês, que conduziram este partido ao eclipse quase total.

Do PR, sempre igual a si próprio, nem vale a pena falar, mas vale, isso sim, a pena falar da AR. A prudência política, o respeito pelos eleitores e o simples sentido patriótico, deveriam ter ditado uma outra postura da AR e do seu sibilino presidente, perante este conflito, mais contida, mais consentânea com o preceito constitucional, que tivesse evitado o espectáculo nojento do passado mês de Abril. O PS revelou-se, mais uma vez, nesta como noutras ocasiões, um nojo. Traiu os eleitores que depositaram confiança total nas suas propostas e lhes compraram as cadeiras do poder, onde agora se sentam. 

Tristíssimo o espectáculo deprimente deste partido, a dobrar a cerviz perante os senhoritos da guerra. Enquanto a Constituição preceitua a "solução pacífica dos conflitos internacionais, a não ingerência nos assuntos internos dos outros Estados e a cooperação com todos os outros povos para a emancipação e o progresso da humanidade," o que faz o governo da maioria? Oferece armas e junta-se ao coro internacional das fanfarronadas. De um país com tradição revolucionária na floricultura, esperava-se que fornecessem, ao menos, rosas, senhor! 

Por outro lado, também a actuação de uma parte da oposição, que diz, servilmente, amen a tudo isto ou se cala oportunisticamente, não pode senão ser classificada de outro nojo. Uma outra, reduzida, parte da oposição, que cavou por culpas políticas próprias o seu isolamento e revela total incapacidade de ter voz de combate, está encostada, inutilmente, a uma retórica que a ninguém impressiona. Mais outro nojo. Não pela posição neste caso específico, que sempre me pareceu correcta, mas pela inabilidade política que a levou a ficar aquém dos mínimos olímpicos e a revelar a sua debilidade preocupante, quando era tão necessário que fizesse agora voz grossa e tivesse algum peso específico. 

Estamos, pois, metidos num enorme molho de bróculos. Os portugueses irão certamente gozar o verão, finalmente, depois de dois anos de confinamento. Quando voltarem, logo se vê.


PS- Já depois de concluído este artigo, ficámos a saber que o Boris the Animal foi despedido e que, por agora, o PM se livrou de uma moção de censura. Ça bouge!

2022/05/25

Da Guerra (das guerras...)

Passaram três meses sobre o início da guerra na Ucrânia e não se vê fim à vista. Pior, muitos analistas e estrategas destas coisas, pensam, inclusive, que o conflito pode durar semanas, meses ou até anos... Uma catástrofe de dimensões incalculáveis. Independentemente do resultado final ("vitória" de um dos lados, impasse no avanço das tropas no terreno ou um acordo tácito, para evitar perdas maiores e salvar, de alguma forma, a "face") todas as opções estão, neste momento, em aberto. 

Ainda que soubéssemos que, numa guerra (qualquer guerra!), "a primeira vítima é sempre a verdade", não podemos deixar de criticar a forma acéfala, como a maioria da Comunicação Social em Portugal (há excepções, claro) acompanha o conflito. Desde logo, na falta de imagens da guerra real (não há "acompanhamento" da maior parte das acções militares, por parte de jornalistas, como nas guerras do Golfo, por exemplo...) e, depois, pela impossibilidade de verificar os dados apresentados por Moscovo e por Kiev. Uns, não fornecem dados (quantos mortos, quantas perdas de material, etc...); e outros, dão dados sobre as perdas do inimigo o que, não sendo uma originalidade, é sempre difícil de confirmar. A acreditar em organismos de estratégia militar no Ocidente (UK, EUA), haverá hoje cerca de 300 000 soldados a combater (mais ou menos, 150 000 de cada lado). Desse total, já teriam perecido cerca de 10% dos combatentes. Ou seja, a acreditar nesta estimativa, terão perecido cerca de 30 000 soldados russos e ucranianos, até este momento (por comparação, 3 vezes mais do que soldados portugueses na guerra colonial, que durou 13 anos!). Não estão aqui contabilizados os civis de ambos os lados (dezenas de milhar?), as perdas materiais (tanques, canhões, carros de combate, aviões, helicópteros...) e, claro está, o património destruído (cidades inteiras), avaliado em milhares de milhões de euros! Finda a guerra, a "reconstrução" exigirá um novo "Plano Marshall" (palavras dos dirigentes da UE) que ninguém saberá ainda quanto custará e quem irá pagar. Os "empreiteiros" do costume, já estão na fila, para os chorudos contratos.

Para o bem e para o mal, a Ucrânia e a Rússia, vão continuar no mesmo sítio e a ter de partilhar fronteiras. Obviamente que só negociações poderão conduzir a um "status-quo" aceite pelas partes beligerantes, com concessões de ambos os lados. A não acontecer isso, todos sairemos pior no fim desta tragédia: desde logo o povo ucraniano (a principal vítima); a Rússia (metida num beco sem saída, que conduzirá ao seu isolamento internacional); e, finalmente, a Europa (leia-se UE) que, sem exército próprio e no meio de uma crise económica (inflação) e energética (dependência da Rússia), sairá sempre prejudicada e mais dependente deste conflito. A única grande potência ganhadora é, neste momento, os EUA (que vende armas, petróleo, gás e cereais à Europa) sem dar um tiro, ou sacrificar homens no terreno. Grande negócio. Tudo, em nome da "democracia", claro está. Ou seja, três "blocos" políticos em crise, que lutam entre si por um lugar entre as grandes potências, nesta guerra pelo controlo geoestratégico das riquezas do planeta. Enquanto isso, a China, a única potência verdadeiramente emergente, parece não tomar posição, num silêncio ensurdecedor, que vale mais do que mil palavras. 

Resta Portugal, um país periférico, sem política externa, sempre a reboque das decisões tomadas em Bruxelas e Washington, sejam estas boas para o país ou não. Neste quadro e na tentativa de mostrar "serviço", a visita de Costa a Kiev - para mais com promessas de ajuda de 250 milhões de euros (empréstimo, doação?) à Ucrânia, quando em Portugal não há médicos de família para 1 milhão de portugueses, onde 2 milhões de cidadãos vivem com 540 euros por mês e não existe habitação condigna para dezenas de milhares de habitantes - foi lamentável. Por outro lado, o ministro Cravinho (outra desilusão) veio confirmar a intenção de Portugal aumentar para 2%, a sua contribuição para a NATO: qualquer coisa como 4000 milhões de euros do PIB. Isto para não falar sobre a sua declaração de se opor à venda do clube Chelsea (do Chelsea?), como parte das sanções aos oligarcas russos (!?). É pena haver sempre dinheiro para a guerra (armamento) e "nunca haver dinheiro" para a saúde, a educação ou a habitação em Portugal. Uns tristes, estes políticos que nos governam. 

Sim, a guerra, continua a ser um bom negócio. Principalmente para quem decide, mas não combate, ao contrário dos que combatem, mas não podem decidir.

2022/05/19

Entre talk-shows e sitcoms

Diz-se que aquela prática de introduzir riso artificial nos programas de TV terá tido origem num técnico de som americano, chamado Charley Douglass, que trabalhava na CBS, nos primórdios da televisão. Douglass, diz-se, ficava irritadíssimo porque o público do estúdio que assistia, ao vivo, aos programas daquele canal americano, ria nos momentos errados, não ria nos momentos certos, ria alto demais ou por tempo demasiadamente longo. Lançou-se então ao trabalho e inventou uma "máquina de rir," provida de uma ampla variedade de risadas e gargalhadas, que eram metidas no programa quando julgado aproriado. Na altura, o truque servia para "ajudar" o público, pouco acostumado ainda às práticas televisivas. A "laugh track," como é conhecida, pegou, e à medida que o público se foi tornando mais habituado aos códigos da televisão, foi desaparecendo, para, mais tarde, voltar com esta ou outra variação, com mais máquina e menos público ou vive versa. A prática mantém-se e espalhou-se. Até a televisão portuguesa copiou o modelo.

Sem conhecer os bastidores deste estúdio onde se está a produzir esta comédia trágica, o mundo (particularmente a Europa) tem andado, desde fevereiro, a fazer o papel de "laugh track," como nas sitcoms americanas, perante os desenvolvimentos da guerra. O que poucos vêem, são os cartazes que dos bastidores mandam o público rir e muito menos as máquinas que, em pós-produção, introduzem a gargalhada, que induz o espectador a achar graça a coisas que, tantas vezes, não têm qualquer graça. 

Quando tudo pareceria nos conduziria à reacção mais correcta, a lágrima ou o grito de dor perante o que se está a passar e perante a nossa impotência, a máquina milagrosa do riso faz-nos rir do palhaço trágico. Nem passa, sequer, pela cabeça deste público manso e dúctil o futuro possível que pode resultar desta tragédia para onde estamos a ser conduzidos e, muito menos, a possibilidade que têm de parar de ver a série, esquecer as deixas dos assistentes de estúdio e encarar de frente as opções que temos pela frente.

A gargalhada de plástico impede, dizem os estudiosos destas coisas da comunicação, o público de ouvir a piada. Suscita-lhe apenas a reacção alvar. Impede-o, por exemplo, de fazer esta simples pergunta: e se a Rússia ganha mesmo esta guerra? O que vai acontecer aos folgazões que neste momento assistem a tudo isto, refastelados nos seus sofás, a virar minis e a comer tremoços, como se estivessem a assistir a uma partida de bola?

Não quero agoirar... mas muitos analistas, vêm avisando —sem "laugh track"— que as coisas não estão nada famosas para os lados da equipa da casa. Este analista, por exemplo, é peremptório: afirma que o Ocidente está arrumado. E explica claramente porquê. Os suecos e os finlandeses não terão percebido bem de que lado vem o vento e parecem não ter problema com as correntes de ar. Este outro esclarece: tal como Roma e Bizâncio, o actual império não tem, simplesmente, os meios para contrariar as hordas que vêm das estepes. E todos sabemos o que aconteceu a Roma e Bizâncio. Estes dois exemplos não têm relação editorial, digamos, mas são coerentes entre si. E este outro, também em consonância com os outros dois, diz, sem hesitar: a Rússia está no caminho para atingir todos os objectivos militares que se propôs atingir com esta guerra. Acrescentando que a Europa está, nesta altura, no meio de um "choque económico" que se pode "tornar muito pior do que já é." Muitos outros analistas se têm pronunciado de forma que aponta na mesma direcção. Infelizmente, distraídos com a "laugh track" muitos não perceberam ainda a "piada" de tudo isto. Este artigo, por exemplo, aborda o papel do média em todo este processo. a propósito da suposta gaffe de G.W. Bush, ao confundir o Iraque com a Ucrânia. A presença da "laugh track" e da distração que provoca, surge aqui perfeitamente clara.

E enquanto os talk-shows e sitcoms sobre o que se passa na Ucrânia se sucedem, com gargalhada a compasso, a pergunta que deixo no ar é: e Portugal? O que nos aconteceria (acontecerá?) se a horda vinda das estepes marchasse (marchar) mesmo por aí fora, como tantos receiam? Para onde nos andam a querer empurrar? A nós, aos filhos e aos netos da geração que foi empurrada para uma guerra totalmente traumatizante, nas colónias. A nós, que sabemos que a Europa, como disse o analista que referenciei acima, está no meio de um "choque económico," um "choque" que se pode tornar ainda pior. A nós que temos a certeza que não há PRR que possa cobrir mais est crise, a nós que já vivemos há tempo demais num país que anda sempre de calças na mão? O que nos aconteceria (acontecerá?) se a horda vinda das estepes se lembrar que os Portugueses abriram as portas da sede da Democracia portuguesa a um fascista, que levou a cabo uma purga política sem precedentes e totalmente antidemocrática no seu país, mantendo, a pedido, apenas uma força e conservando, simbolicamente, Bandera como herói nacional? Quem pode atribuir algum crédito a esta criatura e dar-lhe cobertura institucional?! Poderiam, o pressuroso Costa, o sibilino Silva e o talk-show host Sousa, desligar, por um momento, a máquina das gargalhadas e dizer-nos, olhos nos olhos, o que planeiam fazer, o que querem, em resumo, fazer de nós...? Vamos, governo e PR, digam-nos! E, já agora, publiquem também a vossa declaração de interesses neste conflito, para memória futura.

(NB- a imagem não é da RT; é da CNN e ilustra o caso pouco divulgado da chamada Ilha Zmiyinyy, também conhecida por Ilha da Cobra.)

2022/02/27

E a Ucrânia aqui tão perto...

foto JN

O Mundo actual é dominado por autocratas e psicopatas: Putin, Xi Jinping, Kim Jong-un, Trump, Biden, Bolsonaro, Erdogan, Lukashenko, Duterte, Mori, Maduro...(esqueci-me de alguém?) e não se vê fim à vista.

E não se pode exterminá-los?

A crise na Ucrânia, anuncia mais um desastre humanitário, de proporções imprevisíveis. 

Esta não é uma guerra de "bons" contra "maus", ainda que os generais de sofá pretendam ver nela uma justificação para os seus crimes de guerra. Esta é uma guerra de interesses geo-estratégicos, no tabuleiro do xadrez de políticas expansionistas e imperialistas, como sempre foram a maior parte das guerras. O que seria destes personagens, se não houvesse guerra? Ficam desempregados, claro: os generais na reserva e todos os comentadores de camuflado, que passaram  a ocupar as pantalhas televisivas, em substituição do exército de vírologistas e pneumologistas que deixaram de ter direito a "prime time". 

A actual situação, não augura nada de bom. Para além dos blocos políticos em disputa, a Europa está (mais uma vez) confrontada com um drama social e humano que poderá atingir milhões de vítimas. Seguir-se-á uma crise energética e económica que, de resto, já é sentida.  

E Portugal? Sem uma política internacional digna desse nome e "abrigado" sob o chapéu da beligerante NATO, resta-nos (!?) enviar uma fragata, um submarino e 1500 militares para as fronteiras orientais da Europa. Tudo em nome da defesa do "Ocidente" e da "solidariedade", claro está, porque outra coisa não podemos prometer. Pior, era difícil. 

2014/08/03

A Leste nada de novo

Folheio os jornais do fim-de-semana, antes de partir para umas curtas férias fora de Portugal.
Ao contrário de anos anteriores, não há notícias de fogos "postos" (ou outros) essa calamidade que anualmente assola o território de Norte a Sul. Porque será? Imagino ter alguma coisa a ver com um Verão que tarda em surgir. Outra explicação possível, pode ser a prevenção feita no terreno. Seja como for, as estatísticas não mentem: no primeiro semestre deste ano, houve menos de metade dos fogos verificados em igual período de 2013. Nada mau.
Outra notícia, esta de sinal contrário, confirma prejuízos do BES na ordem dos 3,6 mil milhões de euros. Os valores são de tal ordem que, em comparação, o "buraco" do BPN já é considerado "razoável"... Depois destes números terem sido tornados públicos, o valor das acções caíram 40%, após o que a negociação em Bolsa teve de ser interrompida. O contágio ao resto da Bolsa foi inevitável. Estamos, assim, perante um caso de gestão danosa (há quem lhe chame "engenharia financeira"), para a qual o governo procura uma solução que pode passar por uma intervenção estatal (através do BdP)  e a divisão do BES num Banco "bom" e num banco "mau" (onde ficariam os prejuízos) como forma de evitar uma nacionalização que teria de ser paga pelos contribuintes. Provavelmente, o BdP irá usar parte dos 12.000 milhões de euros da Troika destinados a recapitalizar a banca, o que significa o pagamento desta dívida - ainda que de forma indirecta - pelos mesmos contribuintes que estão a pagar o empréstimo do "bailout". Um verdadeiro crime, para o qual muita gente vinha alertando e que o  presidente da república, o governo, o presidente do Banco de Portugal e o líder da oposição, sempre menorizaram, considerando o prestígio do BES como a garantia "moral" de boas contas. E agora, quem paga o "calote"?
Outra coisa que nunca muda é a posição da Russia em relação ao Ocidente e vice-versa, num "remake" da "guerra fria" que muitos julgavam definitivamente enterrada. A luta fraticida entre ucranianos pró-ocidentais, agrupados em redor do governo de Kiev, e separatistas pró-russos que controlam parte da zona Leste do país, não mata apenas ucranianos, mas estrangeiros de muitas nacionalidades, como aqueles que tiveram o infortúnio de embarcar no avião da Air Malaysia há duas semanas atrás. Pesem as "démarches" feitas pelos governos dos países mais atingidos pela tragédia (Holanda, Australia e Malásia), nada faz crer que o esclarecimento deste macabro acidente esteja para breve, num processo ainda difícil de explicar.
Também a Leste, continua o eterno conflito Israel-Palestina, agora centrado em Gaza, onde o exército de Israel leva a cabo uma limpeza étnica sem precedentes, perante o silêncio cumplice dos EUA e da UE, que se limitam a pedir o cessar-fogo e a condenar a morte de civis, principalmente crianças, que morrem diariamente, independentemente do local onde possam estar abrigadas. Encurralados entre o sadismo das tropas sionistas israelitas e o fundamentalismo islâmico do Hamas, os habitantes de Gaza são hoje as principais vítimas, heróis e símbolos maiores de um Mundo onde, apesar de aparentes progressos, continuam a ser espezinhados os valores mais importantes da humanidade e onde nada de relevante parece ter mudado. Tudo como dantes, afinal...