2007/09/26
2007/09/21
Proef Portugal
Durante a minha recente passagem por Amsterdão aproveitei para rever amigos e lugares que são já parte integrante da minha vida. Uma das surpresas, ainda que expectável, é a dedicação que certos holandeses continuam a nutrir por Portugal. Uma paixão de décadas que parece aumentar à medida que os anos passam. Penso ser esta uma das melhores definições do amor que conheço: a fidelidade.
No passado domingo, tive o privilégio de assistir a uma dessas manifestações que, só por si, justificam todo o apoio que os organismos nacionais portugueses queiram prestar-lhe.
Pelas instalações da antiga KNSM (Companhia Real Holandesa de Vapores), um edifício situado na zona portuária da cidade, passaram mais de trezentos holandeses a "provar Portugal". Uma iniciativa particular de amigos do nosso país que, de há anos a esta parte, teimam em pôr "Portugal no mapa". Dos "stands" turísticos aos gastronómicos, passando pelo Fado e Folclore ao vivo, até à divulgação da língua e literatura portuguesas, de tudo houve naquela tarde de confraternização e promoção da cultura portuguesa no sentido lato da palavra. Lá estavam as representações da transportadora área nacional, os restaurantes mais emblemáticos da cidade, os principais importadores de vinho e artesanato, mas também o Instituto Latino na promoção da língua e o Fernando Venâncio na divulgação da nossa literatura. O representante local do ICEP (noblesse oblige) aplaudiu e fez o discurso inaugural. Os meus agradecimentos vão, no entanto, para Sabina Sorber, amiga de longa data e principal responsável pela organização do evento. Só posso desejar-lhe que este "Proef Portugal" seja o início de uma bela iniciativa.
No passado domingo, tive o privilégio de assistir a uma dessas manifestações que, só por si, justificam todo o apoio que os organismos nacionais portugueses queiram prestar-lhe.
Pelas instalações da antiga KNSM (Companhia Real Holandesa de Vapores), um edifício situado na zona portuária da cidade, passaram mais de trezentos holandeses a "provar Portugal". Uma iniciativa particular de amigos do nosso país que, de há anos a esta parte, teimam em pôr "Portugal no mapa". Dos "stands" turísticos aos gastronómicos, passando pelo Fado e Folclore ao vivo, até à divulgação da língua e literatura portuguesas, de tudo houve naquela tarde de confraternização e promoção da cultura portuguesa no sentido lato da palavra. Lá estavam as representações da transportadora área nacional, os restaurantes mais emblemáticos da cidade, os principais importadores de vinho e artesanato, mas também o Instituto Latino na promoção da língua e o Fernando Venâncio na divulgação da nossa literatura. O representante local do ICEP (noblesse oblige) aplaudiu e fez o discurso inaugural. Os meus agradecimentos vão, no entanto, para Sabina Sorber, amiga de longa data e principal responsável pela organização do evento. Só posso desejar-lhe que este "Proef Portugal" seja o início de uma bela iniciativa.
2007/09/18
MacRepair.nl
Nada como distanciarmo-nos do país, para vermos a "terrinha" em perspectiva.
De visita à Holanda, aproveitei a viagem para levar o meu portátil, a necessitar de reparação urgente. Na pior das hipóteses teria de comprar um novo...
A sugestão foi de amigos (do) MAC que me sugeriram visitar uma oficina em Amsterdão onde, para além de repararem computadores daquela marca, ainda vendem peças usadas em perfeito estado de uso e conservação. Lá fui e a primeira surpresa tive-a com as dimensões e o aspecto da loja: um rés-de-chão de 50m2, onde através de vidros decorados com a famosa "maçã", podíamos ver 4 funcionários a trabalhar em frente a carcaças de MAC´s desmantelados. Um verdadeiro estaleiro. Explicámos ao que íamos (recuperação de ficheiros perdidos e um novo écran) tendo sido informados de que o primeiro problema seria difícil, dependendo do estado do disco rígido; e que o segundo, era simples de resolver. Orçamento: 37 euros pelo teste do disco (diagnóstico) e 350 euros pelo écran (display). Com IVA a 19%, um total de 450 euros. Tempo de entrega: 48 horas. Por comparação: em Portugal levam 80 euros pelo diagnóstico, 700 euros pelo écran e 21% de IVA. Tempo de entrega: 10 dias.
Claro que as "nossas" instalações são melhores: escritórios luxuosos, vidros esfumados impeditivos de ver os interiores, recepcionistas "produzidas" que não percebem minimamente do que estamos a falar e uns "técnicos" sempre ocupados que saem de armazéns fechados a quatro chaves, onde se pode ler "proibida a entrada a estranhos" (não vá alguém descobrir o segredo de arranjos tão caros, quando os nossos trabalhadores ganham tão pouco...).
Dois dias mais tarde, telefonaram-me para casa: podia levantar o computador. Lamentavam não ter podido recuperar os ficheiros, mas tinham colocado um novo écran.
Chegado à loja, a última surpresa: fizeram-me um desconto de 75euros (só teria de pagar 371), pois o écran não era completamente novo e ainda me ofereceram uma protecção almofadada com a insignía da loja: MacRepair.nl.
Chama-se a isto transparência.
De visita à Holanda, aproveitei a viagem para levar o meu portátil, a necessitar de reparação urgente. Na pior das hipóteses teria de comprar um novo...
A sugestão foi de amigos (do) MAC que me sugeriram visitar uma oficina em Amsterdão onde, para além de repararem computadores daquela marca, ainda vendem peças usadas em perfeito estado de uso e conservação. Lá fui e a primeira surpresa tive-a com as dimensões e o aspecto da loja: um rés-de-chão de 50m2, onde através de vidros decorados com a famosa "maçã", podíamos ver 4 funcionários a trabalhar em frente a carcaças de MAC´s desmantelados. Um verdadeiro estaleiro. Explicámos ao que íamos (recuperação de ficheiros perdidos e um novo écran) tendo sido informados de que o primeiro problema seria difícil, dependendo do estado do disco rígido; e que o segundo, era simples de resolver. Orçamento: 37 euros pelo teste do disco (diagnóstico) e 350 euros pelo écran (display). Com IVA a 19%, um total de 450 euros. Tempo de entrega: 48 horas. Por comparação: em Portugal levam 80 euros pelo diagnóstico, 700 euros pelo écran e 21% de IVA. Tempo de entrega: 10 dias.
Claro que as "nossas" instalações são melhores: escritórios luxuosos, vidros esfumados impeditivos de ver os interiores, recepcionistas "produzidas" que não percebem minimamente do que estamos a falar e uns "técnicos" sempre ocupados que saem de armazéns fechados a quatro chaves, onde se pode ler "proibida a entrada a estranhos" (não vá alguém descobrir o segredo de arranjos tão caros, quando os nossos trabalhadores ganham tão pouco...).
Dois dias mais tarde, telefonaram-me para casa: podia levantar o computador. Lamentavam não ter podido recuperar os ficheiros, mas tinham colocado um novo écran.
Chegado à loja, a última surpresa: fizeram-me um desconto de 75euros (só teria de pagar 371), pois o écran não era completamente novo e ainda me ofereceram uma protecção almofadada com a insignía da loja: MacRepair.nl.
Chama-se a isto transparência.
2007/09/16
Uma nova orquestra
Foi nesta quinta feira que a nova Orquestra de Câmara Portuguesa fez a sua primeira apresentação pública. Um projecto concebido e dirigido por Pedro Carneiro, destinado a dar um enquadramento ao mais alto nível, institucional e artístico, aos inúmeros jovens talentos formados nas escolas de música portuguesas.
A OCP é o fruto do talento sem limites, da inesgotável capacidade de trabalho e da tenaz preserverança de Pedro Carneiro que juntamente com a sua equipa ergueu este projecto. É também o resultado do inultrapassável amor pela música que o Pedro Carneiro e os seus colaboradores demonstram. A OCP é uma obra de amor e o seu exemplo serve para mostrar, antes de tudo o mais, que em matéria de música, como em tudo o resto, é preciso amar para começar a fazer obra. Quantas pessoas amam verdadeiramente aquilo em cujo envolvimento se mostram empenhadas?
À OCP eu desejo todas as venturas do mundo.
2007/09/07
Do Portugal profundo (3)
A acreditar na imprensa em geral - mais rápida a inglesa, mais sensacionalista a portuguesa - a "saga da pequena Maddie" parece ter atingido um "turning point" na investigação em curso. De "rapto" a "morte", passando por "negligência por homícidio", temos ouvido de tudo nestes últimos quatro meses.
As imagens desta manhã, em directo de Portimão, mostraram - pela primeira vez - uma multidão hostil e ululante manifestando-se contra a mãe da desaparecida menina. Bastou um interrogatório de 11 horas para que a opinião da opinião pública (que a publicada já tinha avançado com o julgamento) tenha mudado de posição e Kate McCann tenha passado de heroína a homicida.
Independentemente do veredicto final, ninguém poderá julgar Kate antes desta ser julgada. Este é o princípio de inocência que um estado de direito deve começar por respeitar.
Sabemos que a polícia sabe mais do que nós e não deixará impressionar-se por meia centena de "cidadãos indignados" que gostariam de crucificar, desde já, todos os suspeitos. O habitual. Provavelmente, só essa condenação os expiará da mórbida condição de "voyeurs", da qual nunca conseguiram libertar-se. Uma tradição inquisitorial, perpetuada pelo obscurantismo de séculos, em que continuamos a viver. Portugal medieval no seu estado mais bruto. Lamentável.
As imagens desta manhã, em directo de Portimão, mostraram - pela primeira vez - uma multidão hostil e ululante manifestando-se contra a mãe da desaparecida menina. Bastou um interrogatório de 11 horas para que a opinião da opinião pública (que a publicada já tinha avançado com o julgamento) tenha mudado de posição e Kate McCann tenha passado de heroína a homicida.
Independentemente do veredicto final, ninguém poderá julgar Kate antes desta ser julgada. Este é o princípio de inocência que um estado de direito deve começar por respeitar.
Sabemos que a polícia sabe mais do que nós e não deixará impressionar-se por meia centena de "cidadãos indignados" que gostariam de crucificar, desde já, todos os suspeitos. O habitual. Provavelmente, só essa condenação os expiará da mórbida condição de "voyeurs", da qual nunca conseguiram libertar-se. Uma tradição inquisitorial, perpetuada pelo obscurantismo de séculos, em que continuamos a viver. Portugal medieval no seu estado mais bruto. Lamentável.
2007/09/06
Do Portugal profundo (2)
Ode ao "Óscar" (*)
Lá p'rós lados de Lanhelas
Vive o "Óscar do funil"
Toma conta dos carneiros
leva vida de baril...
Sentado no seu castelo
No meio da mata plantado
Dizem que é eremita
Mas é homem avisado...
Foi criado p'la Maria
Pintora de Amsterdão
Que ajudada pelo Meira
Concebeu a instalação
Agora no Alto-Minho
Volta a reza com fervor
Nasceu um novo "santinho"
Que não precisa de andor
Cuidem-se os santos zelotes
Que o "Óscar" está para durar!
Ainda vai passar à história
Com o IPPAR a ajudar...
Agosto de 2007
(*) Quadras soltas, escritas por ocasião da inauguração de uma instalação de
Maria Mendes, na aldeia de Lanhelas, em Caminha.
Lá p'rós lados de Lanhelas
Vive o "Óscar do funil"
Toma conta dos carneiros
leva vida de baril...
Sentado no seu castelo
No meio da mata plantado
Dizem que é eremita
Mas é homem avisado...
Foi criado p'la Maria
Pintora de Amsterdão
Que ajudada pelo Meira
Concebeu a instalação
Agora no Alto-Minho
Volta a reza com fervor
Nasceu um novo "santinho"
Que não precisa de andor
Cuidem-se os santos zelotes
Que o "Óscar" está para durar!
Ainda vai passar à história
Com o IPPAR a ajudar...
Agosto de 2007
(*) Quadras soltas, escritas por ocasião da inauguração de uma instalação de
Maria Mendes, na aldeia de Lanhelas, em Caminha.
2007/09/02
Do Portugal profundo
Sem computador para trabalhar (ver "post" anterior) resolvi passar uma semana a "banhos". A convite de uma amiga, com casa em Caminha, optei pelo Alto-Minho. Adoro Caminha, por variadas razões: a localização privilegiada, a harmonia do centro histórico da vila, os amigos que fiz ao longo dos anos, as praias, a mata do Camarido, alguns restaurantes e a sensação de estar ao lado da Galiza, ali mesmo à mão de semear...
Por me parecer mais prático e rápido, viajei de autocarro: Não teria de fazer transbordos e havia uma paragem, em Pombal, para estender as pernas. Um total de seis horas, de acordo com o horário. Pelo sim, pelo não, tentei confirmar com a funcionária da empresa de camionagem a que horas chegava. Disse-me que, em princípio, devia ser à meia-noite e meia. Em princípio, porque na vida não há certezas. Elucidativo.
Acontece que a A1 está em obras (construção da terceira faixa) e estivemos parados uma hora e meia, algures na região de Santarém, enquanto as máquinas trabalhavam cinco quilómetros à frente da fila que, entretanto, se formou. A planeada paragem de 20 minutos transformou-se em meia-hora (para os condutores poderem jantar) e, em vez da meia noite, chegámos cerca das duas da madrugada. Jurei a mim mesmo não voltar a usar o autocarro na viagem de volta.
No regresso, optei pelo combóio. Tentei comprar bilhete de véspera, mas a bilheteira estava fechada. No dia da viagem, continuava fechada. O "chefe" de estação, de bandeira vermelha enrolada debaixo do braço, informou-me que podia adquirir o bilhete no combóio, mas foi avisando que teria de mudar em Viana. Em Viana? Sim, a ponte estava em obras, pelo que teria de passar para uma camioneta que me levaria à outra margem do Lima. Aí, retomávamos o combóio...
Com a mala às costas e no meio de um grupo de suecas (de mal a menos) que não percebiam nada do que se passava, lá atravessei a ponte de autocarro e apanhei o combóio seguinte, com meia-hora de atraso...
Obviamente, perdi a ligação com o Intercidades e tive de esperar, em Campanhã, pelo Alfa, que era mais caro e partia uma hora mais tarde. Em Santa Apolónia, ao apanhar um táxi, o taxista informa-me que não pode ir pela "baixa" porque a Praça do Comércio estava fechada ao trânsito. A primeira "grande medida" de António Costa...
Tempo total da viagem, após três combóios, um autocarro e um táxi: 7 horas, uma hora menos do que a viagem de ida em autocarro, para um percurso de cerca de 400km...
Recordei a primeira vez que estive em Caminha, em meados da década de oitenta, já lá vão 22 anos. Fui de autocarro e vim de combóio. Como agora. Demorei exactamente o mesmo tempo. A tradição ainda é o que era...
Por me parecer mais prático e rápido, viajei de autocarro: Não teria de fazer transbordos e havia uma paragem, em Pombal, para estender as pernas. Um total de seis horas, de acordo com o horário. Pelo sim, pelo não, tentei confirmar com a funcionária da empresa de camionagem a que horas chegava. Disse-me que, em princípio, devia ser à meia-noite e meia. Em princípio, porque na vida não há certezas. Elucidativo.
Acontece que a A1 está em obras (construção da terceira faixa) e estivemos parados uma hora e meia, algures na região de Santarém, enquanto as máquinas trabalhavam cinco quilómetros à frente da fila que, entretanto, se formou. A planeada paragem de 20 minutos transformou-se em meia-hora (para os condutores poderem jantar) e, em vez da meia noite, chegámos cerca das duas da madrugada. Jurei a mim mesmo não voltar a usar o autocarro na viagem de volta.
No regresso, optei pelo combóio. Tentei comprar bilhete de véspera, mas a bilheteira estava fechada. No dia da viagem, continuava fechada. O "chefe" de estação, de bandeira vermelha enrolada debaixo do braço, informou-me que podia adquirir o bilhete no combóio, mas foi avisando que teria de mudar em Viana. Em Viana? Sim, a ponte estava em obras, pelo que teria de passar para uma camioneta que me levaria à outra margem do Lima. Aí, retomávamos o combóio...
Com a mala às costas e no meio de um grupo de suecas (de mal a menos) que não percebiam nada do que se passava, lá atravessei a ponte de autocarro e apanhei o combóio seguinte, com meia-hora de atraso...
Obviamente, perdi a ligação com o Intercidades e tive de esperar, em Campanhã, pelo Alfa, que era mais caro e partia uma hora mais tarde. Em Santa Apolónia, ao apanhar um táxi, o taxista informa-me que não pode ir pela "baixa" porque a Praça do Comércio estava fechada ao trânsito. A primeira "grande medida" de António Costa...
Tempo total da viagem, após três combóios, um autocarro e um táxi: 7 horas, uma hora menos do que a viagem de ida em autocarro, para um percurso de cerca de 400km...
Recordei a primeira vez que estive em Caminha, em meados da década de oitenta, já lá vão 22 anos. Fui de autocarro e vim de combóio. Como agora. Demorei exactamente o mesmo tempo. A tradição ainda é o que era...
2007/09/01
Aquela MACuina!
Durante quinze anos fui um utilizador de PC's. Lembro-me do primeiro "desktop", de marca "Tandon", que custou uma fortuna em 1990 e que permanece arrumado, mas operacional, na minha casa de Amsterdão. Também recordo o primeiro "laptop" (um genérico de nome "Magicbook") comprado em 1993, que ainda hoje funciona. Finalmente, o "Toshiba" (satellit) que me foi oferecido em 2003 e que, como os restantes, é regularmente utilizado.
Todos eles me deram horas de alegria, mas o tempo não perdoa. A pouca capacidade dos discos rígidos e a reduzida velocidade dos processadores, exigiam uma resposta mais adequada. Decidi-me a comprar um computador novo e fiz uma prospecção de mercado. Os vendedores mais conscienciosos e os testes da DECO indicavam o MAC como a melhor opção preço/qualidade (mais fáceis de utilizar, melhores "perfomances" técnicas, melhores placas gráficas, praticamente imunes a "virus" e um "design" imbatível). Para além disso, a incompatibilidade de programas tinha praticamente deixado de existir. Falei com amigos informáticos e todos aconselhavam a não comprar um MAC: era mais caro, maior dificuldade na reparação e, porque existem menos utilizadores, mais difícil de conseguir programas...
Uma escolha difícil, com argumentos pertinentes de ambos os lados. Porque sou um utilizador básico (tipo "nabo") optei por arriscar. A utilização "intuitiva" (friendly use), a compatibilidade de programas, agora mais imunes a vírus, tudo embrulhado num imaculado branco, convenceram-me: optei por um Macintosh.
Durante dois anos, a MACuina correspondeu às melhores expectativas. Até há dois meses.
Os primeiros problemas começaram com um estranho "arrastar" de programas, agora cada vez mais lentos. Quando "abria" mais do que um aplicativo em simultâneo, o sistema "bloqueava". O primeiro aviso "sério" chegou com um ponto de exclamação amarelo e a frase: "o volume do seu disco rígido está cheio! Apague alguns aplicativos para libertar a memória!". Fui verificar o disco e verifiquei que tinha dois terços da "memória" livre (!?). A determinado momento, já nem conseguia fazer o "login". Desesperado, consultei o representante da marca, que me aconselhou a comprar um "disco externo", "passar" para este toda a informação e tentar uma nova instalação do programa. Podia ser que resultasse...
Assim fiz, mas não resultou, pela simples razão de que não conseguia sequer aceder aos programas. Voltei à loja e fizeram-me o diagnóstico: o disco rígido estava irrecuperável. Necessitava de um novo. Não garantiam poder recuperar toda a informação. Deixei lá o computador e parti de férias. Paguei duas intervenções técnicas (diagnóstico e instalação) e um disco novo: Total €433,-
Esta semana fui buscá-lo. Metade da informação não foi recuperada (dezenas de documentos e mais de 9000 "mails", entre recebidos e enviados). Vai ser difícil reencontrar alguns documentos importantes. Aos "mails" não responderei. De mal, a menos...
Ontem, durante a reinstalação dos aplicativos, caíu-me o disco externo em cima do computador aberto...o écran parece, agora, um espelho rachado em quatro. Temo o pior. Provavelmente, vou ter de mandar instalar um novo. Mais duas intervenções técnicas e um novo écran.
Tento convencer-me que a maldição dos MAC é uma lenda. Toda a gente sabe que os discos rígidos dos PC's têm problemas e qualquer pessoa pode danificar o écran do seu computador. Adormeço com este pensamento positivo.
Todos eles me deram horas de alegria, mas o tempo não perdoa. A pouca capacidade dos discos rígidos e a reduzida velocidade dos processadores, exigiam uma resposta mais adequada. Decidi-me a comprar um computador novo e fiz uma prospecção de mercado. Os vendedores mais conscienciosos e os testes da DECO indicavam o MAC como a melhor opção preço/qualidade (mais fáceis de utilizar, melhores "perfomances" técnicas, melhores placas gráficas, praticamente imunes a "virus" e um "design" imbatível). Para além disso, a incompatibilidade de programas tinha praticamente deixado de existir. Falei com amigos informáticos e todos aconselhavam a não comprar um MAC: era mais caro, maior dificuldade na reparação e, porque existem menos utilizadores, mais difícil de conseguir programas...
Uma escolha difícil, com argumentos pertinentes de ambos os lados. Porque sou um utilizador básico (tipo "nabo") optei por arriscar. A utilização "intuitiva" (friendly use), a compatibilidade de programas, agora mais imunes a vírus, tudo embrulhado num imaculado branco, convenceram-me: optei por um Macintosh.
Durante dois anos, a MACuina correspondeu às melhores expectativas. Até há dois meses.
Os primeiros problemas começaram com um estranho "arrastar" de programas, agora cada vez mais lentos. Quando "abria" mais do que um aplicativo em simultâneo, o sistema "bloqueava". O primeiro aviso "sério" chegou com um ponto de exclamação amarelo e a frase: "o volume do seu disco rígido está cheio! Apague alguns aplicativos para libertar a memória!". Fui verificar o disco e verifiquei que tinha dois terços da "memória" livre (!?). A determinado momento, já nem conseguia fazer o "login". Desesperado, consultei o representante da marca, que me aconselhou a comprar um "disco externo", "passar" para este toda a informação e tentar uma nova instalação do programa. Podia ser que resultasse...
Assim fiz, mas não resultou, pela simples razão de que não conseguia sequer aceder aos programas. Voltei à loja e fizeram-me o diagnóstico: o disco rígido estava irrecuperável. Necessitava de um novo. Não garantiam poder recuperar toda a informação. Deixei lá o computador e parti de férias. Paguei duas intervenções técnicas (diagnóstico e instalação) e um disco novo: Total €433,-
Esta semana fui buscá-lo. Metade da informação não foi recuperada (dezenas de documentos e mais de 9000 "mails", entre recebidos e enviados). Vai ser difícil reencontrar alguns documentos importantes. Aos "mails" não responderei. De mal, a menos...
Ontem, durante a reinstalação dos aplicativos, caíu-me o disco externo em cima do computador aberto...o écran parece, agora, um espelho rachado em quatro. Temo o pior. Provavelmente, vou ter de mandar instalar um novo. Mais duas intervenções técnicas e um novo écran.
Tento convencer-me que a maldição dos MAC é uma lenda. Toda a gente sabe que os discos rígidos dos PC's têm problemas e qualquer pessoa pode danificar o écran do seu computador. Adormeço com este pensamento positivo.
2007/08/20
Uma singela homenagem

Morreu há quatro dias um dos grandes bateristas da história do jazz. Max Roach era um dos últimos sobreviventes da era do bebop, companheiro, por exemplo, do mítico Charlie Parker. Embora tenha sido um dos mais influentes membros de um dos mais importantes movimentos musicais do século XX, o jazz, e tenha marcado profundamente um dos seus períodos mais determinantes, o bebop, Roach foi sempre um experimentador e um músico corajoso até ao fim. Este homem que tocou com Parker no princípio da década de 40, não se coibia de colaborar com artistas da área do video, ou com músicos de estilos musicais como o hip-hop.
Não costumo contribuir para este género de obituários, mas para tudo há excepções. Não é possível esquecer o seu estilo preciso, virtuoso e elegante.
2007/08/12
Sinal e ruído
A discussão que o post Sinais gerou suscita-me mais esta pequena achega.
Ontem os jornais noticiavam que Luís Filipe Menezes se declarou indignado com
os insultos de que tem sido alvo ao longo da campanha para as eleições no PSD. Não faltam exemplos deste tipo de práticas. É difícil esquecer a imagem do que nesta matéria se passou não tão há tanto tempo assim, em congressos partidários. É difícil esquecer comentários e declarações instituicionais de responsáveis políticos e do Estado. É difícil esquecer o que se passa por aí, na prática de tantas autarquias, na AR e noutras instituições públicas e privadas, nas ilhas e no continente. Para os portugueses o confronto natural de ideias e de interesses passa com frequência inadmissível pelo insulto e pela pesporrência.
As instituições, que são constituídas por pessoas, limitam-se a espelhar tudo isto. Não é este governo, não são estes dirigentes de organismos públicos, nem são estes partidos os culpados. São os portugueses que fazem gala em exibir um comportamento troglodita e isso reflete-se depois nos seus comportamentos intitucionais e pessoais, públicos ou privados.
Neste capítulo, não há sinais. Há ruído!
Por isso, em meu entender, temos de apreciar determinados acontecimentos com cautela e distância. Não devia ser grande motivo de admiração o facto de alguém reagir ao insulto, à pesporrência ou, em geral, à falta de educação. Mas, curiosamente é.
Ontem, dizia eu, ouvimos Menezes a manifestar a sua tristeza com os insultos de que tem sido alvo. Hoje ficamos a saber que um romeno que ia a pé pela A8 foi sucessivamente atrolepado por vários automobilistas, que não pararam. O alerta foi, finalmente, dado por uma condutora que embateu no corpo já sem vida e parou. De troglodita a assassino vai um pequeno passo.
Por mim, assisto a tudo o que se vai passando à minha volta com grande desconfiança, estabelecendo nexos de causalidade, quiçá abusivos, admito-o. Tenho porém crescente dificuldade em separar o sinal do ruído...
Ontem os jornais noticiavam que Luís Filipe Menezes se declarou indignado com
os insultos de que tem sido alvo ao longo da campanha para as eleições no PSD. Não faltam exemplos deste tipo de práticas. É difícil esquecer a imagem do que nesta matéria se passou não tão há tanto tempo assim, em congressos partidários. É difícil esquecer comentários e declarações instituicionais de responsáveis políticos e do Estado. É difícil esquecer o que se passa por aí, na prática de tantas autarquias, na AR e noutras instituições públicas e privadas, nas ilhas e no continente. Para os portugueses o confronto natural de ideias e de interesses passa com frequência inadmissível pelo insulto e pela pesporrência.
As instituições, que são constituídas por pessoas, limitam-se a espelhar tudo isto. Não é este governo, não são estes dirigentes de organismos públicos, nem são estes partidos os culpados. São os portugueses que fazem gala em exibir um comportamento troglodita e isso reflete-se depois nos seus comportamentos intitucionais e pessoais, públicos ou privados.
Neste capítulo, não há sinais. Há ruído!
Por isso, em meu entender, temos de apreciar determinados acontecimentos com cautela e distância. Não devia ser grande motivo de admiração o facto de alguém reagir ao insulto, à pesporrência ou, em geral, à falta de educação. Mas, curiosamente é.
Ontem, dizia eu, ouvimos Menezes a manifestar a sua tristeza com os insultos de que tem sido alvo. Hoje ficamos a saber que um romeno que ia a pé pela A8 foi sucessivamente atrolepado por vários automobilistas, que não pararam. O alerta foi, finalmente, dado por uma condutora que embateu no corpo já sem vida e parou. De troglodita a assassino vai um pequeno passo.
Por mim, assisto a tudo o que se vai passando à minha volta com grande desconfiança, estabelecendo nexos de causalidade, quiçá abusivos, admito-o. Tenho porém crescente dificuldade em separar o sinal do ruído...
2007/08/09
O nariz do salmão
Desde muito novo que tenho uma admiração especial pelo salmão. Não sei quando começou este meu fascinío, mas provavelmente foi nalgum filme sobre a natureza em que é pródiga a televisão. O ciclo de vida dos salmões e o seu regresso ao lugar de nascimento, onde chegam (já vermelhos) para acasalar e desovar, é uma das lutas mais titânicas do reino animal a que tenho assistido. Nela está condensada a metáfora da nossa sobrevivência.
Mais tarde, já adulto, tive o prazer de saboreá-los pela primeira vez quando ainda era possível comer salmão pescado em rios noruegueses. Uma experiência gastronómica inesquecível. Ainda hoje os holandeses usam a expressão "het neus van de zalm" (o nariz do salmão) como superlativo da qualidade absoluta. Por alguma razão, os gulosos ursos pardos só comem a cabeça e as ovas do peixe, apanhado à pata nos "rápidos" canadianos.
Vem esta história toda a propósito de uma notícia publicada nos principais diários portugueses. Os mais famosos "english springer" da praia da Luz, responsáveis pela descoberta de odores a cadáver no apartamento e nas vizinhanças do complexo turístico algarvio, são alimentados a salmão. E nós que nunca tinhamos pensado nisto!
Longe de mim duvidar dos métodos policiais portugueses. Mas, se apenas em dois dias (e após três meses de buscas infrutíferas) foram obtidos tais resultados, não será de considerar mudar os hábitos alimentares dos nossos pisteiros? Já temos polícias, já temos cães e, agora, até salmões em viveiros. Porque não experimentar?
Além do mais, deixávamos de necessitar de pedir os cães emprestados aos ingleses que gozam com os nossos métodos primitivos de obter confissões, como mostram as fotos da cara da mãe da Joana, também ela acusada de ter dado desaparecimento à filha.
Os cães nunca se enganam. Cá para mim, o segredo está no peixe. Dêem-lhes salmão e vão ver os resultados...
Mais tarde, já adulto, tive o prazer de saboreá-los pela primeira vez quando ainda era possível comer salmão pescado em rios noruegueses. Uma experiência gastronómica inesquecível. Ainda hoje os holandeses usam a expressão "het neus van de zalm" (o nariz do salmão) como superlativo da qualidade absoluta. Por alguma razão, os gulosos ursos pardos só comem a cabeça e as ovas do peixe, apanhado à pata nos "rápidos" canadianos.
Vem esta história toda a propósito de uma notícia publicada nos principais diários portugueses. Os mais famosos "english springer" da praia da Luz, responsáveis pela descoberta de odores a cadáver no apartamento e nas vizinhanças do complexo turístico algarvio, são alimentados a salmão. E nós que nunca tinhamos pensado nisto!
Longe de mim duvidar dos métodos policiais portugueses. Mas, se apenas em dois dias (e após três meses de buscas infrutíferas) foram obtidos tais resultados, não será de considerar mudar os hábitos alimentares dos nossos pisteiros? Já temos polícias, já temos cães e, agora, até salmões em viveiros. Porque não experimentar?
Além do mais, deixávamos de necessitar de pedir os cães emprestados aos ingleses que gozam com os nossos métodos primitivos de obter confissões, como mostram as fotos da cara da mãe da Joana, também ela acusada de ter dado desaparecimento à filha.
Os cães nunca se enganam. Cá para mim, o segredo está no peixe. Dêem-lhes salmão e vão ver os resultados...
2007/08/07
A força da Lei
Aqui há tempos, não sei se se recordam, o Papa surpreendeu o mundo ao decretar o fim do limbo. Assim, por decreto, a Humanidade ficou, repentinamente, privada de um instituição milenar tão importante e estimável como era o limbo.
Ora, para que não possamos dizer que já nada nos surpreende, lemos hoje que o governo chinês proibiu o Dalai Lama de reencarnar. Sem apelo, nem agravo.
As razões que terão conduzido a esta fúria legislativa sobre matéria desta natureza escapam-me, mas se a moda continua poderemos, quiçá, esperar para breve que os anjos sejam forçados a preencher a declaração anual de IRS ou que a Santíssima Trindade seja reduzida por motivo de contenção de despesas, a uma única pessoa.
Eu sugiro ao Papa e ao governo chinês ou a quem mais se sinta tentado a legislar sobre o domínio do sagrado e do intangível, que levem tudo isto muito mais a sério e actuem de modo mais profissional. Escolham, por exemplo, a stand-up comedy! As televisões iam adorar. Teriam certamente mais público, conseguiam dar um ar mais profissional à coisa e, se calhar, ainda faziam uma coroas. Assim, isto tem ar amador e a gente ri sem pagar...
Ora, para que não possamos dizer que já nada nos surpreende, lemos hoje que o governo chinês proibiu o Dalai Lama de reencarnar. Sem apelo, nem agravo.
As razões que terão conduzido a esta fúria legislativa sobre matéria desta natureza escapam-me, mas se a moda continua poderemos, quiçá, esperar para breve que os anjos sejam forçados a preencher a declaração anual de IRS ou que a Santíssima Trindade seja reduzida por motivo de contenção de despesas, a uma única pessoa.
Eu sugiro ao Papa e ao governo chinês ou a quem mais se sinta tentado a legislar sobre o domínio do sagrado e do intangível, que levem tudo isto muito mais a sério e actuem de modo mais profissional. Escolham, por exemplo, a stand-up comedy! As televisões iam adorar. Teriam certamente mais público, conseguiam dar um ar mais profissional à coisa e, se calhar, ainda faziam uma coroas. Assim, isto tem ar amador e a gente ri sem pagar...
2007/08/03
Burka informativa
Ausente do país, na semana em que o programa foi transmitido, perdi um dos muitos momentos "zen" da nossa televisão estatal. Só ontem, num blogue concorrente, fui confrontado com as fotos: a jornalista Márcia Rodrigues (RTP2) tinha entrevistado o embaixador do Irão, em Lisboa, coberta dos pés à cabeça por um longo vestido negro, de lenço e luvas pretas (!?). Pensei, ainda, tratar-se de um novo filme do Borat, mas a cara da Márcia não enganava. Só podia ser ela, qual viúva penitente, subjugada às leis do grande profeta. Não sei se hei-de rir, se hei-de chorar. Também sei que o ridículo mata. Logo, alguma penitência deve ser cobrada. Que dizer deste quadro, digno de uma televisão terceiro mundista? Com "amigas" destas, as mulheres oprimidas pelos regimes islâmicos, podem estar descansadas: a "burka" está bem entregue.
2007/08/01
Sinais
Bem podem os "arautos da democracia" e das "liberdades adquiridas" apregoar a isenção do governo, relativamente ao direito de opinião e às perseguições políticas do PS. Hoje mesmo, a directora do Museu de Arte Antiga, Dalila Rodrigues, foi demitida por críticas à gestão orçamental dos museus portugueses. Se isto não é intolerância, o que será?
2007/07/30
Ingmar Bergman
Por diversas vezes anunciou abandonar o cinema para dedicar-se ao teatro (a sua outra grande paixão) mas regressava sempre com filmes, se possível, melhores do que os anteriores: "Cenas da Vida Conjugal", "Fanny & Alexander", "Depois do Ensaio" e esse extraordinário "Saraband", derradeiro testamento de uma obra ímpar.
Na última entrevista que dele li, falava com carinho das suas mulheres-artistas e do clã de amigos de que se rodeava na ilha de Farô, onde possuia uma casa. Sobre a morte, dizia que tinha um "pacto" com o amigo e artista fétiche Erland Josephson: "Quando um de nós estiver senil, o outro deve ajudá-lo a morrer".
Não sei como morreu. A notícia chegou hoje, neutral e fria como um Verão escandinavo. Bergman pode ter partido, mas os filmes permanecerão sempre como prova maior da sua genialidade.
2007/07/27
2007/07/26
Socratismos
A grande entrevista do primeiro-ministro a um "canal da concorrência" foi, a vários níveis, elucidativa. De um lado, dois entrevistadores apostados em mostrar as contradições do governo; do outro, um político que fez a sua carreira televisiva no "canal do regime" e domina a técnica do debate. Aos temas "quentes" da agenda nacional (função pública, serviço nacional de saúde, educação, localização do novo aeroporto, redução do "déficit", tratado europeu ou a "deriva autoritária" do regime), Sócrates respondeu invariavelmente ao "lado", algumas vezes irritado e, sempre, contrariando as insinuações negativas com projecções optimistas. Ficámos assim a saber que: apesar do governo ter anunciado uma redução de 6.000 funcionários públicos, só tinham sido dispensados, até agora, cerca de 900; que apesar do encerramento das unidades de saúde, o sistema está melhor do que no tempo de Leonor Beleza (!?); que, apesar do descalabro na matemática e no ensino em geral, há cada vez mais computadores nas escolas; que apesar de trinta anos de estudos, sem ter sido considerada, a hipótese Alcochete pode bem vir a ser a localização do novo aeroporto; que apesar da redução do "déficit", não ser uma obsessão, continua a ser o objectivo do governo; que o Referendo sobre o Tratado Europeu, não tendo sido rejeitado, poderá ser dispensado, por não se tratar de um novo Tratado; que o Manuel Alegre, tendo sempre dito que existia medo na sociedade portuguesa, não podia ser verdade. É difícil argumentar contra tantas certezas. Como pode um "lider" destes, enganar-se?
Revejo o programa, na sua repetição matinal, e fico com uma dúvida: ou os entrevistadores prepararam mal a entrevista, ou Sócrates vive noutro país, que não Portugal. Em tempos não muito recuados, um outro primeiro-ministro (agora presidente), também não lia jornais, nunca errava e raramente se enganava. Para o actual primeiro-ministro, apesar dos jornais, parece haver um só caminho: presume-se que seja longo, difícil e escuro, como um túnel, com uma luz ao fundo. Espero bem que não seja a luz do comboio em sentido contrário.
Como dizia, por estes dias, um famoso escriba da blogosfera: "isto ainda vai acabar mal"...
Revejo o programa, na sua repetição matinal, e fico com uma dúvida: ou os entrevistadores prepararam mal a entrevista, ou Sócrates vive noutro país, que não Portugal. Em tempos não muito recuados, um outro primeiro-ministro (agora presidente), também não lia jornais, nunca errava e raramente se enganava. Para o actual primeiro-ministro, apesar dos jornais, parece haver um só caminho: presume-se que seja longo, difícil e escuro, como um túnel, com uma luz ao fundo. Espero bem que não seja a luz do comboio em sentido contrário.
Como dizia, por estes dias, um famoso escriba da blogosfera: "isto ainda vai acabar mal"...
2007/07/24
Uma semana noutra cidade
Nada como saír do país por uns dias, mesmo que o pretexto não sejam as férias, como era o caso.
Visto à distância, Portugal (os portugueses) tem sempre mais encanto. Lembramo-nos do Sol, vagamente existente nas paragens por onde andámos; o peixinho fresco, a que alguns teimam em chamar "dieta mediterrânica" por não constar das refeições nórdicas e até os nossos "compatriotas" parecem, de longe, mais simpáticos. Por outro lado, deixamos por uns dias de ser bombardeados com os canais televisivos nacionais e as suas omnipresentes figuras que, de tanto vistas e ouvidas, se tornaram inaudíveis. Um alívio...
Findo o interlúdio, e enquanto nos preparamos para regressar à "terrinha", munimo-nos da respectiva literatura que ocupará as três horas que dura a viagem. Alguns jornais, no caso holandeses e espanhóis que eram os únicos fornecidos a bordo e um livro para o que desse e viesse...
E aqui surge a primeira surpresa. Ao folhear o "Volkskrant" (diário holandês de Amsterdão), um título chama a nossa atenção: "Chinezen blazen Portugal nieuw leven in" (Chineses insuflam nova vida em Portugal). O artigo, da autoria de um tal Hans Moleman, descreve o crescente interesse dos chineses pelo nosso país. Exemplos não faltam: desde a proliferação de lojas chinesas por todo o lado, até ao recente anúncio da compra do clube Benfica por 80 milhões de euros (uma pechincha, de acordo com o jornalista). De regresso à Costa da Caparica, onde já não vinha há alguns anos, Moleman confirma a decadência da estância balnear do "proletariado da Margem Sul", agora repleta de lojas chinesas. Só na Rua dos Pescadores, existem quatro! É lá que o cronista toma o seu galão todas as manhãs e faz compras. Hans evita as lojas chinesas, sempre cheias, para desespero dos últimos comerciantes da zona. Na procura de uma faca para fruta, prefere um sólido exemplar de cozinha da Industria de Cutelarias da Estremadura. Custo, 4 euros e 52 cêntimos. Cinco vezes mais cara do que na loja chinesa, mas com dez anos de garantia e tão afiada que ele cortou um dedo logo na primeira vez que a usou...
Ainda mal refeito da surpresa, folheio o "El País" para descobrir mais duas notícias sobre portugueses: uma, relacionada com a reportagem "Iberia, capital Lisboa" que teve o maior número de visitas "on line" da semana (27.000 consultas!) após a polémica entrevista de Saramago; outra, sobre a primeira actuação de Teresa Salgueiro a "solo", no Festival Pirineos Sur, onde cantou temas do seu album "brasileiro". Depois de lamentar a escolha de reportório da cantora, para o qual lhe falta "algo de soltura", o articulista acaba por elogiar a coragem da intérprete portuguesa em arriscar novas sonoridades. A mesma opinião, relativamente ao grupo "The Gift" que "pratica pop-rock electrónico elaborado con mimo" e que "tiene en la voz masculina de Sonia Tavares su principal haber". Que mais podemos desejar...
Vinha eu a cogitar nestas pequenas, mas positivas, notícias sobre o nosso país, quando desembarco no campo de aviação chamado Portela: meia-hora de espera por uma simples mala, desorganização completa nos serviços de táxi, que obriga à intervenção policial para decidir qual a ordem de atendimento dos utentes, um chauffeur enfadado que me obriga a repetir por três vezes vezes a localidade pretendida e, já dentro do carro, num último olhar aos painéis publicitários que cobrem a sala de espera do aeroporto, a frase eloquente: "visit the real Allgarve!". Não havia dúvidas: tinha regressado ao pais pimba.
Como diria Chatwin, no seu famoso livro, que faço eu aqui?
Visto à distância, Portugal (os portugueses) tem sempre mais encanto. Lembramo-nos do Sol, vagamente existente nas paragens por onde andámos; o peixinho fresco, a que alguns teimam em chamar "dieta mediterrânica" por não constar das refeições nórdicas e até os nossos "compatriotas" parecem, de longe, mais simpáticos. Por outro lado, deixamos por uns dias de ser bombardeados com os canais televisivos nacionais e as suas omnipresentes figuras que, de tanto vistas e ouvidas, se tornaram inaudíveis. Um alívio...
Findo o interlúdio, e enquanto nos preparamos para regressar à "terrinha", munimo-nos da respectiva literatura que ocupará as três horas que dura a viagem. Alguns jornais, no caso holandeses e espanhóis que eram os únicos fornecidos a bordo e um livro para o que desse e viesse...
E aqui surge a primeira surpresa. Ao folhear o "Volkskrant" (diário holandês de Amsterdão), um título chama a nossa atenção: "Chinezen blazen Portugal nieuw leven in" (Chineses insuflam nova vida em Portugal). O artigo, da autoria de um tal Hans Moleman, descreve o crescente interesse dos chineses pelo nosso país. Exemplos não faltam: desde a proliferação de lojas chinesas por todo o lado, até ao recente anúncio da compra do clube Benfica por 80 milhões de euros (uma pechincha, de acordo com o jornalista). De regresso à Costa da Caparica, onde já não vinha há alguns anos, Moleman confirma a decadência da estância balnear do "proletariado da Margem Sul", agora repleta de lojas chinesas. Só na Rua dos Pescadores, existem quatro! É lá que o cronista toma o seu galão todas as manhãs e faz compras. Hans evita as lojas chinesas, sempre cheias, para desespero dos últimos comerciantes da zona. Na procura de uma faca para fruta, prefere um sólido exemplar de cozinha da Industria de Cutelarias da Estremadura. Custo, 4 euros e 52 cêntimos. Cinco vezes mais cara do que na loja chinesa, mas com dez anos de garantia e tão afiada que ele cortou um dedo logo na primeira vez que a usou...
Ainda mal refeito da surpresa, folheio o "El País" para descobrir mais duas notícias sobre portugueses: uma, relacionada com a reportagem "Iberia, capital Lisboa" que teve o maior número de visitas "on line" da semana (27.000 consultas!) após a polémica entrevista de Saramago; outra, sobre a primeira actuação de Teresa Salgueiro a "solo", no Festival Pirineos Sur, onde cantou temas do seu album "brasileiro". Depois de lamentar a escolha de reportório da cantora, para o qual lhe falta "algo de soltura", o articulista acaba por elogiar a coragem da intérprete portuguesa em arriscar novas sonoridades. A mesma opinião, relativamente ao grupo "The Gift" que "pratica pop-rock electrónico elaborado con mimo" e que "tiene en la voz masculina de Sonia Tavares su principal haber". Que mais podemos desejar...
Vinha eu a cogitar nestas pequenas, mas positivas, notícias sobre o nosso país, quando desembarco no campo de aviação chamado Portela: meia-hora de espera por uma simples mala, desorganização completa nos serviços de táxi, que obriga à intervenção policial para decidir qual a ordem de atendimento dos utentes, um chauffeur enfadado que me obriga a repetir por três vezes vezes a localidade pretendida e, já dentro do carro, num último olhar aos painéis publicitários que cobrem a sala de espera do aeroporto, a frase eloquente: "visit the real Allgarve!". Não havia dúvidas: tinha regressado ao pais pimba.
Como diria Chatwin, no seu famoso livro, que faço eu aqui?
2007/07/23
Procura-se a mulher de César

Mais à frente na reportagem, uma mulher que foi testemunha da operação que levou à prisão deste criminoso é entrevistada. Diz que estava junto ao banco quando o viu passar. Achou estranha a barba do homem. Procurava, justamente, alertar a polícia quando, de repente, começou a operação de captura de "El Solitário." Chegaram uns carros com uns homens que levavam "armas de cano grosso," descrevia a mulher, e caíram em cima do barbudo. Ela ficou com medo porque pensava que se trataria de um assalto e que estes homens é que seriam os assaltantes.
Estranhos tempos estes. À mulher de César, reza o rifão, não basta ser séria. Tem de parecer séria. Ou... será ao contrário?
2007/07/21
Filhos de um deus omisso
A notícia, discreta, dá conta da criação de um novo "reality show" nos EUA (where else...?) feito por crianças. Chama-se "Kid Nation" e é produzido pela CBS. O objectivo deste programa é o de deixar as crianças por conta própria, resolvendo, sem a intervenção dos adultos, os problemas práticos do dia a dia que resultam desta situação forçada. As câmaras atentas registam as acções desta espécie de micro sociedade em estado quase puro, à qual foi dada esta espécie de autonomia de que as crianças habitualmente não disfrutam. O "Kid Nation" serve para observar, segundo os seus promotores, 40 crianças durante 40 dias enquanto elas tentam construir um mundo novo de raiz...
As câmaras do "Kid Nation" registam objectivos que à superfície até parecem interessantes. Interessantes o suficiente, pelo menos, para investir na produção de um dispendioso programa de televisão. Uma quase experiência científica com tonalidades de exercício pedagógico, a pretender provar que as crianças podem, apesar da sua aparente fragilidade, lidar ou aprender a lidar, individual e colectivamente, com um quotidiano exigente e criar uma nova realidade.
Claro que tudo isto não passa de uma enorme mentira. Estamos perante um caso sério de exploração do trabalho infantil. As crianças eram, segundo relatos dos produtores, acordadas às sete da manhã e filmavam muitas vezes até depois da meia noite. Somas consideráveis de dinheiro foram atribuídas aos "concorrentes" que se iam distinguindo, para ir mantendo a "experiência" no ponto.
A exploração infantil não ocorre apenas naqueles países do costume que as boas consciências, sobretudo a imprensa cobarde, tratam de apontar quando a agenda recomenda. Este tipo de exploração, disfarçado com mais ou menos holofotes e make-up, não é menos brutal. A diferença entre o menino que produz as bolas para o Mundial e o menino do reality show está apenas nos holofotes e no maior ou menor cinismo com que o assunto é analisado.
Já agora, pergunto-me onde andará a Igreja Católica (em particular a americana) nestas alturas... Tão lesta que ela é a meter o bedelho nas escolhas individuais e conscientes de cada um e tão omissa quando se trata de denunciar o que acontece a estes filhos de Deus, em particular! Talvez não tenha oportunidade, é certo, com o tempo que lhe resta depois de andar a resolver as suas escandaleiras internas.
Aguardemos a versão portuguesa do "Kid Nation"...
As câmaras do "Kid Nation" registam objectivos que à superfície até parecem interessantes. Interessantes o suficiente, pelo menos, para investir na produção de um dispendioso programa de televisão. Uma quase experiência científica com tonalidades de exercício pedagógico, a pretender provar que as crianças podem, apesar da sua aparente fragilidade, lidar ou aprender a lidar, individual e colectivamente, com um quotidiano exigente e criar uma nova realidade.
Claro que tudo isto não passa de uma enorme mentira. Estamos perante um caso sério de exploração do trabalho infantil. As crianças eram, segundo relatos dos produtores, acordadas às sete da manhã e filmavam muitas vezes até depois da meia noite. Somas consideráveis de dinheiro foram atribuídas aos "concorrentes" que se iam distinguindo, para ir mantendo a "experiência" no ponto.
A exploração infantil não ocorre apenas naqueles países do costume que as boas consciências, sobretudo a imprensa cobarde, tratam de apontar quando a agenda recomenda. Este tipo de exploração, disfarçado com mais ou menos holofotes e make-up, não é menos brutal. A diferença entre o menino que produz as bolas para o Mundial e o menino do reality show está apenas nos holofotes e no maior ou menor cinismo com que o assunto é analisado.
Já agora, pergunto-me onde andará a Igreja Católica (em particular a americana) nestas alturas... Tão lesta que ela é a meter o bedelho nas escolhas individuais e conscientes de cada um e tão omissa quando se trata de denunciar o que acontece a estes filhos de Deus, em particular! Talvez não tenha oportunidade, é certo, com o tempo que lhe resta depois de andar a resolver as suas escandaleiras internas.
Aguardemos a versão portuguesa do "Kid Nation"...
2007/07/15
Ibéria
O Prémio Nobel português afirma hoje em entrevista ao DN que Portugal será, mais tarde ou mais cedo, integrado em Espanha. Acredito que não existirão janelas suficientes para defenestrar todos os portugueses que concordam com a ideia, fartos do putedo que por aí vai há tanto tempo e da continuada falta de soluções para os repisados problemas com que nos debatemos.
É um assunto complexo que merece um debate desapaixonado.
Claro que a ideia não seria facilmente implementável. Para começar, a promoção desse debate sobre a intergração dos dois países requer uma maturidade política que os espanhóis, provavelmente, não têm e que os portugueses não têm com toda a certeza. É pena.
Retenho contudo uma afirmação de Saramago, em particular. Diz ele que "Quanto à queixa que tantas vezes ouço sobre a economia espanhola estar a ocupar Portugal, não me lembro de alguma vez termos reclamado de outras economias como as dos Estados Unidos ou Inglaterra que também ocuparam o país."
Creio que podemos esperar um ascendente crescente da economia espanhola sobre a portuguesa. E creio também que talvez não tenhamos mesmo alternativa: se um dia quisermos influenciar ou condicionar o modo de funcionamento da economia espanhola em solo português é bem possível que tenha de ser por dentro. A Ibéria talvez seja mesmo a única solução.
Agora desculpem-me, mas vou ali trancar as janelas...
É um assunto complexo que merece um debate desapaixonado.
Claro que a ideia não seria facilmente implementável. Para começar, a promoção desse debate sobre a intergração dos dois países requer uma maturidade política que os espanhóis, provavelmente, não têm e que os portugueses não têm com toda a certeza. É pena.
Retenho contudo uma afirmação de Saramago, em particular. Diz ele que "Quanto à queixa que tantas vezes ouço sobre a economia espanhola estar a ocupar Portugal, não me lembro de alguma vez termos reclamado de outras economias como as dos Estados Unidos ou Inglaterra que também ocuparam o país."
Creio que podemos esperar um ascendente crescente da economia espanhola sobre a portuguesa. E creio também que talvez não tenhamos mesmo alternativa: se um dia quisermos influenciar ou condicionar o modo de funcionamento da economia espanhola em solo português é bem possível que tenha de ser por dentro. A Ibéria talvez seja mesmo a única solução.
Agora desculpem-me, mas vou ali trancar as janelas...
2007/07/08
Maravilhas
Os concursos valem o que valem e o de ontem, num estádio de futebol em Lisboa, não foi excepção. Sete "novas" maravilhas do Mundo foram escolhidas através da internet por 100 milhões de cibernautas. Um "record", dizem os livros. A Unesco desacreditou o referendo e, pessoalmente, estou de acordo com o organismo internacional. Comparar o Cristo do Corcovado à Acrópole é, no mínimo, uma blasfémia cultural. Mas esta é a cultura global que temos e o apelo do presidente Lula, para os brasileiros votarem em massa num dos maiores símbolos de promoção turística da cidade maravilhosa, resultou em pleno. Quem ganhou de certeza com a "festa" foi a Jennifer Lopez, essa "oitava maravilha" do planeta, que arrecadou 1.5 milhões de euros por 2 (duas) canções em menos de dez minutos no relvado. O Cristiano Ronaldo deve ter ficado ruído de inveja. Resta Portugal: o que ganhou o nosso país com a promoção? Não sabemos. Esperemos que muito. Talvez o ICEP devesse pensar em promover mais concursos destes por ano, pois a "cultura" sempre é capaz de vender bem melhor do que o "Allgarve"...
2007/07/07
Live Earth
Hoje decorre, como se sabe, o Live Earth. Alguém se terá, certamente, esquecido de fazer as contas ao gasto de energia desta mega operação...
Estas coisas gigantescas, à escala planetária, geradoras de movimentos de multidões que marcham a toque de caixa, deixam-me sempre de pé atrás. Quando falamos de consciência ecológica, só consigo recordar-me daqueles povos que vivem, discretamente, em íntima comunhão com o ambiente que os rodeia. Nunca se viu grande alarido à volta disso. Estes povos praticam a consciência ecológica no seu dia a dia e revelam nisso uma eficácia bem maior que este Live Earth. Praticam-na porque precisam. E acabou.
Os grandes interesses políticos e económicos que se adivinham por trás de tudo isto são perfeitamente explícitos, mas o facto não parece demover os promotores... Estes interesses --afinal os principais responsáveis por este estado de coisas-- lá estão, predadores miseráveis, a apoiar, directa ou indirectamente, o "big event".
E, no entanto...
Há qualquer coisa particularmente interessante nesta iniciativa. Adivinha-se uma grande generosidade em todos estes participantes, uma enorme boa vontade em todas as propostas elaboradas em nome desta causa e uma enorme fome de mudança. São raros os pretextos capazes de hoje unir tanta gente. Mas, sabemos quanto esta união é necessária! O problema ecológico é simplesmente (mais) um problema humano. Que podemos somar a tantos outros que os seres humanos estão constantemente a criar, reveladores, de uma forma ou de outra na sua génese e no seu tratamento, do nosso lado mais escuro...
Neste sentido, este Live Earth pode ser útil. Mostra, a quem quiser perceber, que são os seres humanos os únicos actores desta peça medíocre. Mostra que há afinal motivos de união. Mostra também que esses motivos de união são bem mais empolgantes que os motivos de desunião. Mostra ainda que o formato se poderia alargar, quem sabe, a outros espaços problemáticos da nossa vida colectiva, com menos danos colaterais. Mostra, finalmente, que é possível promover um debate sério sem "cimeiras", sem passadeiras vermelhas, sem altos dignitários, feito de e por gente comum.
E mostra, finalmente, que a música é aquilo que os seres humanos usam quando querem dar consistência às questões mais sérias que os afligem.
Estas coisas gigantescas, à escala planetária, geradoras de movimentos de multidões que marcham a toque de caixa, deixam-me sempre de pé atrás. Quando falamos de consciência ecológica, só consigo recordar-me daqueles povos que vivem, discretamente, em íntima comunhão com o ambiente que os rodeia. Nunca se viu grande alarido à volta disso. Estes povos praticam a consciência ecológica no seu dia a dia e revelam nisso uma eficácia bem maior que este Live Earth. Praticam-na porque precisam. E acabou.
Os grandes interesses políticos e económicos que se adivinham por trás de tudo isto são perfeitamente explícitos, mas o facto não parece demover os promotores... Estes interesses --afinal os principais responsáveis por este estado de coisas-- lá estão, predadores miseráveis, a apoiar, directa ou indirectamente, o "big event".
E, no entanto...
Há qualquer coisa particularmente interessante nesta iniciativa. Adivinha-se uma grande generosidade em todos estes participantes, uma enorme boa vontade em todas as propostas elaboradas em nome desta causa e uma enorme fome de mudança. São raros os pretextos capazes de hoje unir tanta gente. Mas, sabemos quanto esta união é necessária! O problema ecológico é simplesmente (mais) um problema humano. Que podemos somar a tantos outros que os seres humanos estão constantemente a criar, reveladores, de uma forma ou de outra na sua génese e no seu tratamento, do nosso lado mais escuro...
Neste sentido, este Live Earth pode ser útil. Mostra, a quem quiser perceber, que são os seres humanos os únicos actores desta peça medíocre. Mostra que há afinal motivos de união. Mostra também que esses motivos de união são bem mais empolgantes que os motivos de desunião. Mostra ainda que o formato se poderia alargar, quem sabe, a outros espaços problemáticos da nossa vida colectiva, com menos danos colaterais. Mostra, finalmente, que é possível promover um debate sério sem "cimeiras", sem passadeiras vermelhas, sem altos dignitários, feito de e por gente comum.
E mostra, finalmente, que a música é aquilo que os seres humanos usam quando querem dar consistência às questões mais sérias que os afligem.
2007/07/03
Peixeiradas
Aos pescadores de Matosinhos, que protestavam contra as quotas impostas por Bruxelas, respondeu Jaime, o ministro do peixe: "se não estão satisfeitos, peçam para sair da Europa". Mas como, se ninguém os consultou para entrar?
2007/07/02
Túnel do Marquês NÃO dá razão a Santana Lopes

Baseia-se a matéria em que «os que entram e saem da capital têm a vida facilitada». E juntam-se as opiniões de dois automobilistas que moram nos arredores (Estoril e Linda-a-Velha) e que dizem poupar imenso tempo em relação ao que gastavam antes de haver o túnel e o depoimento de um residente na Av. Joaquim António de Aguiar que diz que o túnel melhorou a qualidade de vida dele. A ver se o Expresso foi entrevistar quem vinha (e continua a vir) de transportes públicos para a capital. Ou se perguntou alguma coisa a quem vive na Fontes Pereira de Melo.
Bom, mas há ainda o argumento, que para alguns parecerá definitivo, do motorista de táxi que diz que dantes se recusava a levar clientes Rua Castilho acima e que agora vai sem problema, o que o fez mudar de opinião acerca do túnel: era contra e agora é a favor. Se um profissional fala assim... De facto, ele também terá a sua sensibilidade empírica ao aumento de tráfego causado pelo débito de mais cerca de 15.000 veículos por dia dentro de Lisboa. O problema é que o taxista faz o seu cálculo de benefícios/custos só com estes dois parâmetros. E não tem em conta minudências como as dificuldades adicionais que esses milhares de veículos a mais acarretam ao estacionamento em geral, também à circulação dos transportes colectivos, para não falar no acréscimo de poluição.
O que os articulistas parecem não ter percebido é que o que eles louvam é que é o problema: ao empreender o túnel, o que Santana fez foi tomar a decisão política de privilegiar a parcela de utilizadores que entra na cidade de popó.
Mas o que interessa saber de uma decisão de um presidente da Câmara é se esta foi a melhor do ponto de vista da cidade e dos seus utilizadores (os que cá trabalham e por isso passam grande parte do dia na cidade, mas, por maioria de razão, os que cá moram), e não apenas para uma parte deles. Não sei se algum oponente do túnel terá alguma vez duvidado de que este iria facilitar a vida a quem entra e sai da cidade em transporte individual. Eu cá sempre soube que isso iria acontecer; estava na cara. Para mim, Santana e o seu túnel sempre significaram um acréscimo do número de automóveis a circular na cidade. E sempre achei que seria preferível uma despesa equivalente com a melhoria dos transportes colectivos e o seu trânsito na cidade.
Mas, voltando ao artigo, cabe a pergunta: será que o Expresso pôs um título daqueles porque os jornalistas não perceberam que a razão de Santana se limita a um sector dos utentes de Lisboa, a maior parte dos quais nem sequer cá vive? A parte seguinte do artigo é esclarecedora: «Mais complexa é a realidade dentro da Lisboa. O túnel atrai trânsito e vias próximas do Marquês de Pombal têm trânsito como nunca tiveram». Vem-se depois a reconhecer que os cerca de 15.000 veículos que entram a mais todos os dias na cidade vieram complicar o trânsito no troço superior da Av. da Liberdade, no sentido descendente da Fontes Pereira de Melo e no Conde de Redondo.
O título do artigo é, pois, desmentido pelo conteúdo. O Expresso sabe muito bem que o problema de trânsito se agravou com o túnel, e escreve-o.
Dá para desconfiar das motivações de quem escreve um título que é uma descarada mentira.
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