Naquela linguagem hiperbólica que os sacerdotes adoram cultivar, o Cardeal Patriarca perguntava recentemente se "queremos resolver a 'crise' ou queremos também 'escutar' a crise?" O advérbio atrapalha, mas a antinomia é clara e parece-me infeliz e gratuita. Resolver e escutar são faces da mesma moeda.
Não sei, no entanto, se a pergunta, com subtis ressonâncias críticas, não terá sido feita para dentro da confraria. Mas sei que esta anda há séculos a fazer ouvidos moucos a esta e a todas as outras crises. Diria mesmo que vive da surdez, vive da crise.
As interrogações do prelado trazem, por sua vez, outras interrogações ao espírito. Quando diz que é necessária uma nova consciência, está implícita uma crítica à velha. Mas, lembro-me do fortíssimo contributo da confraria para velha consciência e, nesse, sentido, não posso deixar de pensar numa co-autoria da crise.
Olhando a nova ordem social que está em marcha, olhando os fenómenos globais que hoje se manifestam por todo o mundo, olhando as posições da confraria sobre as inúmeras e mais ou menos visíveis emanações de tudo isto, olhando ainda as suas ancilosadas posições sobre o percursos que o mundo hoje tenta percorrer, interrogo-me sobre a sua capacidade para "escutar" a crise e, em decorrência, sobre o verdadeiro sentido do alerta.
Esta, como outras confrarias, vive das crises e sobrevive nas crises. Por outro lado, conhecemos bem o destino que as novas consciências têm tido na história da confraria. Que sentido fará pois o apelo para escutar esta crise?
2 comentários:
Para o bem e para o mal, a Igreja lá vai sendo a almofada desta sociedade da caridadezinha. Enquanto houver pobres, está Fátima cheia...e o Cristo-Rei, já agora!
Sim, é esse o problema e é justamente esssa a razão que me leva a escrever estas linhas. A almofada é ortopédica...
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