2009/07/21

A pegada ecológica

No rescaldo das celebrações do 40º aniversário da viagem da Apolo 11 e do olhar (a maior parte das vezes, basbaque!) sobre a Lua e a "aventura" espacial", será tempo para deitar alguma água na fervura e de dizer: não se iludam! A aventura só continua se a humanidade reformular a sua maneira de pensar, aqui na Terra, e alterar radicalmente a forma de nos encararmos uns aos outros e de encarar este planeta em que vivemos.
O esforço para viajar no espaço, que me parece também a mim, inevitável e meritório, só terá sucesso em verdadeira cooperação e num quadro de partilha generalizada dos nossos comuns desígnios mais sagrados. A prova é que em resultado de estarem cada uma para seu lado, as antigas potências do espaço cederam protagonismo e margem de manobra, e a "conquista do espaço" foi empreendimento que perdeu gás. Por outro lado, se forem só as nações que são vítimas da maior pressão demográfica a procurar resolver o seu problema particular, o resultado será igualmente a derrota e a frustração. Espaço significa, em primeiro lugar, dar as mãos na Terra.
E dar as mãos na Terra significa também que se a corrida ao espaço é promovida para fugir à responsabilidade de resolver os graves problemas aqui na Terra, será de temer que a pegada futura da Humanidade na Lua venha a ser tão dramática quanto a que vamos deixando por cá. De símbolo do Amor a bidé da Terra, eis um destino possível para a Lua.
A corrida espacial voltou a povoar os sonhos de muitos. Fala-se em Marte, fala-se mesmo nas fronteiras da galáxia. O telescópio espacial Kepler da NASA pesquisa até, de forma científica, a possibilidade de existência de vida na lonjura do espaço. As maiores fantasias parecem-nos todas verosímeis. Mas, se partirmos para tudo isto com a mesma mentalidade que vamos mantendo na Terra, belicosa, egoista, e transportarmos para o espaço os vírus que nos devoram aqui, mais cedo ou mais tarde, de uma forma ou de outra, esse espaço transformar-se-á em mais uma arena de desigualdades e de injustiça social.
É esta a minha visão romântica da "aventura espacial"...

1 comentário:

Iris Restolho disse...

Sempre vi o programa espacial, como uma forma de cooperação humana, todos iguais, de mãos dadas, como um só povo à procura de novos mundos.

Quem sabe!