2009/08/27

O Homem do Golf

Exactamente, de hoje a um mês, haverá eleições. A acreditar nas pitonisas que, diariamente, povoam os principais orgãos informativos e cuja única notícia parece ser manter a "silly season" actual, o país corre o risco de ficar "ingovernável" a 27 de Setembro. Este prognóstico é baseado em projecções que mostram os principais partidos do poder em queda, enquanto os partidos à sua esquerda mantêm um crescimento sustentado. Se as sondagens não falharem desta vez, teremos o PS e o PSD com votações bem abaixo dos 40% e o PCP e o BE com votações à volta dos 10%, o que inviabilizará qualquer governo de maioria absoluta. A alternativa, poderá ser um governo minoritário que, dificilmente, tem hipóteses de chegar ao fim da legislatura. Que fazer, pois, perante tal "catástrofe"?
A solução vem hoje escarrapachada no semanário "I", pela boca de João de Deus Pinheiro: "tem de se fazer uma coligação um bocadinho como fazem os holandeses. Os holandeses demoram normalmente um mês a fazer um governo de coligação. Porque negoceiam as medidas mais contenciosas. Em Portugal temos pouco essa tradição".
É verdade. Eu próprio vivi trinta anos na Holanda e não me lembro de ter visto um governo maioritário de um só partido. Mais, as coligações demoram longos meses a constituir-se. Um verdadeiro ritual que passa pelo convite da rainha a um "informador" para convidar o partido mais votado e conseguir consensos. Quando se atinge esta fase, o informador retira-se e entra em cena um "formador" que reune os partidos (podem ser dois, três ou mais) os quais discutem exaustivamente todos os pontos de um programa comum. Quando chegam a acordo, o "formador" volta à rainha com a proposta e esta nomeia o governo na base de um programa consensual. Por exemplo, actualmente, a coligação governamental holandesa é composta pelo partido cristão-democrata (CDA) pelo partido trabalhista (PvDA) e por uma pequeno partido cristão-reformador (PR). É possível, sim, mas é bom perceber que estamos a falar de um país de longa tradição democrática, com mais de um século de parlamentarismo e onde a monarquia tem um função institucional simbólica. Um país, onde a ética não é uma palavra vã e a política não é atravessada pela promiscuidade entre a política e outros poderes, como em Portugal.
O que Deus Pinheiro propõe mais não é do que a reedição do famigerado "bloco central" ao qual ele próprio pertenceu. Percebe-se, o homem já não está em idade de chatisses e nada melhor para o "sistema" do que manter os interesses em família, neste caso as "familias" do PS e do PSD que governam e se governam há mais de trinta anos em alternância. Bem diferente do modelo holandês, como se percebe, pois na Holanda não são sempre os mesmos partidos a formar governo. Um homem distraído, o Pinheiro. Se bem me lembro, não é a primeira vez. Ficou famosa a sua "gaffe", no dia em que rebentou a 1ª guerra do Golfo e ele foi o único comissário europeu a faltar à reunião de emergência em Bruxelas, por estar a jogar "golf". O incidente valeu-lhe um fabuloso "cartoon" na imprensa internacional, onde se via um funcionário entrar no "green" para alertá-lo da guerra em curso: "Golf War! Golf War!", gritava o rapaz. Ao que Pinheiro, impassível enquanto dava uma tacada, perguntava, "Golf, what golf?".

2 comentários:

Anónimo disse...

Enhorabuena por el post, Rui, me ha encantado.

Un abrazo fadista desde Sevilla.
Rosario.

Rui Mota disse...

Un abrazo flamenco desde Lisboa...

Rui Mota