2010/02/26

L'Omertà

Os depoimentos das testemunhas convidadas para participar nesta mega-audição, em que se transformou a Comissão de Ética, corroboram grosso modo as posições já conhecidas dos principais intervenientes - jornalistas, empresários e políticos - que reafirmam (ou negam), interferências do governo em orgãos de comunicação social. Depois de prestações nada prestigiantes de jornalistas com alguma reputação, como Mário Crespo e Felícia Cabrita, o director do "Expresso", Henrique Monteiro, foi o primeiro que, de forma explícita, confirmou ter recebido um telefonema do primeiro-ministro a pressioná-lo para não publicar notícias sobre a sua licenciatura. Monteiro acrescentaria que, as pressões, existem sempre, mas são normalmente feitas à "posteriori" (como o BES ter retirado a publicidade do jornal), mas esta foi a primeira vez que a pressão foi feita antes do próprio artigo ter saído.
Já da parte dos principais visados na tentativa de compra da TVI pela PT - Vara, Penedos e Rui Soares - as declarações primaram pela unanimidade. Ou melhor, todos, sem excepção, recusaram responder a perguntas em "segredo de justiça". Um aparente contrasenso já que, diariamente, diversos orgãos da comunicação social (CM, Público, SOL, Expresso, etc.) publicam extensos excertos das conversas telefónicas tidas entre estas três personagens, sem que o seu conteúdo tenha sido desmentido. Ou seja, na "forma", eles têm razão (o segredo de justiça está a ser quebrado, o que é ilegal), ainda que os "conteúdos" sejam verdadeiros e falem por si. Compreende-se, como nos filmes, tudo o que os arguidos disserem pode ser usado contra eles. Nesses casos, vale mais prevenir do que remediar. Nada como a célebre "Lei do Silêncio".

1 comentário:

Carlos A. Augusto disse...

Sinistra, de facto, esta omertà como lhe chama o Rui Mota. Mas esta ideia vai ainda mais longe. Já ouvi por diversas vezes o primeiro-ministro, o PGR e outras figuras de Estado serem chamadas de "aldrabão" e "mentiroso", publicamente e sem que os autores de semelhantes epítetos vacilassem minimamente.
Ouvi mesmo uma das pessoas que chamou "aldrabão" ao primeiro ministro, num programa de televisão, dizer que se calhar seria preso a seguir mas que não importava.
Não só não foi preso, como não lhe foi, que se saiba, movida nenhuma acção, nem --mais importante!-- nenhuma das acusações que foi feita ao primeiro ministro foi desmentida ou contrariada. É, também aqui, a lei do silêncio que impera.
O código da omertà pode dizer que "quem quer que faça apelo à lei contra o seu semelhante é louco ou cobarde", como escreve Rick Porrelo. E no contexto da omertà, "o homem ferido dirá ao seu assaltante: se eu viver, mato-te, se eu morrer estás perdoado."
Nós é que, entretanto, olhamos para tudo isto e pasmamos, incrédulos, perante a total falência do conjunto das instituições deste Estado, guloso, que andamos, todos nós, a alimentar...