Era um Pentelho solitário e era uma vez. E veio o acordo ortográfico e não sabia por onde pegar quando deu com ele fora do rebanho, pois não é crime a solidão. Que fazer, ordenava o acordo um acto, obrigando a mudar o que estava, por obrigação. A ASAE das palavras hesitava entre pôr-lhe o I – no E de Pe - ou tirar-lhe o H - do LH. O inspector que estava diante de Pentelho era amigo do especulador Catroga mas nada dissera quando este desvalorizara o estatuto do Pentelho, mas ficara a remoer, assunto dele, melhor, seu pelouro, e ele, o Catroga remete-o para a insignificância do que é pequeno mas, além disso, irrelevante, tal como ser mais um qualquer grão de areia mesmo que de uma duna numa reserva natural, dunar.
E o Pentelho que muito queria ao E meteu cunha para que fosse o H a ir-se, pois com o L isolado, sem H contíguo, poderia enobrecer-se, não como com um DR., ao modo antigo, antes do nome – Dr. Pentelho - mas como Pentelo apenas, que soa a qualquer coisa que ascende, como se caindo o H isso reverberasse com qualquer coisa como poder vir a ser o Marquês de Pentelo – muito melhor que assessor político do Engenheiro, nobilitado muito mais do que de toga no nome pela via assessorante.
Ser marquês De Pentelo, a capital da Pentelheira – no século XIX Piolheira, no caso o nome da coisa designava o habitante da Pentelheira - cidade das pentelhas mais lindas do mundo globalizado das pentelheiras, tudo online claro, seria estar no Top social, alvo potencial das invejas sociais generalizadas de todos os que apanharam o ascensor social pela via do cargo, da sigla e das costas viradas à matriz – brenhas, vulgo - com o brasão do BCP ou do BPN ou do BPP, ou do PP ou do BPSD, ou do BPS na linha do horizonte.
Mas o Inspector da ASAE das palavras estava zangado com o modo como o Catroga tratara este vocábulo, descriminando-o, um vocábulo que apesar de tudo tem o seu charme e é de uma zona crítico/erótica, de crescimentos vários, e resolveu premiá-lo com uma excepção à regra: de ora em diante serás PenteLo com um De antes, tal como o A. Santos da Guarda cujo pai alfaiate nunca tivera um De antes do A., De A. Santos, coisa que o mesmo A. Santos, o filho do alfaiate da burguesia da Guarda, outra cidade da Pentelheira que está num ilustre alto, o mais alto dos altos, fez para ser do Estoril e ser cumprimentado pelo Duque De Cravinho na tasca dos jornais antes de ir à bica ou de suar na rotina do jogging socrático.
E o pentelho, agora De PenteLo, seguiu feliz para o seu rebanho. Isolara-se porque fora recusado pela Pentelha do lado que não o deixara encaracolar-se nela. Ela, no regresso dele, quando deu pelo De mais o L sem o H, enrolou-se nele, melhor ainda, enroscou-se nele e empentelharam-se os dois com alegria num nó cego de amor interminável, verdadeiras trepadeiras num abraço de uma reciprocidade lânguida e dinâmica, como faz falta à Crise. E é por isso que nalguns casos o acordo ortográfico aumenta as sílabas e não as diminui e foram felizes para sempre enquanto durou, protagonistas de um momento específico, caso raro de crescimento silabar, em plena Crise, justamente aquilo que dizem que só as exportações e os bens transaccionáveis podem viabilizar numa lógica globalmente alavancada.
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