2012/02/03

O frio humano

Vem aí uma vaga de frio, diz-se, e surgiram de imediato notícias que dão conta de acções de apoio aos sem-abrigo. Os sem-abrigo, sabem, aqueles que "vivem" debaixo de pontes, em pequenas reentrâncias de edifícios, em vãos de escada ou em edifícios abandonados, quando têm sorte. Embrulhados em jornais ou caixas de cartão desmanchadas, uma observação atenta revela-nos seres humanos, vivos, com braços, pernas, troncos e cabeças, tal e qual como todos os outros seres humanos, vivos.
A Protecção Civil distribui cobertores, alguns deles recusam. Uma Misericórdia não sei aonde vai "recolher" estes sem-abrigo e colocá-los num qualquer espaço mais abrigado onde possam melhor sobreviver ao frio.
Quando o frio acabar irão certamente voltar ao "domicílio" anterior. Não se sabe quando, mas, é mais que certo, mal o tempo aqueça um pouco, voltam para "casa". Não vai durar muito o direito à "protecção" e à "misercórdia".
Mal o Sol desponte transitarão da sua condição de com-abrigo em precária, de novo para a condição de sem-abrigo em solitária.
E nós vamos continuar a assobiar para o lado quando tropeçarmos num destes corpos embrulhados numa caixa de cartão no meio da rua e haverá sempre uma alma misericordiosa que, quando o mercúrio dos termómetros baixar para níveis considerados de alarme, os vai proteger civilmente para evitar o seu congelamento.

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