2012/12/10

O melhor filme do ano?



Chama-se “Amor” (Amour) e foi realizado pelo austríaco Michael Haneke. Já ganhou, só este ano,  a Palma de Ouro de Cannes e, na semana passada, o prémio do melhor filme europeu, o da melhor realização e o dos melhores actores (Jean-Louis Trintignant e Emannuelle Riva). É candidato ao Óscar para o melhor filme estrangeiro em Hollywood e...está em exibição num cinema perto de si.
Por isso, e não é pouco, se viu, já percebeu do que se trata; senão, corra a vê-lo, pois este é um filme que não pode mesmo perder. Mais, se tiver de ver apenas um filme este ano, “Amor” é a escolha certa.
Porque é que eu escrevo isto?
Bom, se calhar, porque gostei tanto do filme, que o recomendo a todos que leiam este texto. Depois, porque entre os cineastas europeus, Haneke, há muito que ocupa um lugar especial na minha galeria de cineastas-autores, aqueles que fazem o “seu” cinema, sem aderirem às modas “mainstream”.
È difícil não gostar dos filmes de Michael Haneke. Eu não me lembro de nenhum. Desde  “Benny’s vídeo”, um dos seus primeiros trabalhos, passando por “71 Fragmentos de uma Cronologia do Acaso”, “Funny Games”, “Código Desconhecido”, “A Pianista”, “Tempo do Lobo”, “Caché” (por muitos considerado a sua obra-prima) e “Laço Branco”, que venho acompanhando o seu percurso e, em todos os seus filmes, sem excepção, a redescoberta de uma faceta diferente, numa superação constante daquela que é tida como a sua visão critica e implacável das relações nas sociedades modernas. Por isso, é difícil ficar-lhe indiferente. Em todos os seus filmes, sentimos a mesma sensação de desconforto e, ao mesmo tempo, o fascínio de querer ver tudo até ao fim, pois sabemos que, no fim, sairemos recompensados. Não pelas explicações (os filmes de Haneke não são simples e muito menos apresentam soluções), mas pelo que eles nos dão a ver e de que não ousamos falar. E portanto, tudo que ele nos dá a ver, existe e está em cada um de nós.
“Amor” reconta, na sua simplicidade, a relação de um casal de idosos que se amam, na vida e na morte. Assistimos, durante mais de duas horas, à degeneração física e psíquica da personagem feminina (fabulosa Emmanuele Riva) que sofre um AVC do qual nunca mais recupera, até ao fim previsível, no qual é assistida pelo marido (comovente Trintignant). Não há uma palavra a mais num diálogo, por vezes cómico, por vezes austero, em “coupages” cirúrgicas, dentro de um apartamento em Paris, transformado pelo realizador de acordo com a sua casa paterna de Viena. Uma lição sobre o fim da vida, num filme maior que a vida. Como escrevia um critico esta semana: “É que daquela casa - e daquele filme - ninguém sai vivo”. Eu saí, também porque vos queria contar esta experiência.

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