Cavaco Silva fez exactamente o que se esperava, mas excedeu-se nas suas considerações.
Fez exactamente o que se esperava, ao indigitar Passos Coelho, líder do partido ganhador das ultimas eleições para formar governo. Pode discutir-se esta opção, mas não viola o espírito da Constituição e aceita-se do ponto de vista formal (o presidente convoca, normalmente, o líder do partido mais votado, tendo em conta a leitura que faz dos resultados eleitorais).
Excedeu-se nas suas considerações, ao criticar os partidos de esquerda (com maioria parlamentar) e sugerir que não viabilizaria um governo composto por forças políticas críticas da austeridade imposta por Bruxelas.
Com estas considerações, o presidente não só deixou de ser independente em relação às forças e aos projectos políticos em discussão - favorecendo descaradamente a força partidária (PSD) a que pertence - como criou uma crise institucional desnecessária, sabendo que um governo minoritário de direita tem os dias contados e cairá à primeira moção de confiança no Parlamento.
Perante esta situação de facto, restam apenas dois cenários possíveis:
Ou o presidente convida António Costa (líder do 2º partido mais votado) para formar governo; ou mantém um governo minoritário, em gestão corrente, sem qualquer hipótese de tomar decisões e aprovar oçamentos, provocando eleições antecipadas, que nunca poderão ter lugar antes de Junho de 2016. Ou seja, o país "pára" durante 8 meses!
Um imbróglio de todo o tamanho, provocado por um presidente teimoso, ideologicamente retrógado e destituído de qualquer autoridade moral para continuar em funções. Um personagem autoritário e salazarento, que recusa em aceitar os princípios básicos de uma democracia adulta.
Qual a surpresa?
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