2015/11/09

Acabou a Tradição

Há dias assim...
Uma pessoa acorda, meio estremunhada, com um telefonema de parabéns, para descobrir que tem mais um ano. Nada de especial, não fora esta data, para além do primeiro dia do resto da nossa vida, ser também o primeiro dia do que resta do actual governo português. Dois em um, portanto.
Porque estas coisas andam todas ligadas, justifica-se a comemoração, a qual irá decorrer ao longo desta jornada: parlamentar, primeiro; lúdica, mais tarde.
Enquanto, na Assembleia, tudo parece decorrer de acordo com a "mise-en-scene" própria do momento, lembram-me os "mercados" que a Bolsa de Lisboa caíu hoje 3%, vá lá saber-se porquê...
Porque a História não se repete, vamos poder assistir a dois dias de apresentação do programa governamental, com o mais que provável "chumbo" por parte da oposição, agora maioritária no hemiciclo. Em si, um momento normal num regime parlamentar, que só espantará quem não está habituado a estas coisas da democracia.
Assim não parecem entender alguns "velhos do Restelo", acantonados, como sempre, num discurso tradicional e bafiento, a lembrar regimes de má memória, como aquele de que nos livrámos há quarenta anos. 
Não sabemos - ninguém sabe - que futuro terá um governo diferente. Especulações à parte, avaliar desde já (positiva ou negativamente) um ciclo, que se deseja novo, será sempre um exercício necessário, mas falho de experimentação, a qual terá de ser avaliada diariamente. É este o grande desafio, porventura o maior, neste difícil período da vida portuguesa.
Nada está ganho à partida e seria naíve pensar que tudo mudará, pela simples razão que outro poderá ser o governo. Mais importante do que os governos, são os regimes que os sustentam e nada prova que  o actual regime não esteja para durar. Logo, a margem de manobra será sempre curta. Desde já, em Portugal e, não menos importante, no espaço europeu no qual estamos inseridos. É nesta dualidade que o governo do futuro terá de actuar. Da sua capacidade e coesão interna, dependerá grandemente o seu sucesso governamental.
Lembramos: no passado dia 4 de Outubro, a maioria dos eleitores votou, inequivocamente, contra o modelo de austeridade levado a cabo nos últimos quatro anos. É tempo de mudar de políticas. Essa foi a mensagem e é com base neste pressuposto que os quatro partidos da esquerda parlamentar acordaram um programa de governo alternativo. Se, como se espera, o programa do governo actual, amanhã for chumbado, é altura de dar posse a um governo que, mais do que de alternância, seja essencialmente alternativo. Até porque, a tradição já não é o que era.    

2 comentários:

Carlos A. Augusto disse...

Entretanto, o residente parece querer ouvir "um conjunto alargado de personalidades" sobre tudo isto. Está a arranjá-la bonita e a preparar-se para um lindo fim, o residente...!

Rui Mota disse...

É óbvio que o "homem", antes de indigitar outro 1º ministro, irá querer ouvir o conselho de estado e, dessa forma, adiar ad-eternum a decisão. Acontece que, algumas dessas personalidades (Jorge Miranda, Freitas do Amaral, etc.), já se pronunciaram sobre a inconstitucionalidade de um governo de gestão, caso haja uma alternativa maioritária e sustentável de governo. Vai acabar por empossar o novo governo, ainda que contrariado, penso eu...