2019/11/13

E a Espanha aqui tão perto...


As eleições espanholas, do passado domingo, trouxeram poucas surpresas relativamente às projecções avançadas ao longo dos últimos meses. No essencial, podemos dizer que o "bloco" dos partidos de "esquerda" (PSOE, Unidas-Podemos, Más País, ERC, PNV...) e o "bloco" dos partidos de "direita" (PP, Cds, VOX...) mantiveram as mesmas percentagens, ou seja, um (relativo) equilíbrio em termos parlamentares. O grande vencedor da noite, acabaria por ser o VOX (extrema-direita), que mais do que duplicou o número de deputados (52), enquanto o grande perdedor, seria o "Ciudadanos" (Liberais) com uma derrota histórica (perdeu 47 deputados), o que levou o seu líder (Albert Rivera) a demitir-se.
Estes resultados, não contribuiram para clarificar o impasse em que se encontra a política do país vizinho, já que o vencedor das eleições (PSOE) não conseguiu atingir uma maioria absoluta ou, sequer, suficientemente confortável, para poder constituir governo. Isso mesmo percebeu Sanchéz que, apesar de vencer, perdeu votos e deputados, o que deitaria por terra a estratégia gizada pelos socialistas, que pensaram poder sair reforçados destas eleições. Depois de meses de discussões estéreis, entre Sanchéz e Iglesias, sem conseguirem chegar a um acordo sobre questões como a Catalunha ou a divisão de ministérios, a ameaça do VOX (leia-se fascismo) parece ter surtido algum efeito nas suas mentes. Só assim se explica o acordo, ontem firmado, pelos dois líderes. Nesse sentido, podemos dizer que há males que vêm por bem...
Mas, ainda não estamos lá. Juntos, o PSOE e o Unidas-Podemos têm, agora, 155 deputados (120+35), o que não chega para atingir a maioria absoluta no Parlamento (176 deputados). Faltam, portanto, 21 votos. Teoricamente, os dois partidos podem governar, já que detém mais votos do que a direita junta. Acontece que, em caso de se formar uma coligação negativa no parlamento (como aconteceu em Portugal com Sócrates em 2011 ou Passos Coelho em 2015), o governo pode cair. A acontecer tal situação, o VOX seria o principal beneficiário, agora que os votos dos Ciudadanos parecem ter sido transferidos para o partido de Abascal e o PP (88 lugares), o maior partido da oposição, poder ser uma alternativa governamental.
Tudo depende da capacidade negociadora de Sanchéz, que terá de fazer concessões a outros partidos de esquerda, única forma de atingir os almejados 21 deputados de que necessita. Um bico-de-obra.
Comparando com a situação portuguesa, não deixa de ser curiosa a afirmação de António Costa, há alguns meses atrás, quando as sondagens davam ao partido socialista percentagens próximas da maioria absoluta. Em entrevista ao "Expresso", perante a pergunta se contava com o BE para governar, o primeiro-ministro português afirmou taxativamente que o BE nunca seria governo, pois a experiência, em Espanha, mostrava a instabilidade de um governo com o Unidas-Podemos.
Ele há cada uma...

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