2020/10/20

Bienal de Sevilha: Flamenco em tempos de pandemia (2)

 


Andrés Marín (Sevilha, 1969) é hoje um dos "bailaores" mais singulares do chamado flamenco experimental. Juntamente com Israel Galván, que tivemos o privilégio de ver na Bienal de 2018, Marín é um "bailaor" que não teme a inovação, ciente de que esta é a única forma de continuar a tradição. Nem todos os ortodoxos apreciarão o seu estilo, mas os amantes das coreografias ousadas esgotam os seus espectáculos e a crítica não poupa nos elogios. Imperdível, o espectáculo de Marín, que apresentava em estreia o seu último projecto, intitulado "A Vigília Perfeita".   

Lá fomos, pois, para um dos últimos espectáculos desta Bienal atípica, que teve lugar ao longo de seis semanas em salas e anfiteatros ao ar livre. Só era permitida a entrada depois da nossa temperatura ser medida por diligentes arrumadoras, que não poupavam no álcool-gel, nem nas recomendações habituais: máscara na cara durante todo o espectáculo e distância social de 2 metros, no mínimo. As cadeiras (de plástico), estavam agrupadas aos pares, o que facilitava a conversa, mas o frio cortante que fazia na Cartuja (local mítico da Expo Mundial de 1992) não animava a noite, que se previa longa.

"La Vígilia Perfecta", uma maratona de baile, foi dançada entre as 6h. da madrugada e as 9h. da noite e decorreu no Centro Andaluz de Arte Contemporânea (La Antigua Cartuja Santa Maria de las Cuevas de Sevilla) que, no passado, acolheu monges e hoje acolhe obras de arte. Desde as seis da manhã, foram encenados e dançados a solo, pequenos quadros de 8 a 10 minutos, representando as diferentes liturgias da ordem religiosa que por ali passou. Estes pequenos "sets" não tiveram a presença do público que, no entanto, podia segui-los "online". À noite, já com público presente, o "bailaor", acompanhado de 4 instrumentistas e um "cantaor", dançaria todos os quadros cronologicamente, num espectáculo que durou cerca de 75 minutos. 

Que dizer de um dos mais brilhantes dançarinos flamencos da actualidade e de um espectáculo, a todos os títulos, brilhante? Uma epifania, a confirmar tudo o que lemos e ouvimos sobre Andrés Marín, aqui excelentemente acompanhado por Alfonso Padilla (saxofone alto), Daniel Suárez (percussão) Curro Escalante (marimbas e percussão), Francisco López (sonoridades) e Cristian de Moret (cantaor) que estiveram à altura do "mestre". Um espectáculo hipnótico, recriado junto das antigas chaminés do Convento, desta vez envoltas em nevoeiro cénico, ao som do "taconear" e dos movimentos geométricos de Marín, um príncipe da dança actual. 

Ao fechar do pano, uma notícia da última hora, que só poderá encher de alegria os "aficionados" da Arte "Jonda". No decorrer do mês de Outubro, abrirá as suas portas o "Museu Camarón de La Isla" (S. Fernando de Cádiz), uma das grandes figuras do "cante" de todos os tempos. O Museu, que não substituirá a "Casa de Camarón" (esta pode continuar a ser visitada), é um investimento de vários milhões de euros, que sairão de Fundos Europeus, da Junta de Andaluzia e do "ayuntamiento" de S. Fernando, sua cidade natal. Finalmente, o nome maior da renovação do Cante Flamenco, irá ter a "casa" que merece. A Andaluzia, está de parabéns. Mais um lugar de visita obrigatória. Lá iremos.  

        

    


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