2022/01/31

Eleições: Balanço Provisório

Para além do PS, o grande vencedor da noite (com a segunda maioria absoluta da sua história), houve outros vencedores nestas eleições: os partidos de direita (Chega e Iniciativa Liberal), respectivamente o 3º e o 4º partido mais votados.

No campo oposto, os grandes perdedores da noite foram o PSD e CDS (à direita) e o Bloco de Esquerda e a CDU (à esquerda), com derrotas assinaláveis, que deixarão marcas.

Outro perdedor da noite, foi Marcelo Rebelo de Sousa, já que fica com menos margem de manobra e deixará de poder influenciar a governação, como sempre desejou. 

Também as empresas de sondagem perderam, dado que, até à véspera das eleições, davam como garantida uma disputa cerrada (com margens de erros dentro dos 3%) e nada disso se verificou.

Mal, esteve ainda a comunicação social, de uma forma geral, que levou a direita ao colo, nunca escondendo as suas preferências  político-partidárias.

Finalmente, uma nota positiva, para a mobilização dos eleitores que, em tempo de pandemia, ousaram  votar, o que contribuiu para uma abstenção inferior a 2019. 

Postas estas considerações gerais, o que nos aguarda a médio prazo?

Desde logo, um PS reforçado (117 deputados) que, a partir de hoje, poderá governar sem ter de fazer concessões aos partidos à sua esquerda ou à sua direita.

Uma esquerda (BE, CDU, Livre) reduzida a pouco mais de 10% na AR, que dificilmente poderá influenciar a governação e terá de fazer a sua "travessia do deserto", enquanto espera por melhores dias.

Uma direita (PSD, CDS) em queda livre, que deixou de ser homogénea e perdeu os seus líderes, o que obrigará a novas escolhas internas e novas estratégias.

Finalmente, uma direita populista e neoliberal (Chega e IL), que conseguiu votos suficientes, à custa dos partidos de direita em queda, para formar duas novas bancadas parlamentares.

Resumindo: ainda que a vitória do PS fosse previsível, a maioria absoluta pode ser explicada por duas razões: pelo"voto útil" ("transferência" de votos do BE e da CDU para o PS) e receio de que a "direita" pudesse obter uma maioria com os votos do "Chega". Nesse sentido, a estratégia de Costa resultou, pois "secou" os partidos à sua esquerda e afastou a direita do governo, por quatro anos. Resta aguardar pela governação, para podermos avaliar das suas intenções. O seu discurso de vencedor, foi abrangente e conciliador (não deixará de"falar" e de "ouvir" todos os partidos...), mas deve ser interpretado como uma declaração de circunstância já que ele, melhor do que ninguém, sabe não necessitar de consensos para governar. Em qualquer dos casos, este PS tenderá a aproximar-se mais de uma Europa Social-Democrata, da qual continua a necessitar enquanto houver fundos comunitários. Resta saber, como e por quem, estes fundos serão distribuídos. Conhecendo a história recente das maiorias absolutas em Portugal, não podemos descartar uma "mexicanização" de regime e o consequente aumento do clientelismo e do patrocinato, em que a sociedade portuguesa sempre foi pródiga. Estamos avisados.