2009/01/26

Assim não!

O que me escandaliza neste processo todo do Freeport não é a denúncia, nem o alarido em torno de tudo isto. O caso, a ser verdadeiro, é sério e a denúncia é um dever. O que considero absolutamente inadmissível é que sejam levantadas suspeitas gravíssimas sobre uma figura maior do Estado português e a tudo isto esteja a ser dado, por todas as partes envolvidas, um tratamento tipo Jornal do Incrível.
Todos nos lembramos do que eram os títulos desse "jornal". "Mulher desposa homem com barbatanas"! "Artista mutilado faz mural de 30 m em apneia e de olhos vendados"! "Cobra com duas cabeças dá à luz touro de lide com três patas"! A gente lia aquilo e passava à frente. Os títulos desacreditavam-se a si próprios e nem piada tinham.
Ora, observando os títulos dos jornais e as reaccções dos comentadores e do próprio primeiro ministro e governo, somos levados a pensar que neste caso Freeport estamos perante um simples jogo, sem que ninguém saiba ou queira tirar daqui as devidas ilações.
Sou o primeiro a defender o direito ao bom nome e à presunção de inocência até trânsito em julgado da condenação. Mas, das duas uma: ou tudo isto não passa de uma gigantesca manobra para desacreditar uma figura que merece um respeito especial, pelo seu estatuto e pelas funções que exerce; ou tudo isto é verdade e a figura respeitável pelas funções que exerce e pelo estatuto que tem não as pode estar a exercer em nome de todos nós e com a dignidade que o cargo exige.
O que se está a passar é gravíssimo e não iliba ninguém. Os culpados, se o são de facto, devem ser rapidamente acusados e daí devem ser extraídas todas as consequências, com carácter de absoluta prioridade. O que está em causa é demasiadamente sério para que se espere um dia que seja sem que esta matéria não esteja totalmente clarificada. E os diversos acusadores têm de ser responsabilizados pela acusação de que são autores.
Outra actuação que não seja esta é pretexto para todo o tipo de especulações e propicia uma inaceitável desresponsabilização dos culpados, de um lado ou de outro.
Uma situação que se repete em Portugal mas que urge corrigir. É o regime que o reclama.
O que se está a passar é que não é de todo admissível. Esgrimem-se argumentos, reforçam-se ou destroem-se acusações, preparam-se e executam-se operações de propaganda, como se tudo isto, a ser provadamente verdadeiro ou falso, não fosse susceptível de vir a ter a mínima consequência. Como se de um jogo se tratasse.
Resumindo: se existe a suspeita fundada de que um primeiro ministro de Portugal está envolvido num caso de corrupção como o descrito no caso Freeport, o País não pode correr o risco de ter à frente dos destinos do seu governo uma pessoa assim. Tem de haver um mecanismo que garanta rapidamente o funcionamento do Estado acima de qualquer suspeita. Pelo contrário, se esta acusação é falsa e foram levantadas contra o primeiro ministro acusações falsas, que levam a uma perturbação grave da governação, os acusadores devem ser rapidamente responsabilizados pelo prejuízo que causam à Nação.
Assim, com toda a gente a embarcar no folclore, é que não vamos a lado nenhum. Afinal isto é a sério ou é mais uma à Jornal do Incrível?

6 comentários:

Rui Mota disse...

Uma coisa é séria: Portugal há muito tempo que deixou de ser um país sério.

Carlos A. Augusto disse...

O facto de eu ter usado aqui o exemplo do Jornal do Incrível mostra que estou plenamente consciente disso Rui...
O que escrevi destina-se apenas a ser enetendido no plano retórico.

Rui Mota disse...

Eu também lia o "Incrivel"...mas continuo a gostar mais do "Monthy Python". Para mim, Portugal é um país "Monthy", sendo o Sócrates o nosso John Cleese.

Carlos A. Augusto disse...

Quanto a Portugal ser um país Monthy, concordo. Quanto ao "nosso" Cleese aí lamento, mas não concordo. Falta tudo para ser o Cleese.
Olha que o Cleese --como aliás os outros Pythons todos-- é um gajo de enorme craveira. Formado em Cambridge...
;-)

Raul Henriques disse...

O caso Freeport vai ser mais um daqueles que demoram anos e se resolve por um acordo de bastidores. Talvez com um bode expiatório que se destrói, para que tudo continue cantando e rindo.
Ou então, da crise do sistema, emergirá, qual fénix, um sistema jurídico realmente justo.
(Desculpem este meu wishfull thinking".)

Carlos A. Augusto disse...

O "wishfull thinking" de que falas aqui pode muito bem deixar de o ser, se a crise de que falas no outro post não for uma "crise" mas o canto do cisne do sistema...