2007/03/29

Campeonato Nacional da Língua Portuguesa 3

A flexão do infinitivo
O português é uma língua bastante complicada, porque tem regras e mais regras, a propósito de tudo e da nada.
Um dos assuntos mais controversos e sobre o qual não existem regras taxativas é o da flexão do infinitivo.
Para toda a malta perceber, tomemos por exemplo o verbo andar. O infinitivo impessoal não tem sujeito próprio e é o nome do verbo: andar. Quando tem sujeito próprio o infinitivo pode flexionar-se, isto é, variar consoante o sujeito: andar, andares, andar, andarmos, andardes, andarem.
Quanto à questão de se saber quando é que o infinitivo deve ou não ser flexionado, vale a pena citar a "conclusão" constante da gramática de referência do Campeonato ("Nova Gramática do Português Contemporâneo", de Celso Cunha e Lindley Cintra, página 487 da 17.ª edição):
«Como vemos, «a escolha da forma infinitiva depende de cogitarmos somente da acção ou do intuito ou necessidade de pormos em evidência o agente da acção» (Said Ali). No primeiro caso, preferiremos o INFINITIVO NÃO FLEXIONADO; no segundo, o FLEXIONADO.
Trata-se, pois, de um emprego selectivo, mais do terreno da estilística do que, propriamente, da gramática.»
Este reparo deveria pôr de sobreaviso quem elaborou os testes, pois são frequentes os casos em que são admissíveis tanto a forma flexionada como a não flexionada.
Evitar-se-iam contradições como a que acontece em relação ao 1.º texto do 2.º teste. Transcrevamos a parte do texto em questão (antes da correcção dos vocábulos aqui em análise):
«Consideravam discutível não merecerem castigo pelos crimes do passado, uma vez que estavam arrependidos. De qualquer forma, mesmo que fossem punidos, estavam decididos a nunca mais pervaricarem.»
Foi esta a correcção feita pela Comissão Técnico-Científica do Campeonato (CTC):
«Não merecer castigo em vez de não merecerem castigo. Porque o sujeito da oração infinitiva é o mesmo de «consideravam discutível», isto é, «eles». Quando assim acontece, o infinitivo é impessoal.
Prevaricarem em vez de pervaricarem.(do latim praevaricar), infringir uma norma estabelecida.»
Quer dizer, o merecerem passa a merecer, mas o prevaricarem não passa a prevaricar! Mas o que é facto, é que também neste segundo caso o sujeito da oração infinitiva é o mesmo de «estavam decididos», isto é, «eles», e aqui a CTC manteve o infinitivo flexionado, apenas emendando o erro de morfologia.
Fica bem evidente a contradição entre estas correcções. É capaz de haver duas facções na CTC. A primeira coloca mais a ênfase na acção e escolhe merecer em vez de merecerem; a segunda põe em evidência o agente da acção e escolhe prevaricarem em vez de prevaricar.

Esta questão, apesar de ter sido levantada no dia 16 deste mês, infelizmente ainda não mereceu resposta por parte da CTC.

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