2007/05/13

Rigor e vulnerabilidade

A utilização dos computadores veio revolucionar o nosso quotidiano, mas, ao mesmo tempo, veio trazer também muitos motivos de ansiedade. Eu, pelo menos, fico exasperado com o "modo de pensar" dos computadores e com algumas exigências dos seus procedimentos e detecto isso nalguns utilizadores que observo.
Há duas causas para esta reacção.
Por um lado, os computadores e respectivos softwares revelam uma total intolerância em relação aos erros e às imprecisões. Escrever "faceocultadaterra.blogspot.com" para aceder a este blogue não é, nem de perto nem de longe, o mesmo que escrever "faceoclutadaterra.blogspot.com". O erro, que para nós seria facilmente ultrapassável, constitui para um computador e para os softwares que o governam uma barreira intransponível. "Blog does not exist!" declara peremptório! Pior ainda: imaginamos que o computador e os seus softwares "aprendem" o nome mil vezes escrito e que basta escrever "face" para ele automaticamente aceder ao endereço correcto. É verdade. Mas, o endereço incorrecto também ficou guardado na "memória" da criatura e lá voltamos nós, sem apelo, ao erro, à crescente frustração e à ansiedade.
Por outro lado, este universo das redes de computadores é o das identidades secretas, dos "usernames", das "passwords", dos "perfis", das privacidades e dos códigos secretos! Sem estabelecermos um perfil, sem criarmos um username e uma password adequada, este universo está-nos completamente vedado. A imprecisão na inserção dos "usernames" e das "passwords", então essa é fatal: Access denied! Operation timed out! Connection cancelled! Contact the webmaster! Process terminated!, sentencia sem piedade...
Se pensarmos nisto como uma forma de preservar a nossa identidade neste frágil universo digital e de estarmos defendidos, a ideia parece reconfortante. Porém, todos os indícios parecem mostrar que nunca estivemos tão expostos e que nunca fomos tão vulneráveis. Todo o código é decifrável, não há passwords invioláveis e não estamos digitalmente seguros em lado nenhum. Aqui andamos todos nus. A nossa persona electrónica, o nosso íntimo digital, todos os nossos dados circulam por aí, neste grande caldeirão que é a internet, ao alcance de todos.
Não se trata de dar voz a nenhum alarmismo, daqueles que os jornais gostam muito de escarrapachar nas primeiras páginas. Nada disso! Até porque nós temos sempre, de facto, a possibilidade de criar uma identidade digital com um raio de acção curto... O que quero dizer é que existem inúmeros alçapões e corredores secretos e que, em consequência, o assédio nunca foi tão fácil (pensem, por exemplo, nas toneladas de junk mail que todos os dias recebemos, até aqui no endereço do Face...). Este assédio só é possível porque invadir os terrenos da nossa privacidade digital é, efectivamente, canja.
Por um lado, portanto, estamos presos nesta teia digital e nela temos de adoptar um comportamento rigoroso senão não somos ninguém. Por outro lado, todo o fruto deste nosso rigor anda por aí, à solta, e é de quem o apanhar...

2 comentários:

Rui Mota disse...

Felizes os que não têm computadores, que é deles o reino de Fátima!

Carlos A. Augusto disse...

Ah! Ah! Mas o reino de Fátima não dispensa computadores... Nem câmaras de vigilância porque, já se sabe, a carne é fraca!