A zona onde moro fica a cerca de 15 quilómetros de Lisboa, e a um escasso quilómetro da praia de Carcavelos. Esta zona era até há uma meia dúzia de anos quase rural. Nessa altura, havia aqui uma enorme seara e um pinhal. Um rebanho vinha pastar diariamente e da minha varanda assistia-se, frequentemente, ao nascimento dos cordeiros.
Quando o tempo começava a aquecer, por entre a aveia e, depois da ceifa, por entre o restolho, cresciam as papoilas.
Depois vieram as escavadoras, as britadeiras, as betoneiras e outras "oras" e "eiras" e num ápice fomos brindados com uma via rápida e um novo bairro que obrigou ao corte integral dos pinheiros e tapou integralmente a antiga seara. Foram vários anos de um sofrido calvário, feito de poeira, de manobras de enormes máquinas e de barulho. Não é difícil imaginar...!
As papoilas essas, pelos vistos, ficaram e despontam de novo por entre a calçada à portuguesa dos passeios entretanto construídos, como a foto mostra.
Não saberão os moradores do novo bairro o que se passava nos terrenos onde agora estão implantadas as suas casas. Não saberão que estas papoilas são velhas habitantes desta zona e teimam, de forma caprichosa e vistosa, em renascer. Mesmo por entre paralelepípedos. Não saberão que estas papoilas guardam memórias antigas.
Quem sabe se este renascimento não resultou, justamente, da vontade destas papoilas nos quererem transmitir essas memórias e, com isso, ensinar-nos uma lição...
4 comentários:
Cá para mim, essas papoilas são um embrião de uma plantação de opiácios...não tarda muito estão aí os "marines" para combater os terroristas islâmicos. Isto anda tudo ligado, é o que eu te digo!
Estas papoilas não dão para isso :-), mas se dessem os marines estão mesmo do outro lado da estrada, de facto... Nem precisavam de sair de jipe!!
Se calhar estas é que são as famosas "papoilas saltitantes"...
Vocês gozam, gozam, mas eu acho notável que uma florzinha teime em reaparecer do fundo das pedras de um passeio, depois de ser massacrada durante anos. Esta capacidade para se levantarem de novo e sobreviverem parece-me bem maior do que a de alguns humanos que conheço...
Enviar um comentário