2007/10/29

Womex sevilhana

No Outono, Sevilha parece ter mais encanto. Esta é, claro, a opinião de alguém que conhece melhor a cidade através da (sua) música e, de há dois anos a esta parte, através das músicas do resto do Mundo que por lá passam.
Acontece que a WOMEX (World Music Exhibition), a mostra mais importante do género musical, se deslocou com armas e bagagens para a capital andaluza, com quem tem um protocolo de três anos. Uma oportunidade única de provar as tendências musicais da actualidade e passar quatro noites numa cidade que dorme pouco.
Sobre a feira, muito haveria a dizer, desde os negócios entre produtores e distribuidores, às conferências sobre a indústria discográfia, a crise e as soluções para sair dela, passando pelo "networking" sempre presente nestas ocasiões.
Porque a feira é musical, era nos "showcases" que residia a nossa principal curiosidade, até por sermos parte interessada. Não saímos defraudados. Entre os mais de 40 concertos programados podíamos eleger uma boa dúzia de grandes momentos. Queremos, no entanto, destacar os "Gaiteiros de Lisboa" (únicos representantes portugueses) que deram um concertão de 45 minutos, ao nível dos melhores a que deles temos assistido; o concerto conjunto de Faiz Ali Faiz (Paquistão) e Duquende, Chicuelo e grupo (Espanha) que teve honras de abertura da feira; o extraordinário guitarista Yamandu Costa (Brasil); o virtuoso "Taksim Trio" (Turquia); o refinado duo "Tara Fuki" (República Checa); os nova-iorquinos "Balkan Beat Box"; os aclamados "Tango Bajofondo Club" (Argentina); o projecto mediterrânico "Aman, Aman" (Espanha/Grécia), os occitanos " Le Côr de La Plana" (França); o "tanguero" Melingo (Argentina) e a "Fanfara Tirana" (Albânia) a lembrar os filmes de Kosturica, sem esquecer o projecto de "Mamani Keita e & Nicolas Repac" (Mali/França) ou essa fabulosa cantora Tanya Tagaq (Canada), para citar alguns exemplos. Agora, só resta ouvir a música e esperar pelo próximo ano. Em Outubro, no Outono.

12 comentários:

formiga bargante disse...

Ó filho, Sevilha é sobretudo aquilo que tu não gostas: touradas, boa comida, tradição, flamenco a sério e, sobretudo, Fé.
O resto são esquerdilhices...

Rui Mota disse...

Ó filha, quem te disse a ti que eu não gosto de flamenco? Deixo as touradas, a fé e a comida (a comida?!) para quem gosta.
Já agora, esqueceste-te das sevilhanas. Essas sim, interessantes...

i figueiredo disse...

Vocês pensam que a coisa é fácil...gostar de flamenco sem gostar de toiros? Não há, nem pode haver! São invenções do politicamente correcto...
Olha o Picasso! E o Hemingway! E o Lorca! E o Almodovar! E, e... A festa taurina é o principio de tudo, o flamenco, as sevilhanas, o fado castiço são tudo apêndices, bons é certo, mas apêndices.Tal como a copaneira e os petiscos: faz tudo parte do mesmo.
É como dizer: eu gosto de Lisboa, mas não gosto do Tejo, ou eu gosto de bacalhau, mas não gosto de azeite. Não pode.
Vamos lá, gostar de flamenco, sim, mas é lá, não é aí nestes festivais esquerdaços e a ouvir discos em casa...enfim, está na moda, as tias gostam...de touradas é que não, coitadinho do animal! Ai as tias de Cascais...

Rui Mota disse...

Que se saiba, não existe correlação directa entre as touradas e o flamenco. As origens remotas do flamenco estão nas comunidades ciganas que chegaram à Andaluzia no século XV. Claro que há outras teses sobre a origem deste género musical (a dos cantos judios e as influências árabes, por exemplo), mas nenhuma literatura séria fala da tourada como elemento determinante na arte flamenca. Está nos livros. Citar o Picasso, o Hemingway, o Lorca, ou o Almodovar, dá jeito, mas como tese é frágil. É a mesma coisa que dizer que o Fado é do Ribatejo e só pode ser cantado por marialvas...

i figueiredo disse...

Vamos lá ver: eu não me referi à origem histórica do flamenco, como é óbvio.E, muito menos, à natureza antropológica da coisa.
O que eu digo, e reafirmo, é que, do ponto de vista da sociologia da cultura ou da hermeneutica comportamental, o flamenco e a tourada têm a mesma génese, a mesma raiz. E se falarmos da sua ontologia estética e das práticas e rituais que envolvem estas duas notáveis manifestaçõse artísticas, é impossível separá-las. O vira minhoto está ou não intimamente ligado à prática das romarias? E o passe d'oble, que relação tem com a festa taurina? Etc. , etc..
Não citei aqueles criadores artísticos apenas por dar jeito, porra! Citei, porque é verdade, porque é assim, embora, como já referi, é uma verdade politicamente pouco conveniente nos dias que correm...
Viva a fiesta, vivam as touradas, viva o flamenco, o fado e a tradição. Abaixo as tias de Cascais e os meninos verdes que dizem "coitadinhos dos animais".
Nota: se gostar de gajas (sevilhanas, sobretudo) é ser marialva, então eu sou marialva.

Rui Mota disse...

O facto do Flamenco e as touradas poderem (ou não) ter a mesma génese sociológica, não faz de um admirador da primeira arte um admirador da segunda e vice-versa.
Eu, por exemplo, gosto de Flamenco e não gosto de touradas.
Também não vejo qual possa ser a relação das "tias de Cascais" com o Flamenco. Normalmente, "elas" confundem tudo e gostam mais de "Sevilhanas" que pensam ser Flamenco. Já das touradas, e a avaliar pelas transmissões televisivas, as "tias" enchem as bancadas...
A questão não é a divisão entre Flamenco/touradas versus anti-touradas/anti-Flamenco: a divisão é entre boa e má música. Da mesma forma que há mau flamenco cantado por ciganos, também há bom flamenco cantado por "payos" (Miguel Poveda e Mayte Martin, por exemplo).
Ainda sobre os "flamencos" (aqueles que o praticam e fazem dele o seu modo de vida) não consta que tenham ganadarias de touros para serem lidados. Têm, quanto muito, cavalos e por isso eram ferradores de profissão. Também vem nos livros.
Aconselho Blas Vegas, José: "Diccionário Enciclopédico Ilustrado del Flamenco" (Cinterco, Madrid, 1988) ou, em alternativa, Leblon, Bernard: Flamenco" (Actes Sud, Paris, 1995).
Sobre as sevilhanas, habitantes da cidade do mesmo nome, estamos de acordo.

i figueiredo disse...

Eh pá, você até me faz citações enciclopédicas e tudo...não é preciso tanto, homem! Eu também conheço muito bem o Blas Vegas (ou que ele tem escrito), e isso nada invalida o que eu disse, e mantenho: há uma profunda ligação estética e sociológica entre o flamengo e o toureio apeado.
Eu não acredito que você não tenha gostado do Hable com Ella e, sobretudo, do magistral bailado da toureira com o touro, antes de ser colhida. Francamente, não acredito! Ou então, você não gosta de flamengo, só daquela coisa para turistas, espécie de mistura entre flamengo, sevilhanas e jacas...
É desta tourada, ou fiesta, que eu falo, em Manzanares, na Monumental ou na Moita, e não daquelas coisas tipo socialite, com algumas espécies de tias aos gritinhos durante as pegas, sem qualquer sentido critico sobre aquilo que vêm. Isso não é nada! Vá à Moita, vá a Sevilha, vá a Zafra ou, até, a Badajoz, e depois falamos.
O que eu também tentei dizer, é que sou, sempre, contra o politicamente correcto, contra esta coisa miserável e dominante das modas ou da moda. E agora, claramente, a tourada não está na moda, é um espectáculo objectivamente de minorias. Também me faz confusão (tal como se fez com o fado, logo a seguir ao 25 de Abril, não sei se você se recorda), tentar encostar a tourada à direita mais retrógada. Isso é mau e é perigoso.

i figueiredo disse...

Já agora, em relação àquela tal "Formiga Bargante", trata-se de um blog asqueroso, da direita mais retrógada a armar à arte contemporânea. Basta ler... um verdadeiro nojo e provocadora.

Rui Mota disse...

Penso que estamos a falar de coisas diferentes: a música chama-se Flamenco. Flamengo é o queijo.

i figueiredo disse...

Você é um bocadinho irritante e muito arrogante, caramba. Então, você acha mesmo que eu confundo flamengo com flamenco? Ou será que eu estava mesmo a falar do queijo. Pense bem...
Às tantas, era do queijo, ou do flamenco em forma de queigo, como entender.
Então você não percebeu que "flamengo" (e já a discussão ia adiantada) foi apenas a ver se você estava atento (como se diz na futebolice). E estava. Escusava era de ser tão arrogante e totalitário (ai esse eterno esquerdismo, doença infantil do snobismo...)e arrumar de vez, de forma quase policial,com a conversa.
Está a ver: é por isso que, às vezes, o tom tradicional e conservador do ambiente taurino e da fiesta é muito mais solidário e menos elitista do que esse seu individualismo urbano e quase autista, característico da miséria deste quotidiano consumista e capitalista em que (sobre)vivemos.
Por mim, depois da rábula do "flamengo", nada mais tenho a dizer sobre o que quer que seja em relação a tudo isto.
Vou agora, calmamente, ver o FCP esmagar um tal de Marselha, clube que um dia o SLB eliminou (enfim...) com um golpe de mão de um tal Vata. O FCP nunca precisou disso para ser o que é.
Como dizia Camaron "usted es pressupuesto para lo que es!".

Rui Mota disse...

Camaron dixit.

i figueiredo disse...

Vale, vale!!