2007/11/28

Descordo ortográfico

O tema anda por aí. Não sou de forma alguma perito, nem me sinto capaz de juízos sobre esta matéria com a necessária autoridade. Mas, como há, por um lado, em todo este processo questões que transcendem o problema "técnico" (se é que se lhe pode chamar assim) e, por outro lado, muitos "peritos" que tenho ouvido falar sobre esta matéria que me parecem não passar, como eu, de "peritos de bancada", aqui vão os meus dez reis de argumentação, porque eu escrevo, logo existo!
O "Acordo ortográfico", para mim, é um perfeito disparate. A existir e a tentar-se a sua implementação nunca passará de uma intenção. A língua é uma coisa viva, dinâmica e não pode ser "cristalizada" por decreto. Mesmo que uma intenção dessas tivesse sucesso, a nova realidade linguística estaria sujeita ao processo "evolucionista" natural e em breve passaria a ser outra realidade. Não creio sequer que seja assunto que nos deva preocupar porque se há um elemento de liberdade e de responsabilidade, de anarquia em estado quase puro, na vida humana esse é o que a língua nos proporciona. Ninguém me pode de facto impedir, por mais que tente, de "inventar" a língua (falada ou escrita) como quiser e cabe-me a mim (e não a qualquer burocrata com tempos livres para queimar...) decidir como hei-de articular esta minha margem de invenção, com a margem de invenção dos outros. Falada ou escrita, a língua é minha!
Este o problema essencial.
Entre os que defendem a "normalização" têm aparecido argumentos que me deixam espantado. Há um, por exemplo, que tenho ouvido também por aí da boca de gente que o diz com ar sério, sobre o prejuizo que a falta de "normalização" traz aos países lusófonos, sobretudo quando falamos de organismos internancionais que usam o português como língua de trabalho.
Que eu saiba (corrijam-me, no entanto, se estiver enganado), não existe qualquer "norma" para o inglês ou para o francês. Seria interessante saber o que resultou da tentativa de "normalizar" a grafia alemã. Lembro-me de na altura isso ter gerado enorme polémica mas não acompanhei mais o assunto. Não ouço em nenhum país anglófono ou francófono este argumento bacoco de que têm de ser produzidas diferentes versões de um mesmo documento usando as diferentes grafias adoptadas e isso custa dinheiro. E esses países costumam ser mais cuidadosos com os gastos do que os portugueses...
Aqui há uns anos lembro-me de ter lido um artigo sobre o problema da escrita chinesa e dos computadores. Em síntese, o articulista dizia que ou a China conduzia um processo de reforma profunda do seu sistema ortográfico, ou arriscava-se a passar ao lado da revolução informática. Mas, por outro lado, lembrava também o articulista, o que acontecerá à Humanidade (e não só à China) se este património incalculável desaparecer por força do cilindro normalizador?
"Acordo ortográfico"? Eis as razões do meu descordo...

2 comentários:

rui disse...

Eu já me dava por satisfeito se o meu corrector de texto fosse em Português de... Portugal!

xistosa, josé torres disse...

Logo me calhou a mim dar-lhe uma "facada".
Há uns tempos, numa postagem do "ANACRUSES", (isto só vi hoje, agora ...)deixou-me uma pista sobre uns amigos que não via há muitos ... muitos dias.
Não é que hoje, recebi um mail dum deles.
Fechei um ciclo ... não posso escrever tudo, pois certamente nem tipo romance, acabaria o que comecei há dois anos.

Agora sobre o acordo ortográfico:

Já não é do tempo em que se escrevia "restaurant", "bidon" e outros francesismos e estrangeirismos que qualquer língua assimila.
Por curiosidade, "nylon", foi a primeira palavra que se escreveu em testos, em português, com uma letra
que não existia no nosso alfabeto.

O acordo ortográfico é irreversível e tem mesmo que existir!
Depois de algo feito, todos encontram defeitos.
Veja-se o caso de "N(ó)bel" e de Nobel, de M(á)fia e Mafia.
Mas por exemplo, o peixe, "Safio", não será que tem que se crismar e passar a ser "S(á)fio"?

Neste espaço, não posso, nem devo ser xenófobo, (na ortografia), mas prezo a minha língua, que há 54 anos comecei a aprender e daí o meu, veemente protesto, nalgumas coisas.
Lembro-me dum livro de física ou outra disciplina, onde ainda vinha a palavra "phleugma", (fleuma).
Temos 10 anos para aprender brasileiro, porque é e será a língua mais falada. O português, tal como está, será só falado por nós, e mal, nestes 10 anos.
Os países dos PALOP, já não falam ou escrevem o português vernáculo.
Será um português abrasileirado.
Mas se não nos rendermos, seremos ultrapassados.
Temos que ter alguma perspicuidade para não sermos isolados.
Temos mesmo que nos rendermos aos brasileiros ... eles que têm como início da sua árvore genealógica, os genes dos portugueses que violaram as índias e indigenas daquele vasto território.
Tão esfomeados estávamos, que tivemos de "importar" escravo(a)s.
Daí a imensa coloração da população brasileira.
TEMOS ESTE TRUNFO SEMPRE!!!
Muito mais se poderia inferir do acordo, mas não adianta, fomos vencidos pelos DOUTOS da REALIDADE: