Devo antes de mais prevenir que não me revejo nos princípios da Igreja Católica e que tenho uma antipatia especial e marcada pelos seus "ministros". Feitas estas advertências ao leitor conto-lhe o que me levou a escrever este post.
Acabo de saber que os reclusos que sequestraram um padre na Cadeia de Pinheiro da Cruz em 2006 foram condenados a uma pena única de seis e dez meses de prisão. Não está aqui minimamente em causa uma apreciação do acto que levou a esta condenação, nem sequer da justiça da setença proferida. O que neste caso me choca são as declarações do padre Júlio Lemos, a vítima de todo este imbróglio. Não tenho quaisquer indícios adicionais sobre este caso, nem sobre as circunstâncias em que terá ocorrido e nada sei sobre as qualidades humanas, quer dos condenados, quer do padre Lemos, embora tenha consciência que há gente melhor e pior em todas as áreas da actividade humana e que as aparências por vezes enganam, de facto. Mas, sei o que ouvi. Apenas conheço a verdade institucional que me é transmitida pelos orgãos de informação.
E o que ouvi eu o padre Lemos dizer? Disse ele que não estava muito "preocupado com a sentença", que o mais "importante foi ter tudo acabado bem" e que "a vida é o mais importante."
Nem uma palavra de perdão...
A sentença não o preocupa. Naturalmente. E está contente por "ter tudo acabado bem"... Mas, acabou bem para quem, acabou bem como?
Uma oportunidade perdida para o padre católico Júlio Lemos mostrar que a doutrina que professa não passa de retórica oca. Se não houver alguém a dar o exemplo de incondicional perdão, se não houver alguém a mostrar à sociedade que há outras formas de nos relacionarmos uns com os outros sem ser pela pena de Talião, se não houver alguém a mostrar que há outros valores, se não houver alguém a mostrar nobreza de carácter e superioridade face às vicissitudes da vida, como poderá o ser humano alguma vez evoluir? E não é isto, antes de mais, a missão da Igreja?
Ora explique-nos lá padre Júlio Lemos: perante o seu Deus, que vida é a mais importante? A sua, ou as dos reclusos de Pinheiro da Cruz agora condenados?
7 comentários:
Ó Carlos Augusto, por amor de Deus (agora, sim, aqui bem aplicado), tanta porcaria a ensombrar as nossas vidas e você com um discurso absolutamente moralista e piedoso sobre uma história que não passa disso mesmo: uma história. Até porque, curiosamente, o referido padre, a acreditar naquilo que veio nos jornais no inicio do julgamento, pediu o perdão dos sequestradores. Mas que interessa isso quando o socratismo faz 3 anos, a palhaçada do Kosovo caminha a todo o vapor, a sinistra ministra da educação agora dedica-se a acabar com o (já muito frágil) ensino da música em Portugal,a autoritarismo de Sócrates sobe de tom, etc. , etc..
E você com um padreco qualquer...
Já agora, uma boa noticia: o Obama parece imparável!
Este blogue está aperder qualidades e, sobretudo, capacidade critica. Não o deixem também cair no fundo, porra.
Você leu mesmo o meu post...?
Com duas letras apenas se escreve a palavra má. Qual será a diferença entre uma ministra da má educação, uma má ministra da educação e uma ministra da educação má? Nenhuma: a Rodrigues consegue, apenas num todo, ser o somatório destas partes.
Já agora, alguém me explique porqê este fascinio que a Rodrigues exerce sobre uma certa direita e uma certa esquerda pós moderna e urbana (Júdice & Barreto, Seixas & Ferreira Alves, Barreto & Mónica, etc., ). Será o ar sempre sério e sofredor da mulher, a maneira salazarista como se veste ou o facto de ser socióloga? vamos a apostas?
Caro Carlos Augusto,
Eu li mesmo o seu post...
Também leio hoje no Diário de Notícias que os dois sequestradores cumpriram penas, um de 25 anos por vários crimes entre os quais homicídio, o outro de 5 anos e 7 meses por furto. Ameaçaram o padre sequestrado com faca e engenho explosivo (que "fabricaram com criatividade invulgar", segundo o juiz, N.B. dentro da prisão!).
O padre levou cervejas para o tribunal para "tentar cumprir uma promessa disparatada para celebrar a vida" com os arguidos. Numa pequena entrevista no D.N. disse que "perdoou os dois logo na altura, mas que julgamento humano é outra coisa. Agora espero que os dois encarem a vida de outra forma." Também tenciona ir visitar os condenados "quando for oportuno. Afinal vivemos momentos intensos, como conto no livro que acabei de escrever. Desde o momento que éramos desconhecidos e eu nem queria acreditar no que estava a acontecer. Até uma situação estável em que ganhei a sua confiança e amizade. Se eles pudessem tinham voltado atrás. Mas já era tarde." (D.N., 21-2-'08, pag. 11)
Como o autor deste post também (já) não tenho nada com a instituição Igreja Católica. Até deixei, há uns 25 anos, apagar o meu registo (civil) na Holanda como "Católico" (baptizado) quando descobri que a Igreja gozava benefícios fiscais por causa deste registo. A minha atitude perante os clérigos católicos é agora de uma indeferença total, no entanto considero a Igreja como instituição um perigo mortal (já viu o filme "Zeitgeist"?, blogue Anacruses de 12 de Fevereiro, entre outros). Mas enquanto o rebanho dos crentes não ganhar juizo, não há nada a fazer.
Dito isto, acho que este padre não se portou assim muito mal. Trabalhei entre 1999 e 2002 part-time como educador na Penitenciária de Lisboa, acho o relato do padre bastante fidedigno.
Escrevo este comentário porque o caro Carlos Augusto afirma neste post não ter "quaisquer indícios adicionais sobre este caso, nem sobre as circunstâncias em que terá ocorrido, nada sei sobre as qualidades humanas, quer dos condenados, quer do padre Lemos".
Quando você diz que o padre "pediu o perdão dos sequestradores" presumo que queira dizer "pediu o perdão para os sequestradores", não...?
Foi assim?
Agradeço ao Rini, com toda a sinceridade, os pontos nos ii. A última coisa que quero na vida é ser injusto. Minto: a última coisa que quero ser na vida é "moralista". Mas, pior do que "moralista" será um moralista injusto, é certo...
As correcções estão feitas e o padre Lemos, se calhar, não está habituado ao ruído dos media. Se estivesse, teria aproveitado a oportunidade de outra forma para espalhar os princípios da igreja de forma mais convincente...
Quem parece perfeitamente habituado ao modus operandi dos media é o nosso amigo iFigueiredo... Digo-o na medida em que deturpou totalmente o sentido do meu post. Vê-se que está à vontade no terreno das deturpações e a torcer os factos para o lado que mais lhe convém.
Mas, se o Face está a perder qualidades temos que convir que o iFigueiredo também não está melhor...
Escrever nesse tom enfático "tanta porcaria a ensombrar as nossas vidas" e depois ficar-se pelo "socratismo [que] faz 3 anos, a palhaçada do Kosovo [que] caminha a todo o vapor, a sinistra ministra da educação [que] agora se dedica a acabar com o (já muito frágil) ensino da música em Portugal, o autoritarismo de Sócrates [que] sobe de tom..." é curto e confuso.
A alusão a "Júdice & Barreto, Seixas & Ferreira Alves, Barreto & Mónica", por seu lado, é coisa que se percebe estar marcada por um estilo demasiado "Caras Notícias" para o meu gosto...
Falta aqui "chicha", falta muita "chicha"...!!
Não retiro uma única linha à critica que fiz ao post do Carlos Augusto. Parece-me despropositado, completamente desinformado (você é que se baseia, unicamente, no que por aí leu num qualquer jornal, não sou eu) e, insisto, moralista ev beato quanto baste. Aliás, ripostando as suas afirmações, facilmente poderia dizer que o conteúdo e o estilo do seu post está completamente em sintonia com a desgraça informativa tipo "24 horas/Correio da Mamã" Mas não vou nem me interessa ir por aí.
Acho espantoso o seu comentário "Escrever nesse tom enfático "tanta porcaria a ensombrar as nossas vidas" e depois ficar-se pelo "socratismo [que] faz 3 anos, a palhaçada do Kosovo [que] caminha a todo o vapor, a sinistra ministra da educação [que] agora se dedica a acabar com o (já muito frágil) ensino da música em Portugal, o autoritarismo de Sócrates [que] sobe de tom..." é curto e confuso". Ó homem, obviamente que é curto, ou curtíssimo, mas se vocÊ não entendeu que eram apenas exmplos, que é que eu posso fazer? Infelizmente, a "porcaria" a que me refiro é tanta, tanta, que nem 300 posts no seu blogue chegariam. Mas se quiser, pode ser um exercicio que farei com todo o gosto, apesar do tempo que tal me ocupará...
Confuso? Bom, isso já não me cabe a mim desfazer. Qualquer leitor mediano înterpreta o meu pobre discurso com a amior facilidade e clareza. É esse, aliás, o objectivo.
Quanto à alusão àquela gente, os quais são também unicamente alguns exemplos ou exemplares de entre vários outros, mantenho-a e não me parece, de todo, que faça qualquer sentido essa sua alusão foleira à "Caras Noticias", coisa que você conhecerá bem melhor do que eu (por isso digo apenas "parece-me"). A sua afirmação não deixa, no entanto, de ser mesmo foleira. Infelizmente, aquela gente, como você saberá, anda sempre muito próxima do poder (seja ele qual for) e tem tempo de antena em tudo o que é informação como mais ninguèm. Para além disso (basta ouvi-los) julgam-se a consciência ética, politica, social e cultural da nação e, mais triste ainda, há também muitos que os julgam assim e ainda lhes pagam por cima. Quem, como eu, estudou e lutou em Coimbra entre 1967 e 71 e ouvir agora o Júdice a falar como fala e do que fala, só pode ficar enojado. Você, provavelmente, nem sequer sabe do que estou a falar...
O que me parece é que você acusou o toque quando falei desta gente e da Rodrigues e que está incomodado com isso. É pena, pensava-o doutra forma, mas enganei-me.
Quanto à "chicha", é a que você quiser e quando quiser. Chicha dessa e porcaria geral são coisa que, por cá, não faltam.
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