2008/03/29

"E chamam a isto democracia"

Uma notável capacidade de síntese revela João Paulo Guerra na sua crónica de hoje do Diário Económico intitulada "Ciclo". A propósito da declaração do Primeiro Ministro que garantiu no Parlamento que a crise orçamental está "ultrapassada" e que os factores que a geraram estão "resolvidos", JPG caracteriza assim o "ciclo económico" português: "ordem para apertar o cinto, uma folga com a aproximação de eleições, cinto de novo apertado."
Assim, neste país amornado, onde o efeito do aquecimento global parece ser o de nos irmos deixando embalar, "as legislaturas têm um ano para enganar incautos e três para os espremer. E chamam a isto democracia."
Espremido e mal pago, o português só parece reagir quando alguém lhe tenta tirar o telemóvel.
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8 comentários:

Rui Mota disse...

Pior do que isso: os portugueses coleccionam telemóveis. Existem 11 milhões de telemóveis para dez milhões de habitantes! Alguém deve ter dois, porque eu não tenho nenhum...

Rini Luyks disse...

Parabéns, caro Rui! Eu também não tenho telemóvel, para desespero de muita boa gente neste país...
Um assunto que merece um post, vou pensar nisso.
Um efeito "engraçado" em Portugal é um tipo de "inversão do ónus" e consequentemente da CULPA em caso de incumprimento, por exemplo faltar a um encontro num lugar combinado na hora combinada: "Pois é, não conseguimos avisar-te, tu não tens telemóvel!"
Para não falar em riscos para a saúde física e mental: radiação das antenas de telemóvel, conduzir com telemóvel, transportes públicos transformados em praças com toda a gente aos berros ao telemóvel, etc. etc.
Até agora consigo fazer o meu trabalho com telefone fixo e e-mail permanentemente ligado, espero conseguir manter o meu fundamentalismo neste aspecto.

Rui Mota disse...

Bom exemplo. A falta de pontualidade dos portugueses em geral (há excepções) foi agravada com os telemóveis. Eu que não possuo nenhum, tento sempre chegar a horas, porque não posso ligar aos que esperam. Mas, os atrasados, têm sempre essa desculpa: se tivesses telemóvel, podiamos ter-te avisado (dizem com ar crítico).

Carlos A. Augusto disse...

Parece que descobrimos aqui uma célula de luditas!
O telemóvel também há-de chegar ao fim do "ciclo". Mas, eu estou mesmo a ver-vos a mandar sinais de fumo uns aos outros e a bater no tam-tam...

Rui Mota disse...

É mais uma célula de calvinistas (não gastam um cêntimo mal gasto...)

Rini Luyks disse...

O calvinismo dos holandeses (hoje em dia mais em relação ao aspecto económico do que religioso) é proverbial. Eu próprio já fui vítima disso, logo que cheguei a Portugal. Estive (com acordeão) num café holandês em Coimbra, "De Sjoelbak", na noite que o FC Porto se sagrou campeão europeu na final contra Bayern de Munique (Maio 1987). Fiz um negócio com a gerência, eu tocava acordeão antes e depois do jogo para criar ambiente, a seguir eles deixariam-me fazer uma volta com o chapéu para recolha das notas (ainda havia notas de 20 escudos na altura). O negócio parecia de ouro, especialmente depois do golo de calcanhar de Madjer que deu a Taça ao Porto. No entanto, logo depois do jogo o dono compatriota chamou-me: "Afinal não achamos grande ideia, a volta com o chapéu, mas se quiseres podes beber outra cerveja..."

Carlos A. Augusto disse...

"Espremido e mal pago" parece então ser característica universal...

Rini Luyks disse...

Rectificação: Madjer empatou de calcanhar, o golo da vitória foi de Juary...