2008/06/15

O Plano B

Ainda os ecos do referendo irlandês não tinham desaparecido e já os mandarins de Bruxelas vinham a terreiro "ameaçar" a Irlanda da necessidade de rever a sua posição, pois este não era o resultado desejado... Se for necessário, devem convocar outro referendo até à obtenção do almejado "sim" e, com este, o consenso europeu. O raciocínio destes "iluminados" eurocratas é simples: 800.000 votantes, não podem estragar a "festa" de 490 milhões de cidadãos!
De facto, analisado à luz destes números, o "não" irlandês representa uma percentagem ínfima dos potenciais votantes da Europa a 27. Só que, nestas contas, os eurocratas esqueceram-se de um detalhe importante: em nenhum país da União Europeia os cidadãos puderam votar o Tratado, ao contrário da Irlanda, único membro da UE onde os tratados internacionais são sujeitos a referendo. E não é que a maioria dos irlandeses votou "não"? Como conciliar esta participação democrática com os desejos autocráticos do "directório" europeu? Esta a questão e a grande lição deste resultado. Que a própria constituição europeia, de resto, aceita no seu texto oficial.
Uma insolúvel contradição, que as grandes potências europeias (França e Alemanha á cabeça) não querem reconhecer. Por um lado desejam uma Europa unida; por outro, querem construí-la à revelia dos seus cidadãos. É por estas pequenas-grandes coisas que a Noruega votou "não" à adesão, a Dinamarca votou "não" a Maastricht e a França e a Holanda, votaram "não" a Nice. Agora, foi a vez da Irlanda dizer "não" a Lisboa. Sócrates considerou o resultado uma "derrota pessoal"; o inefável Cavaco sugeriu que a Irlanda é a causadora do problema (?!) e como tal deve resolvê-lo; enquanto Durão Barroso, que tinha dito não haver Plano B, veio declarar que o Tratado está "vivo". Como não há plano B, há que "obrigar" a Irlanda a arranjar uma solução. Mesmo que esta seja contra a vontade dos seus cidadãos. Não ocorre ao "directório europeu" que o Tratado de Lisboa está hoje morto e enterrado, graças à participação democrática dos únicos europeus que puderam votar em consciência. Também por isso, obrigado Irlanda!

1 comentário:

Carlos A. Augusto disse...

É de facto absolutamente vergonhoso o que se passa com todo este processo do "Tratado de Lisboa". Adivinha-se, não uma só Europa a duas velocidades como alguns pretendem, mas duas Europas: uma dos europeus e outra com tratado, mas sem tratamento possível...