2008/09/18

Maria Keil: silenciar o acto é pior que tê-lo cometido!

Não resisto a transcrever aqui ipsis verbis uma mensagem que hoje me enviaram. Não sei quem é o autor (*), mas vale a pena divulgá-la.



Maria Keil


Esta senhora bonita é a nossa compatriota Maria Keil, artista plástica. Em 1941, via-se a si própria desta maneira...

Maria Keil (gosta que a tratem apenas por Maria) nasceu na cidade de Silves, em 1914. Partilhou a maior parte da sua vida com o arquitecto Francisco Keil do Amaral, com quem se casou, muito jovem, em 1933. De lá para cá fez milhares de coisas, sobretudo ilustrações, que se podem encontrar em revistas como a “Seara Nova”, livros para adultos e “toneladas” de livros infantis, os de Matilde Rosa Araújo, por exemplo, são em grande quantidade. Está quase a chegar aos 100 anos de idade de uma vida cheia, que nos primeiros tempos teve alguns “sobressaltos”, umas proibições de quadros aqui, uma prisão pela PIDE, ali... as coisas normais para um certo “tipo de pessoas” no tempo do fascismo.

Para esta “história”, no entanto, o que me interessa são os seus azulejos. São aos milhares, em painéis monumentais, espalhados por variadíssimos locais. Uma das maiores contribuições de Maria Keil para a azulejaria lisboeta, foi exactamente para o Metropolitano de Lisboa. Para fugir ao figurativo, que não era o desejado pelos arquitectos do Metro, a Maria Keil partiu para o apuramento das formas geométricas que conseguiram, pelo uso da cor e génio da artista, quebrar a monotonia cinzenta das galerias de cimento armado das primeiras 19, sim, dezanove estações de Metropolitano. Como o marido estava ligado aos trabalhos de arquitectura das estações e conhecendo a fatal “falta de verba” que se fazia sentir, o Metro lá teve de pagar os azulejos, em grande parte fabricados na famosa fábrica de cerâmica “Viúva Lamego”, mas o trabalho insano da criação e pintura dos painéis... ficou de borla. Exactamente! Maria Keil decidiu oferecer o seu enorme trabalho à cidade de Lisboa e ao seu “jovem” Metropolitano. Estes pormenores das estações do “Intendente” (1966) e “Restauradores” (1959), são bons exemplos.


Parêntesis: Qualquer alteração na “Gare do Oriente” do Arq. Calatrava, ou nas Torres das Amoreiras, do Arq. Tomás Taveira, só a título de exemplo, têm de ser encomendadas ao arquitecto que as fez e mesmo assim, ele pode recusar-se a alterar a sua obra original. Se os donos da obra avançarem para a alteração sem o acordo do autor, podem ter por garantido um belo processo em tribunal, que acabará numa “salgada” indemnização ao autor.

Finalmente, a história! Recentemente a Metro de Lisboa decidiu remodelar, modernizar, ampliar, etc, várias das estações mais antigas e não foram de modas. Avançaram para as paredes e sem dizer água vai, picaram-nas sem se dar ao trabalho de (antes) retirar os painéis de azulejos, ou ao incómodo de dar uma palavra que fosse à autora dos ditos. Mais tarde, depois da obra irremediavelmente destruída, alguém se encarregaria de apresentar umas desculpas esfarrapadas e “compreender” a tristeza da artista.
A parte “realmente boa” desta (já longa) história é que, ao contrário de quase todos os arquitectos, engenheiros, escultores, pintores e quem quer que seja que veja uma sua obra pública alterada ou destruída sem o seu consentimento, Maria Keil não tem direito a qualquer indemnização.
Perguntam vocês “porquê, Samuel?” e eu tão aparvalhado como vós, “Porque na Metro de Lisboa há juristas muito bons, que descobriram não ser obrigatório pedir nada, nem indemnizar a autora, de forma nenhuma... exactamente porque ela não cobrou um tostão que fosse pela sua obra!!!
Este país, por vezes consegue ser “ainda mais extraordinário” do que é o seu costume! Ou não?

(*) Já sei entretanto mais sobre a autoria deste escrito. Veio daqui e o seu autor é o Samuel.

PS - Enquanto falávamos aproveitei para elaborar uma Petição dirigida ao Metropolitano de Lisboa que está em http://www.petitiononline.com/MK2008PT aguardando a vossa eventual assinatura...



13 comentários:

Rui Mota disse...

Este país não só "consegue ser extraordinário", como é um país essencialmente ordinário. Só há uma solução para não nos tornarmos iguais aos ordinários de serviço: é abandoná-lo.

Carlos A. Augusto disse...

Lamento ter de concordar contigo. Lamento não porque não concorde contigo, mas porque tenho de concordar... à força!
Espeero que ao menos o assunto venha a ser do conhecimento da maior parte de muita gente. O silêncio ainda é pior que o acto...

Carlos A. Augusto disse...

Já agora, deixem-me só acrescentar uma palavra relativa à imprensa... tão lestos que eles são a revelar o furacão na Frøinzenland, ou o motim na prisão do estado de Cowböiansky e deixam passar uma coisa destas, ocorrida mesmo aqui à nossa porta, na capital do reino e no ano de graça de 2008...
Pelo que percebo a maior parte das pessoas desconhecia o que sucedeu!

Rini Luyks disse...

Já sei como chamar a atenção dos média para esta situação escandalosa.
Na primeira ronda do Champions League a sensação da prova foi o pequeno clube romeno CFR Cluj que bateu AS Roma fora de casa.
Cluj, campeão da Roménia, onde actuam um lote de jogadores portugueses (até agora considerados estrelas de menor magnitude)!
Cluj, capital da Transilvânia, a terra do Conde Vlad III, o Empalador (1431-1476).
Ao contrário do que se poderia pensar, em Cluj a prática do empalamento ainda existe.
No próximo dia 1 de Outubro, CFR Cluj joga em casa contra Chelsea FC.
Num outro blogue sugeri ontem a possibilidade do empalamento de Scolari, mas ele safa-se para já. Agora sugero como espectáculo mediático o empalamento dos referidos juristas do Metropolitano de Lisboa e, vá lá, porque não também o Conselho de Gerência na sua totalidade. O castigo pode começar imediatamente depois do fim do jogo Cluj-Chelsea (as estacas afiadas já estarão prontas, colocadas atrás das balizas) e durar até ao próximo encontro mediático nesse campo: Cluj-Bordéus, no dia 4 de Novembro. Parece-me um prazo razoável para os culpados/empalados reconsiderarem as suas ideias perversas.

Carlos A. Augusto disse...

Há um outro castigo, perfeitamente legítimo e perfeitamente viável. O Metropolitano devia pegar nos desenhos originais que certamente a Maria Keil conservará, ir à Viuva Lamego onde os originais foram feitos e refazer os painéis destruídos.
É plausível e é um dever moral!!!
Podemos e devemos perfeitamente exigir isso.

Rui Mota disse...

Bom, começa a gerar-se um movimento de opinião. Eu que tenho um "fraquinho" pelo Drácula, acompanho a pensamento do Rini: Empalados já!
No entanto, e porque tais práticas medievais cairam em desuso, talvez fosse bom ver se há possibilidade de apelar/subscrever um baixo-assinado com a sugestão do Carlos. Porque não reconstruir os azulejos, a partir dos desenhos originais? O ovo de Colombo.

Rini Luyks disse...

Agora fiquei com uma dúvida: parece-me que a palavra "empalação" é mais corrente que "empalamento", embora tenha visto as duas formas. Será uma questão "regional" (Portugal-Brasil)?

Rini Luyks disse...

Sem dúvida, errata: "agora SUGIRO como espectáculo mediático..."
Por favor, não sejam condescendentes com um pobre holandês, quero aprender a língua...

Carlos A. Augusto disse...

Caro Rini:
Quanto ao "sugero" e "sugiro", isso é uma gralha! Tomáramos nós que todos os portugueses escrevessem tão bem...
E uma gralha não é motivo para empalação...

Rui Mota disse...

Rini,

Um holandês que quer aprender outras línguas não é pobre.

Associação Por Boassas disse...

Caríssimos
Estou perplexo com (mais) este "atentado"... Isto é inacreditável. Esta república "dos bananas" não deixa de nos surpreender, pela negativa. O abandalhamento da arte e da cultura a que temos vindo a assistir faz com que estas coisas surjam impunes. Estou completamente de acordo com a vossa posição e já divulguei e assinei a petição.
Obrigado e até breve

Elisabete Joaquim disse...

A autora dos azulejos afirma no Expresso ser contra a petição, que acha «horrível».

http://ascausasdajulia.blogspot.com/2008/09/palavras-de-maria-keil-ao-expresso-de.html

Carlos A. Augusto disse...

Cara Elisabete Joaquim:
"Horrível, horrível" é que em Portugal ninguém leva nada a mal.
A declaração que refere já tem muitos dias. Depois disso já passou muita água debaixo das pontes.
Embora lhe possa parecer que não, eu sei ler.